tag:blogger.com,1999:blog-39982162397901034522024-02-20T10:43:50.087+00:00Faz-me um blogUm casal (Diana e João), quatro filhos (Carolina, António, e as bebés Aurora e Isaura), três gatos (Pi, Manga e Farrusca) e um cão (Cenoura).
Esta é a nossa família. Numerosa e feliz, como no prato da ementa do restaurante chinês. Agora em versão blog. É tal e qual como na canção: Quem faz um filho (e um blog), fá-lo por gosto!
[fazmeumblog@gmail.com]Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.comBlogger80125tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-2579776193826763052016-08-18T18:54:00.002+01:002016-08-18T19:11:09.127+01:00Um verão “aborrescente”<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; line-height: 20.24px; white-space: pre-wrap;">Texto original em: http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2016-08-18-Um-verao-aborrescente</span></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; line-height: 20.24px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwBuu1Traq8y4bXwa3uDH4jVzINt95aYWxMNFikQ9cHHml7-nCKq7pFwA4K2DwGCyFRcVHNZts57VVpcFqYMBDv9h4i_yCVKAwwyvFkiQUsEqXDDF-1Sg4b_nU9dvM7MqgeUvA7SEpkZnt/s1600/IMG_20160811_191306.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwBuu1Traq8y4bXwa3uDH4jVzINt95aYWxMNFikQ9cHHml7-nCKq7pFwA4K2DwGCyFRcVHNZts57VVpcFqYMBDv9h4i_yCVKAwwyvFkiQUsEqXDDF-1Sg4b_nU9dvM7MqgeUvA7SEpkZnt/s640/IMG_20160811_191306.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Será chuva? Será vento? Fui ver: era a "aborrescência"!</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Aconteceu, está a acontecer neste preciso momento.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu posso até negar a evidência, como o pior cego de que há memória, apregoar aos ventos que os trinta e muitos quase “entas” são melhores que os sôfregos e angustiantes vintes, conceder, ao espelho, que os deuses têm sido bons comigo e ainda não tenho quase rugas (nós as gordas temos essa bênção; nem tudo é mau no reino fofo do excesso de peso), esquecer que pinto o cabelo de três em três semanas para cobrir teimosos fios brancos, obrigando-me a doar a contragosto um dízimo inflexível às multinacionais de cosmética que me garantem que eu mereço, mas está a acontecer: eu estou a envelhecer. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Se não fossem as quatro crianças que trouxe ao mundo, e que crescem contra o meu desejo e a um ritmo seguramente superior ao das folhas imaginárias do calendário da agenda do meu telemóvel, até era capaz de nem dar por isso, e de descurar todos os outros (tantos) sinais exteriores e interiores da passagem do tempo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit; line-height: 1.38;">Este é o meu primeiro verão com uma “aborrescente” na segunda fila de bancos do meu carro de proporções numerosas (agradecida ao Fisco pelo desconto de 50 por cento no ISV no meu veículo romeno, mas completamente atónita com o IMI agravado com a exposição solar). </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Deve ter vindo escondida na bagageira da mala de tejadilho, juntamente com toda a parafernália das férias grandes, mas juro que não estava na lista mais ou menos trapalhona que preparei para sair de abalada para as merecidas férias. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhseQfaZTLaVec4rGECzUaKocJIZAjBwzcrJQ_aOpcaHq8zt6Q60_kv1QaK771uRJSGS4m1WTynFgaUz13PpQnjl2_oZDjocM1tsXfm7F7ZyCxoiaXnlIwKE7ROWuzoe_f47jmcQ-XzBrhl/s1600/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhseQfaZTLaVec4rGECzUaKocJIZAjBwzcrJQ_aOpcaHq8zt6Q60_kv1QaK771uRJSGS4m1WTynFgaUz13PpQnjl2_oZDjocM1tsXfm7F7ZyCxoiaXnlIwKE7ROWuzoe_f47jmcQ-XzBrhl/s640/2.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">No início do Verão chegou a Collie mimada. E depois apareceu a melan[coli]a da adolescência</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não estava à espera disto tão cedo, e muito menos no Verão: vim emparedada entre fraldas, carrinhos de bebé, malgas e trelas de cão (as férias são obviamente com TODA a família, incluindo a de quatro patas), quatro malas minimalistas de companhia aérea </span><span style="font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">low-cost </span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">com roupas para seis corpos durante três semanas (não viemos passar modelos, viemos para o campo, para a casa da “terra”), mas não contava trazer uma adolescente cheia de manias e suspiros comigo.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando engravidei aos 24 anos da minha primogénita, idealizei uma fantasia muito vívida: no futuro, que é hoje o presente, eu seria uma “irmãe”, uma tipa muito nova, muito porreira e descontraída, conivente com todos os caprichos insondáveis da piroseira cor-de-rosa do cromossoma xis. Como justa recompensa, teria o lugar incontestável de melhor amiga da minha filha, a pessoa mais especial de todo o universo e mais além, com quem ela partilharia todas as suas inquietações, dúvidas e angústias existenciais, eu seria uma espécie de alma gémea (nem menos seria exigível, a quem cresceu no meu ventre e foi parte de mim durante nove meses), para quem não há segredos, apenas confidências sobre todos os amores arrebatadores e paixonetas patéticas, e todas as primeiras vezes que estão a acontecer em </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">fast forward</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Só que nada disso aconteceu, e a realidade, essa grande sacana, pariu uma mãe igualzinha a todas as outras: cafona, irritante, implicante, castradora, tal e qual como… a minha mãe! </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Filho és, pai serás…</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9k9QsaMthq-d_Ua8fNYQdzqt7i2P9QXk5abhbfdGRv7VR3Uzd2_Go5mAkh1z3Et3dP3B-vq8nA-h5tu9PJ3-tYtlPEPqxUmvC1Xxc_zxRJLFKd3J1UF398ty7HUIB6DWwTE0CW6S9wBsW/s1600/3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9k9QsaMthq-d_Ua8fNYQdzqt7i2P9QXk5abhbfdGRv7VR3Uzd2_Go5mAkh1z3Et3dP3B-vq8nA-h5tu9PJ3-tYtlPEPqxUmvC1Xxc_zxRJLFKd3J1UF398ty7HUIB6DWwTE0CW6S9wBsW/s640/3.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Regressou temporariamente do darkside: deixa lá registar isto em JPEG!</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E eis que, quando devia andar eu a banhos e a pôr a leitura em dia, se dá o impensável, e me salta inadvertidamente a minha mãe da minha boca para fora, a todo o instante, como numa possessão demoníaca. Oiço-a distintivamente na sua altivez canalha, quando vomito frases do género: “na tua idade ainda brincava com bonecas”; “não vais assim despida para a rua”; “vai já lavar a cara – estás ridícula assim pintada”.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sou a rainha dos sermões, dos castigos, das lições de vida. Tenho, como uma adolescente esquizofrénica, certezas absolutas sobre tudo e preocupantes flutuações de humor. Quem sou eu? No que me estou a transformar? Mas afinal, quem é aqui o adolescente? </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">De repente, tenho a vida toda do avesso, e a minha querida filha, que ainda ontem nasceu, revirando também com esse evento toda a minha existência diletante, e carimbando-me à força o passaporte para a idade adulta, dá-me água pelo bico: fecha-me na cara a porta do quarto quando estou a dizer qualquer coisa que era importante, revira-me os olhos mesmo quando eu não estou em modo de ditador, e já não sou a mamã, sou a mãe. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Com esse novo estatuto, mais distante e explosivo vêm obrigações e calvários, como trocar a TSF pela RFM, e acumular sabedoria sobre as vidas pessoais e a carreira da Ariana Grande e do Charlie Puth em doses tão cavalares, que só me serão um dia proveitosas se, por um estranho acaso deste mundo louco, fosse seleccionada para um</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> quizz</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> surrealista sobre estes dois cantores pelos quais tanto suspira a minha rapariga.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNWyNXAKgV9gkK-u0rYKdDoPumuhMdsgz989ov7p1mjf3FSVTapvo8uZGGk-0uufEiJjCEdWR0JeQClwC-Q4XKbSN02HSd8rfmObVRzMrzbMXJ7hyhcwzPsk6gF_fVt74OcIE29_DZygjk/s1600/5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNWyNXAKgV9gkK-u0rYKdDoPumuhMdsgz989ov7p1mjf3FSVTapvo8uZGGk-0uufEiJjCEdWR0JeQClwC-Q4XKbSN02HSd8rfmObVRzMrzbMXJ7hyhcwzPsk6gF_fVt74OcIE29_DZygjk/s640/5.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Focus, Focus on Me, canta a Ariana Grande!</span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O primeiro filho é a maior revolução da vida de um pai. Chamo-lhe a minha “filha test-drive”, denominação que acrescentei ao meu léxico de parentalidade depois de a ouvir da sabedoria serena de uma grande amiga, também ela mãe de quatro (e somos cada vez mais, os pais de quatro: parabéns aos meus amigos Mafalda e Abílio). </span><span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Não faço ideia se estou a fazer bem ou se estou a fazer mal. Gostava de fazer diferente, mas nem isso tenho a certeza de estar a conseguir. Debato-me diariamente com a dúvida de quantos anos de psicoterapia terei de assegurar, pelos meus actos e omissões. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Agora aproveito o palco, e vou eu ao divã, se me dão licença: é que tenho saudades da minha primeira filha antes da adolescência súbita que bateu à nossa porta. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na minha memória de curto prazo (que não foi tão severamente afectada pelas quatro epidurais a que me sujeitei para os parir), ainda a tenho tão pequenina, no meu regaço, indefesa, mas integralmente protegida por mim, uma espécie de mãe amazona. Nesta dúzia de anos em que tenho o privilégio de a ter como filha, como a minha primeira filha, inchei de orgulho e admiração por um ser tão perfeito e belo, desconhecedora do que era sofrer para lá de um joelho esfolado, ou de uma palmada no rabo para sacudir o pó e repor o respeitinho e a ordem. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkyUJTG6NO_nd8M3T0em7VT9PQ1X1FKlzxKIsiKqGjPdrmnHoZNvkgkF2YZmYLukdv_C81QFW4oy3tBSGfF6PGsneEtFs1HSyeJ4MzP92mnfOcDuqtkiBipZ_E6pmdOzkelHgEdTZLyTIV/s1600/IMG_20160811_172104.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkyUJTG6NO_nd8M3T0em7VT9PQ1X1FKlzxKIsiKqGjPdrmnHoZNvkgkF2YZmYLukdv_C81QFW4oy3tBSGfF6PGsneEtFs1HSyeJ4MzP92mnfOcDuqtkiBipZ_E6pmdOzkelHgEdTZLyTIV/s640/IMG_20160811_172104.jpg" width="359" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Não há mais vestidos no guarda-roupa. E já não há numeros nas lojas de criança.</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Mas agora ela tem umas pernas muito grandes e desengonçadas, ja não veste na Zippy e muito menos concede usar um vestido, nem sequer aos domingos: o que ela quer é sapatilhas da moda e romarias à Bershka. Com alguma acne simbólica chegou também a melancolia de uma primeira infância que fica para trás a cada minuto que passa. Pelo menos já me foi concedida essa epifania: percebo que isto é brutalmente mais doloroso para ela do que para mim. O que não quer dizer que não tenha também as minhas dores de crescimento. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sei que vamos sobreviver, mas que vai haver turbulência, alta tensão e pontualmente decibéis acima do aconselhável. Birras e finca-pés. Lágrimas e rebeldia. Mas, quem sabe, um dia, chegarei perto do estereótipo idílico que sonhei: a filha da mãe, inseparáveis e cúmplices, como éramos até há tão pouco tempo. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Lembro-me agora de algo que me diziam amiúde, e que me tirava instantaneamente do sério, quando começaram as guerras da pespinetice adolescente lá por casa (ainda ontem também eu era uma adolescente rebelde), com violentas discussões com a minha mãe, ao colo da qual voltei de mansinho quando cheguei aos vinte, depois de um afastamento que quase soou a repelência durante quase meia dúzia de anos terríveis: “Vocês andam as duas às turras porque são farinha do mesmo saco: tal mãe, tal filha.”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Espero que a história também aqui se repita.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ-b3K6Z6Y7lRxPEpEW3zNvSbSlHzq66ppM28gAW7Ve6oqobT6RV4pj4dKPmCVoOp-OgmVxv0_uDIoCzlr1whugUL5gFtG44_mjrv1pueJ38Os0ZxUkLvA7DqQtOywUrQuU6VnFpK8HeuV/s1600/IMG_20160811_172034.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ-b3K6Z6Y7lRxPEpEW3zNvSbSlHzq66ppM28gAW7Ve6oqobT6RV4pj4dKPmCVoOp-OgmVxv0_uDIoCzlr1whugUL5gFtG44_mjrv1pueJ38Os0ZxUkLvA7DqQtOywUrQuU6VnFpK8HeuV/s640/IMG_20160811_172034.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mãe é mãe. Não há cá "irmães".</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: xx-small;"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="font-family: inherit; font-size: xx-small;"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por enquanto, nestes dias de férias, em que tudo é uma seca, em que a obrigamos a ouvir música de velhos (ouviu Simon & Garfunkel noutro dia, na Comercial, e concedeu que essa música de velhos era fixe – o fantasma do meu Natal passado fez-me recordar que senti o mesmo quando os meus pais me deram a ouvir o “Sound of Silence”), em que nem o facto de eu ter ido ao “Monster” com ela na Feira de São Mateus rodopiar em </span><span style="font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">loopings</span><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> assombrosos que me revolveram o estômago e me puseram na fronteira do ataque de pânico (mais um sinal óbvio de que estou a envelhecer…) foi proeza suficiente para voltar a ser a sua mãe querida e adorada, apercebo-me de que, agora, é tempo de a deixar descobrir quem ela é sem grandes intervenções, limitar-me a assistir, de forma mais ou menos passiva, em quem ela se transformará, orientando apenas de forma muito subliminar qualquer tentativa de moldar o curso dos eventos (mãe é mãe e sei que vai ser mais forte que eu – mais outra epifania). </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit; font-size: xx-small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Isso e estar preparada para aumentar o volume de cabelos brancos, nesta viagem alucinante que nos chegou nas férias do verão (era só suposto desfraldar as bebés e introduzir a cadelita recém-adoptada também no controlo dos esfíncteres).</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit; font-size: xx-small;"><br /></span></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">E, agora, boas férias! Para quem é pai e mãe (sobretudo de adolescentes), o código do trabalho devia conceder dois ou três dias de bonificação para recuperação: férias das férias! </span></div>
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-87630765702430394132016-05-24T13:37:00.000+01:002016-06-27T13:37:39.412+01:00O milagre dos irmãos - a carta que eu não escrevi<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"><b>*Texto original publicado no Jornal de Notícias de 24 de Maio</b></span><br />
<span style="font-family: "arial"; font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-HW-ApKnjw__rb15aMIgwfJS8cqE8jdQB_c1_2XZDwXAtu6u-5y2LlvCmSq-_JYChyphenhyphenxFKcEDEOOJmUa0FPMuT1l0IucaITqu8eV97PTRNaI6fyJ8Egl4twtFoYWnCSap-yUstv4GoHHhC/s1600/13325466_10208524864732672_6034797084903975047_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; line-height: 22.08px; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center; white-space: normal;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-HW-ApKnjw__rb15aMIgwfJS8cqE8jdQB_c1_2XZDwXAtu6u-5y2LlvCmSq-_JYChyphenhyphenxFKcEDEOOJmUa0FPMuT1l0IucaITqu8eV97PTRNaI6fyJ8Egl4twtFoYWnCSap-yUstv4GoHHhC/s640/13325466_10208524864732672_6034797084903975047_n.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Isaurinha, acorda: a mana está aqui!</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Gostava de ter escrito, em jovem, uma carta para mim, em adulta, à beira dos quarenta, e de </span>juntá<span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">-la assim à bola de neve de balanços, crises e dores de crescimento que aparecem por esta idade. </span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Queria ter adoptado tiques e rituais importados da América, como nos filmes e na televisão, preservando, intacta e esquecida num lugar seguro e secreto, uma cápsula do tempo, reluzente de sonhos, a abarrotar de planos, amontoando cartografias de caminhos cheios de possibilidades, mas também cheios de certezas absolutas sobre tudo e mais alguma coisa. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Gostava de ter parado um instante, de ter paralisado um instante da minha vida, e de me ter dedicado ao acto solene de escrever-me. Do presente até ao futuro, de uma estranha para outra estranha (e só a escrita tem esse poder, de inscrever um destino daqui até à eternidade).</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não o fiz. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Só posso perder-me em suposições e guardar a gargalhada que soltaria (e também um embaraço) a ler essa carta imaginada. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sei hoje que nunca poderia imaginar o que estava prestes a acontecer-me, o que a vida me tinha reservado. Nem em sonhos. Segui sem rede e na corda bamba — é sempre assim. </span></span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeJYIpEp_Cz7-7alNAyiH5iL-l8zj13T7eyKXXjpUawXPnmRtksw1Uo8En833EEh4G1Pb5CUKiGLTYZN34ohd0FwEfpJX4G1xjLJi8uZ1CSz2X9sWePEK-FSZw87ez3VvF1I3qV7n9-T9W/s1600/DSC_1597.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeJYIpEp_Cz7-7alNAyiH5iL-l8zj13T7eyKXXjpUawXPnmRtksw1Uo8En833EEh4G1Pb5CUKiGLTYZN34ohd0FwEfpJX4G1xjLJi8uZ1CSz2X9sWePEK-FSZw87ez3VvF1I3qV7n9-T9W/s640/DSC_1597.jpg" width="424" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Não há manhãs cizentas em nossa casa</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E aconteceu sem um aviso ou premonição: a vida fez de mim mãe de quatro filhos, de quatro irmãos, que crescem (rápido de mais), lado a lado, ruidosa e desarrumadamente, entre cumplicidades e rivalidades, companheirismo e invejas, gargalhadas e birras, panelinhas e queixinhas, acusações e entreajuda, drama e leveza.</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É uma montanha-russa. Mas é bonito demais. É um quadro perfeito, apesar das pinceladas aleatórias. </span><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">A tal carta que gostaria de ter escrito nunca o poderia ter pintado, nenhumas palavras conseguem descrever a fortuna de poder assistir à magia dos quatro irmãos que, partilhando algumas semelhanças entre si, são tão únicos e diferentes uns dos outros, ao ponto de, às vezes, me questionar se são realmente filhos dos mesmos pais.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Hoje, sabe-me a pouco ter apenas quatro filhos, mas em jovem, debaixo de uma carapaça de modernidade, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.6667px; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>glamour</i></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (outra vez Hollywood), e uma certa militância por uma independência feminista um tanto ou quanto bacoca, teria alvitrado que este que é o meu destino seria menor. E não poderia estar mais enganada. </span></span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga6iThQ-smujgySnUcq7CbSmnsErB7xxCbGNXMBiflTuZKwpnfZzmOXMxhNuKFg1v4OTG5tY-2DsrZrl8FGN2WW6ERwsF4c_22AkrRdFWMe9LJ0Wcw375HSue4o_zMHU-0A1Lm5P-gxlwe/s1600/11857698_10206412905495011_398863668_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga6iThQ-smujgySnUcq7CbSmnsErB7xxCbGNXMBiflTuZKwpnfZzmOXMxhNuKFg1v4OTG5tY-2DsrZrl8FGN2WW6ERwsF4c_22AkrRdFWMe9LJ0Wcw375HSue4o_zMHU-0A1Lm5P-gxlwe/s640/11857698_10206412905495011_398863668_n.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Sou feminista. E mãe de quatro.</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Hoje sei, também, que, pontualmente, ao longo da vida, temos momentos determinantes, que podem mudar o curso do futuro. Pode ser um golpe de sorte, pode ser um acaso ou uma coincidência, pode ser uma pessoa que se atravessa no nosso caminho, um estranho ou um amigo próximo que esteve sempre disponível em todas as horas, as boas e as más, pode ser uma clarividência divina, ou uma epifania vinda de dentro de nós. Assume todas as formas. Cabe-nos em poucos segundos ter a clarividência de perceber o que está a acontecer, fazer uma escolha e continuar a navegar.</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando soube que esperava o meu quarto filho, a minha preciosa Isaura, senti que o chão firme que pisava me engolia sem contemplações. Acabara de fazer uma terceira cesariana, e tinha a Aurora ainda a mamar. Regressara ao trabalho há pouco mais de dois meses, e estava de novo grávida, numa gestação de altíssimo risco, com uma mão-cheia de probabilidades de as coisas correrem muito mal.</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma mãe — acho — dá sempre o corpo às balas por um filho e o risco para a minha saúde não foi o que me paralisou. Tropecei, sem querer, para dentro de uma espiral de pânico, e teimei que a Aurora odiaria este bebé, esta irmã surpresa e milagre, que chegara sem ter sido chamada, e que lhe roubaria o colo com ela tão pequenina. </span></span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjneTtfq71qfhFNn7l-MHoTBoqNLbxrdEEAiXz2t-Lw_XNGovQcRc54bVpBYMcA6Nn8PfgoJ3UacnDX_O96mULlTZAxGhKb4TogSBrIR9VvNbHePcqnWihAb7AM_OjkO06_Ta7WiR8sHQw/s1600/13427829_10208577643652112_5818876795758248775_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjneTtfq71qfhFNn7l-MHoTBoqNLbxrdEEAiXz2t-Lw_XNGovQcRc54bVpBYMcA6Nn8PfgoJ3UacnDX_O96mULlTZAxGhKb4TogSBrIR9VvNbHePcqnWihAb7AM_OjkO06_Ta7WiR8sHQw/s640/13427829_10208577643652112_5818876795758248775_n.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dei o corpo às balas, mas tenho um escudo poderoso</td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Dramatizei (outra vez os filmes) e levei ao extremo uma angústia irracional de duas irmãs quase gémeas, inimigas e rivais desde a nascença, até que se deu o tal advento determinante que mudou o curso da minha vida: uma psicóloga do Hospital de Santa Maria foi o meu garrote e estancou a minha insanidade temporária. Disse: “Elas vão ser as melhores amigas. Para toda a vida. Este é o melhor presente que lhes vai dar, e os mais velhos vão sempre </span>protegê<span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">-las. Vai haver tanta alegria na sua casa; está na hora de parar de chorar.” </span></span></div>
<span style="font-size: 18.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Foi a 29 de Abril de 2014. A médica chama-se Sofia Coimbra e nunca mais a vi. Mas todos os dias assisto incrédula ao milagre dos irmãos, e agradeço o nosso fabuloso destino.</span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiny52IIjkTIL0S83sNx9YVH_eu0BsefcYzS40YgHJyAtkw2pihGw8OUUfVJDtqd5478ka1DUWFYCIfep76w2V3E5-KSmYgpsNBytzyMZGZS_8-dCZjlKBl3WCCZaG9qzMh04ggt38VxEVH/s1600/13427843_10208599227031683_2355720917071612907_n.jpg" imageanchor="1" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; line-height: 22.08px; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center; white-space: normal;"><img border="0" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiny52IIjkTIL0S83sNx9YVH_eu0BsefcYzS40YgHJyAtkw2pihGw8OUUfVJDtqd5478ka1DUWFYCIfep76w2V3E5-KSmYgpsNBytzyMZGZS_8-dCZjlKBl3WCCZaG9qzMh04ggt38VxEVH/s640/13427843_10208599227031683_2355720917071612907_n.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ninguém roubou o colo a ninguém. O colo da mãe não tem fim.</td></tr>
</tbody></table>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não escrevi a tal carta, mas agora redimo-me, e conto-vos como é a magia dos irmãos, subscrevendo a petição pela criação do Dia Nacional dos Irmãos.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Diana Leiria Ralha</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mãe dos irmãos Carolina, António, Aurora e Isaura</span><br />
<br />
<b>Um bem-haja ao José Ribeiro e Castro, mentor incansável para a criação do 'Dia dos Irmãos', que me deu a honra de poder integrar este projecto com o meu testemunho</b>.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQKYg1gOh9UKS8Nhf2_3-R1YBIA7kQ7dFAvT9gGM2D4Q2Jo6JSzpUMUGDhB4K2bM4mMB0WMe6E9aVNEkUSixoPujMmMr3aJzwu90yDLUYN5dzYYdFHc5-ljKOqIm5ZwqKff-0fTBkivEYE/s1600/milagre+dos+irmaos.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="516" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQKYg1gOh9UKS8Nhf2_3-R1YBIA7kQ7dFAvT9gGM2D4Q2Jo6JSzpUMUGDhB4K2bM4mMB0WMe6E9aVNEkUSixoPujMmMr3aJzwu90yDLUYN5dzYYdFHc5-ljKOqIm5ZwqKff-0fTBkivEYE/s640/milagre+dos+irmaos.JPG" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-26947407701195693892016-02-14T20:05:00.002+00:002016-06-27T13:41:27.315+01:00O quinto Orçamento do Estado ao qual vamos sobreviver...<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; line-height: 20.24px; white-space: pre-wrap;"><b><a href="http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2016-02-11-5-Orcamento-inimigo-das-familias-ao-qual-vou-sobreviver">Texto original, publicado na Bolsa de Especialistas da Revista Visão. Aqui.</a></b></span></span></div>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 14.6667px; line-height: 20.24px; white-space: pre-wrap;"><b><br /></b></span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWz2FGx6T0LH948MKb6Civu5efqj4ajdp7yjww888dH96FnDq1hB0_KGZ4Ppfi3XAjJXBjNqQ7qXrw2Aq0Hm97GjPQjWHmFacr_DnXHv93D9l8wSc7YffQzbxJjdgT4d4A2wD7oVxmntuQ/s1600/12719384_10207511695603467_5256753585228947433_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWz2FGx6T0LH948MKb6Civu5efqj4ajdp7yjww888dH96FnDq1hB0_KGZ4Ppfi3XAjJXBjNqQ7qXrw2Aq0Hm97GjPQjWHmFacr_DnXHv93D9l8wSc7YffQzbxJjdgT4d4A2wD7oVxmntuQ/s640/12719384_10207511695603467_5256753585228947433_o.jpg" width="426" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">IRS, IMT, IMI, IVA, ISP, IS: é a lócura!!! Mas ninguém taxa o amor multiplicado por seis cá de casa. Foto: <a href="http://www.magma.pt/">Pau Storch</a></td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Dupliquei o tamanho da minha família — passando de dois para quatro filhos — durante a estadia da </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">troika</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> em Portugal. </span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No dia em que soube que estava grávida pela terceira vez, da minha filha Aurora (que ganhou este nome porque o futuro parecia sombrio, sem ponta de luz ao fundo do túnel no qual estava encurralada toda uma Nação), Pedro Passos Coelho anunciava, em conferência de imprensa, o aumento da TSU par</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">a os trabalhadores, para poder baixá-la para os patrões. Está inscrito no livro do bebé da minha filha: “Chorei a noite toda com medo do devir.” </span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A medida não vingou — milhares de portugueses foram para a rua protestar e, da nossa parte, até o cão vira-latas que resgatámos do abrigo desfilou —, mas o clima de inquietação manteve-se, vindo depois a confirmar-se o pior, com o “enorme aumento de impostos” de Vítor Gaspar, que nos pôs a todos a receber subsídio de férias e de Natal em duodécimos, mascarando assim o facto cristalino de que acabáramos de ter confiscados mais de dois salários, em impostos directos e indirectos. </span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Esta artimanha foi prática recorrente do anterior Governo: atirava-se para a praça pública ou para os </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">media</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, em jeito de fuga de informação, uma medida estapafúrdia, para, depois, face ao clamor generalizado, se recuar ligeirissimamente, fazendo passar uma solução em tudo semelhante no seu impacto para os portugueses. A TSU e a sobretaxa de IRS abriram apenas quatro anos de hostilidades às quais os portugueses foram sujeitos..</span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Foi então ao nosso terceiro filho que tudo mudou — entrámos lá em casa em modo de sobrevivência. Primeiro chorei, aflita (permiti-me essa fraqueza momentânea) e, depois, enfrentei o touro pelos cornos. Não podia ser de outra forma.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhozuIP9-k1U2MeLD9-YfY8txnTgBe8LoZOcEjztwkbpr43m1xgKI2r9gIw2y36Ebx5aO3saIMEF0_dyMkYyTzVF6bHFKQuVv8QGYZxBuR2NQG5tzjYyu7KNjlKYLEat4Ny_2utiTvySwbO/s1600/IMG_9318.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhozuIP9-k1U2MeLD9-YfY8txnTgBe8LoZOcEjztwkbpr43m1xgKI2r9gIw2y36Ebx5aO3saIMEF0_dyMkYyTzVF6bHFKQuVv8QGYZxBuR2NQG5tzjYyu7KNjlKYLEat4Ny_2utiTvySwbO/s640/IMG_9318.jpg" width="640" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;">Filha da Troika? Por aqui enfrentou-se a austeridade pelos cornos! FOTO: Pau Storch</span></td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não cheguei a vender o ouro das avós, nas lojas de penhores que abriram nesse ano, a cada esquina (e que depois desapareceram como magia, quando já não havia mais anéis), mas recorri várias vezes ao OLX para vender uma série de parafernálias inúteis que tinha cá por casa, para compensar o défice estrutural que me foi imposto pelo Governo, com a sua dose cavalar de austeridade. Também comprei muita coisa que me fazia falta ao desbarato naquele </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">site</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. E desmultipliquei-me em canais de Facebook de trocas, cupões e outras dicas de poupança.</span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Foi pelas minhas ausências prolongadas do café e da mercearia do bairro que vi pequenos negócios de família fecharem as suas portas, engrossando as estatísticas do desemprego. Por oposição, engrossei os lucros das grandes cadeias de distribuição, com as suas promoções imperdíveis de fraldas, de leite, do básico dos básicos. Essas cadeias, por sua vez, fizeram repercutir todos os 50 por cento em cartão de que usufruí nos produtores e fornecedores, na grande maioria das vezes esmagando-os. Também me passaram a cobrar os sacos e a impedir-me de pagar com cartão em compras inferiores a vinte euros.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os meus filhos deixaram de ter pediatra privado — regressei ao serviço nacional de saúde, do qual me tinha afastado escudada por um seguro de saúde privado pago pela entidade empregadora, mas deixou de haver pão para as franquias altíssimas do mesmo. Encontrei uma equipa inexcedível — e também ela ceifada por cortes cegos — na Unidade de Saúde Familiar do Parque, em Lisboa, que devia ser notícia e exemplo da excelência nos cuidados de saúde primários em Portugal. Ali apercebi-me do verdadeiro significado do “médico de família”, pelo qual estou grata.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYiTaVvFHmjIb4-wVgUbiqLLRA9XCxn_dSWMFEDfgm65M52Hatp07KRjSesKXutcwGQsEkZYj_BDrU1MwgKLg2xa7RwcRRBuHiPpEhTed1xulVcWWFdYvO4GpMLSTAW1oEv5pOWYlqJx72/s1600/IMG_9308.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYiTaVvFHmjIb4-wVgUbiqLLRA9XCxn_dSWMFEDfgm65M52Hatp07KRjSesKXutcwGQsEkZYj_BDrU1MwgKLg2xa7RwcRRBuHiPpEhTed1xulVcWWFdYvO4GpMLSTAW1oEv5pOWYlqJx72/s640/IMG_9308.jpg" width="426" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;">A minha mãe faz pelo menos três coisas impossíveis até ao pequeno-almoço. Esticar o orçamento e estas pinturas catitas incluídas. OTO: Pau Storch</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A mais velha foi para a escola pública, intervencionada pelos milhões sem fim da Parque Escolar e, para além dos quadros interactivos e instalações luxuosas a lembrar um colégio privado, nunca teve professores por colocar, apesar de ter tido alguns das AECs dos tempos livres, pagos abaixo dos três euros à hora e a recibos verdes. Não obstante, numa interrupção lectiva da Páscoa, foi sugerida uma visita de estudo a Londres de uma semana, com o valor estimado de mil euros — dois salários mínimos nacionais. Outras realidades…</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Fui também salva por uma notável IPSS, localizada há mais de cem anos num multicultural bairro de Lisboa, que garantiu resposta social para os meus filhos mais novos. A mensalidade de três creches equivale a uma renda de um T1 em Lisboa, sendo apenas suportável porque a avó desta família ofereceu uma casa sua, que ficou vaga pela Lei das Rendas, prescindindo desse rendimento para si. Se não fossem os avós deste país, não sei o que seria da minha geração…</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando, ao terceiro filho, entrámos, modesta e timidamente, no lote das famílias numerosas, decidi, sem grande fé, submeter os papéis na segurança social para o abono de família. Tenho a cronologia de todas as maldades dos sucessivos Governos constitucionais bem guardada, para memória futura. Devemos a José Sócrates, e ao seu PEC III, o roubo do abono de família a milhares de crianças. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Para minha surpresa, ao terceiro filho, passei de imediato para o segundo escalão da segurança social. Queria isto dizer que estava oficialmente pobre, porque, em Portugal, só os pobres têm direito a abono de família, uma coisa verdadeiramente inexplicável e insólita num país com um Inverno demográfico de proporções glaciares, e sem oferta universal de cuidados na primeira infância (creches e berçários).</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMuDL7rrxUOg_r2GBRZol6E9elDn3rm2himt-Nv7QmTQSltDGeOwYADpkHzdDfZ7tOAUYRxHswGVYhkPBO6MU8TrP7GfOZpubicO9ekNEzSfjhGQhC9-uwzu5ap9B1T4vWmjMXoQwczfXK/s1600/IMG_9305.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMuDL7rrxUOg_r2GBRZol6E9elDn3rm2himt-Nv7QmTQSltDGeOwYADpkHzdDfZ7tOAUYRxHswGVYhkPBO6MU8TrP7GfOZpubicO9ekNEzSfjhGQhC9-uwzu5ap9B1T4vWmjMXoQwczfXK/s640/IMG_9305.jpg" width="426" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;">Cortes, impostos, taxas e taxinhas: Cortem-lhes a cabeça! Foto: Pau Storch</span></td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: inherit; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">O quarto filho veio de surpresa um ano depois. Num acto de fé, agarrámo-nos ao provérbio que diz que “atrás de um filho vem o pão”. É certo que nunca mais houve contas de somar: apenas subtracções e divisões passaram a constar no meu léxico familiar. Nada nos faltou, porém: a economia do terceiro filho adensa-se ao quarto, e creio que seja assim a cada filho que a vida nos traz a mais dos nossos planos iniciais.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Passei a dominar com mestria todas as burocracias e caminhos labirínticos dos diversos serviços públicos — escolas, hospitais, segurança social, finanças e o que mais tiver de ser — e, tal e qual um douto catedrático da escola da vida, dou explicações à maioria dos meus amigos (e agora aqui nesta oportunidade que a Visão me deu), que têm uma iliteracia dos seus direitos e obrigações fiscais e laborais idêntica à minha antes de ter estes filhos todos. </span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">SASE, IRS, IMI, IVA, IUC, IS, TSU: tantas siglas que passaram a fazer parte da minha vida!</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A apresentação do Orçamento do Estado passou a ser, por força das circunstâncias, um momento-chave da nossa família: analisamo-lo pela lupa dos </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">media</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, ao detalhe, e tentamos prever o seu impacto nas nossas vidas no ano que se seguirá. </span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O ano passado, a novidade era o quociente familiar. Ouvi: “Ah, agora é que vais receber dinheiro à grande do Fisco!” Os jornais não explicam as coisas como deve ser, e as pessoas acham que o Estado, o Fisco ou a segurança social dão o que quer que seja (roupa, livros, despensa cheia) a uma família com muitos filhos. E apesar de ter só quatro, a estatística revela-me que tenho mais do triplo dos filhos da média portuguesa, portanto: tenho muitos filhos.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O quociente familiar era-nos indiferente; para ter algum impacto, seria imprescindível que os salários da minha família não estivessem ao nível de há uma década. O meu agregado, tal como a esmagadora maioria dos agregados portugueses, com salários a rondar entre os 530 euros do salário mínimo (que não é alvo de qualquer desconto de IRS) e os 800 euros do salário médio, não faz grandes retenções em sede de IRS. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMvJCRh6cI0N_EQjAJ2xv_xK3yQgLgOaX6F6Ys2C8DzH40h-EwU8ROdV1t0G9jBqSxeEBQJJUgqcKeebUVP39AsFoYKLR3bpNTAyIn4lUX5BFocIg4W1tGIwMx1NdWPnK5GJ3I4p-UEaQ5/s1600/IMG_9340.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMvJCRh6cI0N_EQjAJ2xv_xK3yQgLgOaX6F6Ys2C8DzH40h-EwU8ROdV1t0G9jBqSxeEBQJJUgqcKeebUVP39AsFoYKLR3bpNTAyIn4lUX5BFocIg4W1tGIwMx1NdWPnK5GJ3I4p-UEaQ5/s640/IMG_9340.jpg" width="640" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;">Eu fui a filha do tempo em que vivíamos acima das nossas possibilidades. Foto : Pau Storch</span></td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ou seja, tudo o que descontamos/emprestamos ao Estado é devolvido no santificado reembolso de IRS, que é guardado para Setembro, para enfrentarmos sem angústias o famigerado início das aulas, e depois o que ainda resta aplica-se para o Natal (e para os aniversários dos três filhos que nasceram no mês do menino Jesus, fazendo cá em casa de Dezembro o mês da Natalidade), sobrando ainda qualquer coisita para pagar a revisão do (auto)carro de sete lugares e onze anos de vida.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Este ano caem os exames nacionais que a minha filha mais velha teve de fazer, e desaparece também o quociente familiar. Entra, em seu lugar, a dedução de 550 euros por filho. Passa a ideia de que o Estado me vai entregar 550 euros por cada filho. Dizem-me: “Este ano vais de férias!” Mais uma vez, propaganda enganosa, e totalmente indiferente ou marginal para quem tem salários baixos. De classe média-baixa.</span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os filhos dos ricos valem sempre mais do que os filhos dos pobres. No quociente familiar valiam mais. Com esta medida valemos todos menos. Essa é a grande diferença entre as duas formas de cálculo. Maior justiça social?</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Diz-me a imprensa — que por vezes é brutalmente contraditória nas análises efectuadas de título para título — que um português sem filhos e com rendimentos mensais de 1000 euros (essa fortuna!) pagará menos IRS do que um português com o mesmíssimo rendimento mas tendo um descendente a cargo. Por outro lado, pela voz da Associação das Famílias Numerosas, que, de acordo com esta nova medida do Governo que fez convergir todas as esquerdas, todos os rendimentos mensais superiores a 690 euros sofrerão um aumento real do imposto com a aplicação das deduções anunciadas de 550 euros por descendente.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Más notícias, não é? </span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na imprensa nunca encontro simulações com mais de dois filhos a cargo; fico sem saber que impacto terá a medida… Sei que tenho de acrescentar ao histórico aumento de impostos de que se fala o aumento do ISP — mais uma sigla catita que vai encarecer tudo o que nos rodeia e não só o depósito do automóvel — e umas taxas e taxinhas na utilização dos cartões de pagamento electrónicos que se repercutirá sabemos nós bem em quem.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não tenho ambições políticas, também não sou de esquerda, mas posso partilhar algumas dicas preciosas de multiplicação de um orçamento espartilhado e sujeito a cortes erráticos aos quais sou totalmente alheia. Já o faço para amigos, posso dar uma perninha ao primeiro-ministro, ao ministro das Finanças, ou ao secretário de Estado das Finanças. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A reposição do abono de família para TODAS as crianças portuguesas era um primeiro sinal de que tínhamos entrado num novo ciclo político, com políticas sérias de apoio às famílias e à natalidade. Com um valor máximo de 36,42 euros por mês (tabela de Fevereiro de 2016), um filho não chega a valer 437 euros anuais para o Estado — muito abaixo do falso valor anunciado. </span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O IRS negativo, do qual o PS andou a falar no final do ano passado e que não se viu plasmado no Orçamento, seria uma medida muito útil, bem mais útil que as 35 horas — acabavam-se os empréstimos sem juros ao Estado.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas isto digo eu, que sou uma das afortunadas desta crise. Sou da geração marmita, da geração dos sonhos adiados, de famílias reunidas ao serão pelo Skype, dos milhares de casas entregues ao banco, de penhoras selvagens aos salários por falta de pagamento de portagens de estradas concessionadas a lucrativas empresas privadas.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 14.6667px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas fiz as minhas contas este ano e elas batem novamente certo: dupliquei o número de filhos durante a intervenção da </span><span style="font-size: 14.6667px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">troika</span><span style="font-size: 14.6667px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> em Portugal. Faço este caminho orçamental de 2016 com o meu marido e com os meus quatro filhos ao lado, e posso dizer, com confiança: este é o quinto orçamento de Estado inimigo das Famílias ao qual vou sobreviver.</span></span>Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-6683790772339843072016-01-21T14:08:00.001+00:002016-01-21T14:08:23.254+00:00Ano novo...<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje_V8tPx9bi3K9GyQjqbHvSPbwduJ6YNWbX-RvpER6krCrek-7m3jD5RMEdM3E0my47J_foPANEyh-o3MN9QVQqY-9tSw_eOQy276kARePfREXJ3oNSvUbMmbD4b6z28JqXG_1KIrBXvHq/s1600/InstagramCapture_20d145f4-7e76-4eef-abcc-5d07c3e32454.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje_V8tPx9bi3K9GyQjqbHvSPbwduJ6YNWbX-RvpER6krCrek-7m3jD5RMEdM3E0my47J_foPANEyh-o3MN9QVQqY-9tSw_eOQy276kARePfREXJ3oNSvUbMmbD4b6z28JqXG_1KIrBXvHq/s640/InstagramCapture_20d145f4-7e76-4eef-abcc-5d07c3e32454.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quero a vida sempre assim.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
... e não quero vida nova.<br />
<br />
Está tudo bem e se eu pudesse, se eu mandasse, queria a vida sempre assim: com tanto amor (como se ele tivesse encontrado finalmente a sua casa), com tanta tragédia (sempre a farejar), com uma paz que me faz dormir quase todos os dias sem sonhos, com ansiedades várias que escondo o melhor que posso a ranger os dentes, ou no tique nervoso de beliscar o anelar direito com o polegar, com tanta sorte, uma coisa de milagre de bênção divina, com tanto azar, tantos desencontros, tantas vidas estupidamente interrompidas.<br />
A vida a acontecer no seu curso absolutamente implacável - um dia após o outro, de forma tão rápida que é quase ridículo escrever uma mensagem de ano novo ao dia 21 do primeiro mês. Mas eu não quero uma vida nova.<br />
<br />
"Num instante tudo muda."<br />
Para o bem e para o mal. Seja dia 1 de Janeiro ou de 31 de Dezembro.<br />
"Num instante tudo muda" é a primeira entrada da minha agenda, em 2016 (e já ninguém oferece agendas a ninguém; antigamente tínhamos a secretária em Janeiro cheia delas e com dezenas de cartões de Boas Festas para responder), uma espécie de lembrete, de tatuagem na primeira página e na primeira das 52 semanas que vou enfrentar.<br />
<br />Os últimos minutos de 2015 passei-os ao telefone com um amigo que o tempo e a distância afastaram. Achámos nós os dois que o tempo e a distância tinham feito isso. Enganámo-nos: os verdadeiros amigos interrompem a continuidade espacio-temporal, paralisam momentos, fazem <i>rewind</i> ou <i>fast forward</i> conforme é preciso e todas as vezes que for preciso.<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiknjb5khu_JiGxqBYp93acG_wBqYY-T5PEGqeCxDOlJ5U-Hksr8rCr9bhgVl9YfQNkJUdkQUOR_VnawHDcmg9rhPk5YC5d2kNLudCfANzGEQCIxyTc4AgDDqOVFCCRQzYiPOm9jlmBtvhp/s1600/WP_20160112_033+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiknjb5khu_JiGxqBYp93acG_wBqYY-T5PEGqeCxDOlJ5U-Hksr8rCr9bhgVl9YfQNkJUdkQUOR_VnawHDcmg9rhPk5YC5d2kNLudCfANzGEQCIxyTc4AgDDqOVFCCRQzYiPOm9jlmBtvhp/s640/WP_20160112_033+%25282%2529.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Os amigos interrompem a continuidado do espaço e do tempo<br /></td></tr>
</tbody></table>
Estava um céu muito bonito, a Sul, naquela última noite do ano, cheio de estrelas. Eu disse ao meu amigo, pedindo-lhe para não se recriminar por não me ter procurado em momentos de maior aflição, e assegurando-lhe isto: "Eu sei quem tu és; eu conheço o teu direito; posso lidar com o teu avesso. Posso sempre lidar com o teu avesso."<br />
<br />
Aquela conversa foi talvez das melhores coisas de 2015.<br />
Fez-me fechar a porta a 2015 com e em paz.<br />
Não fiz resoluções, não contei doze M&Ms ou doze pinhões (a minha versão para as terríveis sultanas), bastou-me o bom augúrio de dois velhos e bons amigos e uma ligação de telefone que só se extinguiu pelo frenesi anunciado das doze badaladas e pelos miúdos a ensaiarem a orquestra de tachos e testos.<br />
Enquanto isso, nessas últimas horas do ano, a Isaura descobria os ares do Algarve e ensaiava os seus primeiros passos, a medo e com um entusiasmo que lhe fazia brilhar o rosto todo. Esta minha filha sorri com os olhos, com toda a cara, estremece-lhe a felicidade nas feições.<br />
No dia seguinte, como se tivesse nascido com aquele dote, como se o tivesse feito desde sempre, a minha filha mais nova começou a andar.<br />
Passos seguros.<br />
Na semana seguinte, deixou de mamar. Sem aviso, mas sem angústias, sem qualquer tipo de inquietação de parte a parte. Um pouco mais tarde que os irmãos, que deixaram matematicamente de mamar ao ano certinho, a Isaura decidiu que a posição bípede lhe abria uma nova vida fora do colo e da protecção da mãe.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguea-kL3e_TJGoWUcz5YGEwlV3Vj0OxO4tYlu-4eB9aKLZPaDRlan5G4tGFt1KMvkU4xYBTNZkUs0DcaZbdhx9kgdZy1BB-jS4hDYGwZIIE3MXPnYmp9gDbCOdz8QYYrURb82_9_hrEmTc/s1600/WP_20160113_005+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguea-kL3e_TJGoWUcz5YGEwlV3Vj0OxO4tYlu-4eB9aKLZPaDRlan5G4tGFt1KMvkU4xYBTNZkUs0DcaZbdhx9kgdZy1BB-jS4hDYGwZIIE3MXPnYmp9gDbCOdz8QYYrURb82_9_hrEmTc/s640/WP_20160113_005+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Em 1972, o meu avô Oliveira madnou pelo correio 'O Meu Menino", da Bertrand, à sua filha, minha mãe. A edição é de 1950 e faz arrepiar com tanto disparate junto sobre gravidez e maternidade. No capítulo 'O desmame' a coisa safa-se.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
A profecia cumpre-se, logo em Janeiro, sem contemplações: num instante tudo muda.<br />
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-26599236167319101752015-12-30T15:48:00.002+00:002016-02-14T20:33:54.532+00:00O(s) meu(s) segundo(s) filho(s) <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVOBP5VBEg4Z1OSaWOEqMe8lFsPVdY_B072p4SwSr6Ck1lGHlh006HQ8tSho5Yg1yfWDU506KNxK3mseqmrQH3JiMu0RbLTLY8bMh6SjU5w12iIC1RBVDJTEkd1KwZE8ZWnOJMh_XKwySh/s1600/L1100826.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVOBP5VBEg4Z1OSaWOEqMe8lFsPVdY_B072p4SwSr6Ck1lGHlh006HQ8tSho5Yg1yfWDU506KNxK3mseqmrQH3JiMu0RbLTLY8bMh6SjU5w12iIC1RBVDJTEkd1KwZE8ZWnOJMh_XKwySh/s640/L1100826.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Amanhecer de dia 20 de Dezembro de 2008. Voltei a sorrir. Larguei o luto.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">No outro dia o António fez sete anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O meu segundo filho, o meu único rapaz, é um anjo: vê-se de longe a sua
aura, mas de perto desmascaram-no os filamentos de ouro fino das longas
pestanas encaracoladas, que fazem brilhar ainda mais uns olhos que sorriem
sempre. A pele muito branca e pálida, quase transparente, e a maneira
desconcertante como espalha alegria e paz por onde quer que passe, denunciam
que um querubim se fez menino nesta vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O meu menino é um anjo, que expõe toda a beleza que a vida tem. É o ser
mais consensual e doce que conheço. Faz umas pilantragens, arma umas confusões,
mas é um ser único, capaz das coisas mais improváveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O feito mais incrível do António é ele ser quem é, tão leve, tão feliz, tão
mágico, apesar dos pesares. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Porque eu passei toda a gravidez do António de luto, a morrer de
tristeza. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Hoje, há oito anos, comecei a perder o meu segundo filho, o primeiro fruto
desta incrível história de amor que aqui relato, quase toda ela luz e gargalhadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Tinha sido o nosso presente de Natal - eu estava finalmente grávida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Contámos a toda a gente, foi um dos momentos mais felizes da minha vida: aquela tão esperada e desejada gravidez. </span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Passáramos jantares de família de Domingo, durante meses e meses a fio, a
escolher nomes estapafúrdios para o nosso primogénito, e finalmente acontecera,
imediatamente após o momento de desalento e preocupação no qual eu tivera a
coragem de questionar o meu médico se haveria algum problema, e sobre que opções
teríamos ao dispor para concretizar este sonho que começava a tardar, o de termos o nosso
primeiro filho em comum.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Flutuámos com a notícia, com o teste de gravidez que guardo numa caixa de
latão dourada. Decidimos comemorar, a três: eu o João e a Carolina.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">A vida, a nossa nova vida começava ali, depois de tanta tormenta, tanto
sofrimento, tanta solidão que tínhamos enfrentado e enterrado quando o destino
nos juntou, começava agora um novo capítulo, e era o mais feliz de todos: a nossa
família, a nossa história interminável, estava prestes a começar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">A viagem seria curta, e o cenário escolhido era Óbidos e o seu castelo, uma
escolha quase óbvia, quase cliché, para o conto de fadas que se seguiria nos
próximos meses até ao Verão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Fomos ao jardim da Estrela antes de seguir viagem. </span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O chão junto ao portão
da Basílica estava coberto de ouro. As folhas amarelas, quase fluorescentes, em
forma de coração, da centenária Ginkgo, compunham um tapete triunfal e
cinematográfico. A Carolina atirava-as ao ar, e andou naquilo, aos rodopios, um
tempo sem fim, que ficou congelado numa parte demasiado dolorosa da memória.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Sem qualquer aviso, sem qualquer ai, sem uma dor, sem o grasnar lá do alto
de uma ave de mau agoiro, sem o repique estridente do carrilhão de sinos da imponente basílica, eu
comecei a perder o meu segundo filho por debaixo da chuva de folhas amarelas em
forma de coração da Gingko do Jardim da Estrela. </span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">No nosso jardim. </span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Onde nos
conhecemos. </span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Onde casámos. </span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Onde achei que nunca mais poderia ir depois do que
aconteceu há oito anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O médico, na primeira urgência para onde corremos, no Hospital onde a
Carolina nasceu, disse - não consigo esquecer-me disto nunca: 'Descambou'.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">A confirmação que a gravidez era 'não evolutiva' surgiu na urgência da
Maternidade Alfredo da Costa, ao cair da noite de dia 31 de Dezembro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Os primeiros bebés do ano nasciam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O meu não nasceria.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Não conheço palavras - creio que estão por inventar; são mais esgares - para conseguir descrever o vazio do gabinete, e da
imagem silenciosa, escura, vazia que o ecógrafo revelava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O meu coração partiu-se.</span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Senti o estalo, e a dor física, sufocante,
generalizada, pelo corpo todo, em convulsão, a serpentear-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Quando a porta da urgência se abriu estavam as pessoas a quem devo o mundo:
a Hermínia e a Teresa. Apararam-me. Nos meses que se seguiram foram elas que me ampararam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Em casa, o Stucky, que vivia connosco no sofá da nossa casa de Santa Marta, tinha feito lentilhas para o jantar.
Passou-me para a mão o Santo António que era da sua amada mãe, e entregou-me um
caçador de pesadelos que trazia sempre consigo e que está sempre à minha
cabeceira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Passaram-se dias e dias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">A primeira noite foi a pior delas todas: o desgosto vinha às golfadas,
marés vivas de dor latejante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">O médico falou de estatísticas absurdas, que a culpa não era de ninguém,
que a Natureza era sábia, que tudo ficaria bem, que eu ia esquecer. Advertiu
também que não era expectável conseguir engravidar até ao Verão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Senti-me sozinha como nunca me senti.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Por vezes senti-me ridícula com as proporções daquele luto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Senti-me por um fio, a enlouquecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Nunca senti uma dor tão grande.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Trouxe a mim toda a tristeza do mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Acredito que o João tenha querido um bocadinho dela para si também, mas eu
açambarquei-a toda para mim sem pensar em mais nada – era eu, a minha dor, o
meu desespero e a minha desesperança. Queria-os todos para mim. Como um castigo, uma penitência.</span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">E três meses depois estava grávida do António. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Não consegui ficar feliz: vivi permanentemente aterrorizada e a culpar-me
ainda mais por não estar feliz, como era devido e merecido. Levei os nove meses de gravidez do António de
luto carregado, a chorar diariamente pelo meu filho que não nasceu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Na primeira ecografia, a da confirmação da gravidez do António, surgi o primeiro sinal que ele era
um anjo que vinha para me resgatar do pântano triste para onde eu me deixava arrastar. A data prevista do parto era o dia 31 de Dezembro, um ano depois do dia
mais triste de toda a minha vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Mas eu não via isso como uma segunda possibilidade, um atalho para a
felicidade imaginada e interrompida; interpretava-o como um presságio, como uma
maldade do destino, a gozar sem vergonha com a minha cara e com o minha dor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Todos os dias, de manhã, durante 39 semanas de gravidez, enfiava-me no
carro e percorria a Almirante Reis pelo rio, até Belém, a ouvir a mesma música
em <i>repeat one</i>, e todos os dias me
concedia o direito de chorar, sem rédeas, até ao desligar do motor do carro
junto aos jardins do Império. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Recompunha-me o suficiente, e fazia um esforço para esconder o desgosto que
não diminuía com o crescente volume da minha barriga e da vida que gerava no
meio de tantas lágrimas e tanto medo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Inexplicavelmente pari a criança mais feliz do mundo.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">A cinco dias do Natal, o António foi-me arrancado do ventre, no parto mais
traumático e também mais libertador de todos. Houve complicações e durante
horas acreditei que morreria. O tempo todo em que estive consciente, entre
tremores violentos e maquinarias que berravam incessantemente, em alarme
constante, lembro-me de me deter naquele pequenino sereno ao meu lado. Queria
recordar tudo antes de partir. Não deixei que o João saísse da sala vigiada por um segundo
– achei mesmo que morreria. Sei agora que me libertava de tudo pelo que tinha passado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Mas o António - que se chama António nem sei bem porquê, porque nunca
gostei deste nome - nasceu miraculosamente protegido de toda esta dor e terror
que eu tinha de o perder também a ele.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">E eu vivi, sobrevivi àquela madrugada de há oito anos, e à outra em que há
sete anos o António nasceu. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Os dias passaram-se. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 13.5pt;">A história continuou. Houve becos e houve reviravoltas.
Houve dias muito felizes. Ficou tudo bem, como garantiu o médico da MAC naquela
noite. </span><span style="font-size: 13.5pt;">Mas o tempo não perdoa nem acalma a perda: eu trago tudo isto tatuado, segue
sempre comigo, está sempre comigo, geralmente só comigo, ainda me vergasta uma espécie de dor que é paralisante, que abre a velha e incurável ferida. </span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 13.5pt;"><br /></span>
<span style="font-size: 13.5pt;">Hoje soube que era a hora de falar sobre ele, sobre o
meu filho que não nasceu. Ele faz parte da nossa história - e nunca, mas mesmo
nunca será esquecido.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinqHq5SqVVlNxko56QN1np_QInVnIW7EJ95mX0MWW34tghY8sUkhg0eQJVbDiFWE5G6kAJa__1KkPxprFJo4ZLsnUK_PD2ma9Xtp6tYD3yJ_fuSf23IdYHT52pR8shAzGfma9tfdDewCf6/s1600/L1100787.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinqHq5SqVVlNxko56QN1np_QInVnIW7EJ95mX0MWW34tghY8sUkhg0eQJVbDiFWE5G6kAJa__1KkPxprFJo4ZLsnUK_PD2ma9Xtp6tYD3yJ_fuSf23IdYHT52pR8shAzGfma9tfdDewCf6/s640/L1100787.JPG" width="640" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><span style="font-family: inherit;">Eu sou a irmã mais velha, diz a Carolina.</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">No outro dia, o meu filho António fez sete anos.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Estava a levitar pelos disparates que inventa para me fazer rir, num
bajulanço que é quase idolatria religiosa, e eu perguntei-lhe:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Meu amor, como é que tu és tão feliz?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Mostrou-me a língua, revirou os olhos, e bateu as pestanas. Desenhou-se uma
cova na bochecha deliciosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Então, eu contei-lhe esta história:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Tu és o segundo filho, mas não és o segundo filho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Quando tu vieste do céu para a minha barriga, a mãe tinha estado grávida,
de um outro bebé, que não nasceu. A mãe estava muito feliz por tu vires, mas estava
também estava muito triste pelo bebé que não tinha nascido. Eu acho que tu vieste
para me fazer sorrir outra vez. Diz-me lá como é que tu nasceste tão feliz,
quando a mãe estava tão tão triste?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">É simples.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">É que o(s) meu(s) segundo(s) filho(s) é (são) anjo(s).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">E não há um dia dos últimos oito anos que eu agradeça por ter ambos na
minha vida.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuo_3NgrbyAQF7p9pa_J1ABkdvC71h22eFUpI5Ynv-I5l3UTZ46Z_hjQHifMsn9kz2z0WssCqPsjd97YTNRSgZoqGuPy65YnEIifYY4-kLleumXnovUVDWZ_DI3wKFLAFIFKmVBVfNe4MU/s1600/20122.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuo_3NgrbyAQF7p9pa_J1ABkdvC71h22eFUpI5Ynv-I5l3UTZ46Z_hjQHifMsn9kz2z0WssCqPsjd97YTNRSgZoqGuPy65YnEIifYY4-kLleumXnovUVDWZ_DI3wKFLAFIFKmVBVfNe4MU/s640/20122.jpg" width="426" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;">Meu amor, como é que tu és tão feliz?</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 13.5pt;">Bom Ano para todos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 13.5pt;"><br /></span>
<span style="font-size: 13.5pt;">(David, Inês - Obrigada por me terem ajudado no dia 20 de Dezembro de 2008 e em todos os anos que já nos conhecemos)</span></span></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-58925790828375749292015-12-29T17:57:00.006+00:002015-12-29T17:57:52.699+00:00Pescada com Béchamel - um clássico na Família Cerelac<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrC2D3lW1lOvYvaPcuo9UgKLXUP9p9-t3yLoxkbFEd5pcE97W_JQEKJuCXkwPOMigoVH53vIXQTmZEvGiEtvItNM4sDMeYG0DqJgQ6YtAZmux8Iulb9z75NvcTpo52sbqXMhxyg4YwAKjG/s1600/antonio+rudolph.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrC2D3lW1lOvYvaPcuo9UgKLXUP9p9-t3yLoxkbFEd5pcE97W_JQEKJuCXkwPOMigoVH53vIXQTmZEvGiEtvItNM4sDMeYG0DqJgQ6YtAZmux8Iulb9z75NvcTpo52sbqXMhxyg4YwAKjG/s640/antonio+rudolph.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">António, the Invizimalz Reindeer</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">O filão “Tenho quatro filhos: qual é o teu Super Poder?” é inesgotável e serve para tudo um pouco. Concedeu-me a benesse de poder ser uma pessoa mais feliz, mais segura, mais em paz. Este mergulho em apneia, sob o maravilhoso coral de recife que se apresenta diariamente no sorriso e nas birras das minhas crias, é tudo quanto quero levar deste ano terrível que quero enterrar durante o clarão do fogo de artifício e o barulho ensurdecedor dos tachos à janela.</span></div>
<b id="docs-internal-guid-d8775582-eed2-5ec7-b3e2-e25f9c704e23" style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O filão dos quatro filhos - e a blogosfera está cheia de pais e mães de quatro, com mais ou menos glamour, com mais ou menos humor, com mais ou menos da vida real, tal e qual como ela é - permite-me habitualmente feitos mais comezinhos, como a habilidade em pedir desconto de quantidade com um descaramento que já é quase naturalidade, ou dominar a arte do despacho-desespero, por entre os corredores dos hipermercados, farejando à distância as caixas prioritárias de pagamento. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não são raras as vezes que tiro proveito do espanto generalizado e deslocamento da mandíbula inferior da população a contar alto e bom som, como uma aberração de circo, o número de crianças que arrasto agarradas às minhas saias. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Já ouvi elogios e insultos. São maioritariamente elogios, palavras de incentivo, de apreço, que somos tão jovens, que eles são tão lindos, que o melhor do mundo se encerra no olhar de deslumbre das crianças. Provocamos sorrisos abertos e sinceros, é muito amor que nos atiram no desfile pela passadeira vermelha que se estende como se fôssemos heróis. Há admiração, no sentido de espanto da palavra, e depois há admiração, como se fôssemos heróis recebidos em todo o lado em apoteóse colectiva.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Também já ouvi que somos como os coelhos, ou como os ciganos, que temos muitos filhos mas depois deixamo-los entregues a si, isto porque ao quarto filho não se vai a correr para o hospital se a criança caiu, ou porque tem ranho no nariz, e porque os irmãos, os tios, os avós e os primos por vezes nos permitem ir, durante uns minutos, beber um café, fumar um cigarro, trocar um beijos como recém-namorados que acham todos os dias um incrível milagre.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A vida corre suave quando temos quatro filhos.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não há outra hipótese: é pura sobrevivência.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Demoramos mais tempo a sair de casa. Há mais barulho e muita confusão. Os nossos carros, umas latas velhas, metem nojo. Não damos para tudo, valores mais altos se levantam do que carros brilhantes de de alta cilindrada e é bem sabido - há um anúncio de detergente Skip que amo que já o diz - que a felicidade anda de mãos dadas com as nódoas e o surro atrás das orelhas. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Os putos, os meus pelo menos, oscilam entre o anjo e a possessão demoníaca: há sítios que nos estão vedados, sabemos bem que há toda a uma vida de revista que fica apenas na revista. Mas somos tão mais leves e tão mais chegados ao que realmente importa. Temos uma pré-adolescente implicativa em mãos, mas ninguém cutuca ninguém no nosso lar por ninharias - temos expectativas ajustadas à realidade, o que é dos filmes fica nos filmes, e a realidade vai batendo a ficção aos pontos, também já sabemos disso.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMwIRvAS7SmY7HN-3buZPansJRFJ35EeQ90KnRnF06lVUkIfmtjY-4l0f7klmOdGPBkuh7Aly0z1eOCV71gvPq25cIOtEtcTwVtvvFYrX9pBR0E7zEzrVZDB-T0cEuBYVYx3DwyRqcdyh6/s1600/santaslittlehelper.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMwIRvAS7SmY7HN-3buZPansJRFJ35EeQ90KnRnF06lVUkIfmtjY-4l0f7klmOdGPBkuh7Aly0z1eOCV71gvPq25cIOtEtcTwVtvvFYrX9pBR0E7zEzrVZDB-T0cEuBYVYx3DwyRqcdyh6/s640/santaslittlehelper.JPG" width="426" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Santa's Little Helper em versão Anjo de Natal</td></tr>
</tbody></table>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ter quatro filhos fez de mim uma especialista instantânea em quase tudo, apesar de eu, grande parte das vezes, andar em navegação desgovernada, com o mapa ao contrário a tentar procurar o Norte. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu não a pedi e não é justa a beatificação: não sou santa, tenho as minhas falhas de acrácter, e erro, faço más opções, digo parvoíces; às vezes faço burrada atrás de burrada, tropeço e até fico com falta de ar. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por exemplo, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.6667px; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>mea culpa, mea maxima culpa:</i></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> nunca fiz uma sopa de bebé na minha vida. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não fiz, não quero fazer,não vou fazer e sou um pouco leviana nas introduções de alimentos. O meu departamento é a mama (há 13 meses and counting), e depois os assados, guisados - os salva-vidas de uma cozinheira de uma família de maiores proporções.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não sei nada sobre sopas de bebé. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Também me recuso a lavar os dentes ao cão. Não dá!</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sempre que me perguntam, na qualidade e pedestal bem alto de mãe de quatro, a que idade introduzi o rodovalho, o espinafre ou o ruibarbo (isto vai complicando a cada filho que me nasce) explico que houve uma altura que a minha dispensa tinha como único conteúdo pacotes de Cerelac e boiões de pescada com béchamel da Nestlé, os favoritos da minha primogénita até quase aos seus três anos de idade, e que é melhor passar ao outro e não ao mesmo, porque não posso ajudar nesse departamento.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A minha mãe encarregou-se do cardápio de mistelas batidas da Carolina, e o senhor meu marido virou Masterchef dos seus três filhos - dominando a arte da batata doce, da beterraba e do chuchu.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando o João me conheceu eu era accionista da multinacional Nestlé e as acções eram potinhos de vidro que faziam plop e para os quais nem era preciso a ajuda de um homem para abrir.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Com a Isaura, voltámos pontualmente à pescada com béchamel. Coincidiu com o meu regresso ao trabalho a tempo inteiro e com o frenesim do dia-a-dia.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Nas vésperas de Natal comprámos um carregamento de novos boiões para fazer face à esquizofrenia do Natal e da antecipada falta de tempo que sermos os anfitriões e cozinheiros da Consoada e Almoço de Natal. Quando chegámos a casa tínhamos um presente da Nestlé: mais boiões (que entretanto já marcharam todos).</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgY5hsKmMoNoBsQZ2IYGomrKE2Ml6IpL2CUMIJDWMN8J3VTEYFsL7x0hSoJmHyVbmGmt75PaGW7DDJSAleRm7iDQywGhQSehyvNSYzVdDflZ8pnRccC56p0IlO2V6KihHsAcEI9129pmaXw/s1600/capao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgY5hsKmMoNoBsQZ2IYGomrKE2Ml6IpL2CUMIJDWMN8J3VTEYFsL7x0hSoJmHyVbmGmt75PaGW7DDJSAleRm7iDQywGhQSehyvNSYzVdDflZ8pnRccC56p0IlO2V6KihHsAcEI9129pmaXw/s640/capao.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Não sei fazer sopas de bebé, mas no Natal cozinhei com o meu lindo marido um capão do qual só sobraram ossos.</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Há anos e anos que nos dou o nome de “Família Cerelac" (para quem tenha Instagram é procurar a hashtag #familiacerelac). </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAeYhhp7-t4F-aSzd5ab47wzraPZ2oSO-5E_pL3MPe976XydOKnmijzX0Nz2CoeYPrwiiHaYLwlj6SmnJ0q42vjekLQSR7BrNRIr6M7zULt2xCj9F752p07XNzaGIITnafga6YIiyxsII6/s1600/DSC_0139.jpg" imageanchor="1" style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; line-height: normal; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; white-space: normal;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAeYhhp7-t4F-aSzd5ab47wzraPZ2oSO-5E_pL3MPe976XydOKnmijzX0Nz2CoeYPrwiiHaYLwlj6SmnJ0q42vjekLQSR7BrNRIr6M7zULt2xCj9F752p07XNzaGIITnafga6YIiyxsII6/s640/DSC_0139.jpg" width="640" /></a></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Vejam lá, querida Nestlé, se este post não saiu melhor que a encomenda? E</span><span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 20.24px; white-space: pre-wrap;"> se a Aurora não é um perfeita princesa Nestlé?</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Obrigada pelos boiões. Obrigada por facilitarem a vida a muitos pais cansados :)</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Boas entradas!</span></div>
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-53941486178258668572015-12-09T12:24:00.002+00:002015-12-09T12:24:22.998+00:00O fantástico e delicioso bolo do primeiro aniversário da Isaura<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0HipWzMSyZh1Mynj4-aHVESlACO79RYnSwZ7QwqwcsH_PS-wMseQdS0aIqdPko9ZRHADa0U86UnsFad-yo2VsK5mEOyi6Y4OxXXYaZEaPFo-DWtZQjg6m85mNISW7e9oZuG-fmQsCmJt6/s1600/DSC_0108+%25281%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0HipWzMSyZh1Mynj4-aHVESlACO79RYnSwZ7QwqwcsH_PS-wMseQdS0aIqdPko9ZRHADa0U86UnsFad-yo2VsK5mEOyi6Y4OxXXYaZEaPFo-DWtZQjg6m85mNISW7e9oZuG-fmQsCmJt6/s640/DSC_0108+%25281%2529.JPG" width="424" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Hei! Eu também quero fazer anos! A bebé faz 1 ano mas eu faço 31 meses! E adoro a Minnie.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
A Aurora sente-se baralhada, com esta catadupa de aniversários de Dezembro e ela, isolada, lá longe no morninho mês de Maio. Reclama que quer fazer anos também. E não se conforma de não ter sido concebida na Primavera (que tonta, é uma filha do Verão, e foi feita na ilha mágica de São Miguel)<br />
<br />
Então, fizemos-lhe mais ou menos a vontade: foi ela que escolheu o tema do bolo de aniversário da irmã mais nova, que ainda tem pouco querer.<br />
<br />
O repto de um bolo de Minnie foi transmitido à querida Isabel Choupina, dos <a href="http://www.facebook.com/3-Docinhos">3 Docinhos</a> (super-mãe de três filhos), que escravizamos (e adoptamos também) no longo mês de Dezembro que todos os anos atravessamos.<br />
<br />
Os putos embirram com a pasta americana, e saiu esta Minnie absolutamente delciosa de Merengue de uma nacionalidade qualquer (creio que é italiano).<br />
<br />
A Isaura fez um ano e a Aurora na verdade, nesse mesmo dia também fazia 31 meses.<br />
E lá soprou as velas do bolo, toda contente.<br />
Obrigada, Isabel!<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Nka8oR9tvbr-7UaXwPm6nbvWwSMFKuvkBLeEhFPwlSKHttuwYXW0dLQalsXtjBHZtbZFIEACMJyAuG0Bf9Z7HN4btEq7v8GRLUZrlIxCLFO6Vt41ztq1kyAwoSTBHWrN2UJHom9delGG/s1600/DSC_0122.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Nka8oR9tvbr-7UaXwPm6nbvWwSMFKuvkBLeEhFPwlSKHttuwYXW0dLQalsXtjBHZtbZFIEACMJyAuG0Bf9Z7HN4btEq7v8GRLUZrlIxCLFO6Vt41ztq1kyAwoSTBHWrN2UJHom9delGG/s640/DSC_0122.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Docuras da 3 Docinhos para a Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-33875244142002226792015-12-08T23:17:00.005+00:002015-12-09T11:45:09.981+00:00A Imaculada Carolina - a dúzia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEins5_Klz6hsB3WfZH9epCopIaKCX5y11KaQgZTTEA2IcCd-9vjhalyCwikahq9aA9ho_I8IX9-15mYWc4NqMye5xtN6SB-_gO2_zAPhZ7W13wEUVKAu0U3Eei2ROEUU0lWYclQyTihwdU5/s1600/Outubro+095.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEins5_Klz6hsB3WfZH9epCopIaKCX5y11KaQgZTTEA2IcCd-9vjhalyCwikahq9aA9ho_I8IX9-15mYWc4NqMye5xtN6SB-_gO2_zAPhZ7W13wEUVKAu0U3Eei2ROEUU0lWYclQyTihwdU5/s640/Outubro+095.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">8 de Dezembro de 2003 - 14h35 - Hospital Particular de Lisboa - nascia uma filha. E também uma mãe.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Uma dúzia de anos -- a medida, mais apropriada para os ovos, chegou-nos hoje cá a casa.<br />
Sou mãe de uma rapariga (eu que me deixe de ilusões, que ela já não é uma menina) de doze anos.<br />
<br />
Estou a envelhecer. E ela está a crescer esplendorosamente, a revelar-se em todo o seu impressionante potencial, do qual tenho uma ínfima quota-parte genética que às vezes se reflecte no azul translúcido dos seus olhos.<br />
<br />
Dá-me abadas à hora do jantar, quando se põe armada em sabichona a falar de Física e da génese do Universo (tenho que comprar menos revistas 'Quero Saber'), canta tão bem quanto eu, e atrevo-me a alvitrar que escreverá muito acima das minhas linhas, que teimam a sair cada vez mais tortas, apesar da formatação perfeita do monitor deste computador.<br />
<br />
Muitas coisas têm falhado nestas últimas dúzias de dias do calendário que se esfumam muito rapidamente, à medida que os dias ficam mais curtos e mais frios.<br />
<br />
A metáfora que me ocorre, nos últimos dias, é o de uma mão cheia de areia a escapulir-se-me inevitável e descontroladamente por entre os dedos. Nada de essencial falha - tenho o punho cerrado com força, e continuo determinada impossível missão de uma vida, que é garantir que os minúsculos grãos que fazem desta desta gigantesca charada uma história interminável se mantêm protegidos da força dos elementos, dos soluços do Universo, das emboscadas da vida. Mas, por vezes, deixo cair uma série de coisas pequenas, e já nem penso muito nessas falhas: sou, afinal, apenas humana, por mais super-poderes emprestados que traga pelos filhos que decidiram nascer (quase) todos em Dezembro (deliciosas criaturas, estes Sagitários).<br />
<br />
Chega Dezembro e entro em piloto-automático, em modo sobrevivência, em alerta total. Fico de piquete, estou de banco permanentemente -- são quatro aniversários possíveis, em seis cá em casa: começa com a Isaura, no primeiro dia do último mês do ano, e uma semana depois, naquele que nunca deixou de ser feriado, o da Imaculada Conceição, o antigo dia da mãe, chega o aniversário da primogénita Carolina. Há agora uma pausa forçada (o meu sogro faria 66 anos no Domingo) até dia 19, o aniversário do pai, que há pelo menos meia dúzia de anos que não é convenientemente comemorado (há sete anos passámo-lo numa sala de partos, e acabámos de madrugada, numa cesariana de urgência), e no dia seguinte, a quatro dias do Natal, é a vez do António (no dia 30 será o super-tio Romão, outro irmão ruivo que ganhei na taluda).<br />
<br />
Pelo meio da quadra e dos festejos deste lar, há muitas outras festas: da escola, do Piano, do ATL; há lanches, há cantigas, teatrinhos e outras coisas que me aquecem o coração e me extenuam até ao tutano. Há tudo isto e muito mais e é multiplicado por quatro.<br />
<br />
Há também uma lista interminável de tarefas, de compras e presentes, e há muitos trabalhos de casa para os pais - mas, ao contrário do post de um outro (e muito mais famoso) pai de quatro, eu não me queixo da sina de improvisar enfeites de Natal dos mais inusitados materiais de desperdício, como rolos de papel higiénico, cápsulas de Nespresso, garrafas de plástico ou latas de Coca-Cola: ponho quanto sou no mínimo que faço, e isso inclui os sete instrumentos que tenho que tocar ao mesmo tempo na corda bamba, porque sou mãe, porque quero ser a mãe que tudo pode e que tudo consegue, sem mácula, sem falhas relevantes, com o cadastro limpo de falhas graves, e com direto a louvor no final da jornada.<br />
<br />
Hoje não houve, porém, super-produção -- haverá uma festa disco para pré-adolescentes no Domingo que vem. O tio-avô Zé emprestou uma casa vazia, à espera de obras de remodelação, para a invasão de rapazes e raparigas que se despedem da sua infância sem olhar para trás, com narizes e dentes enormes, totalmente desproporcionados para aqueles corpos híbridos, em transformação.<br />
<br />
Almoçámos vagarosamente com a família mais chegada.<br />
A rapariga da dúzia de anos definiu expressamente que queria ir ao chinês -- teve desejo de Pato à Pequim.<br />
Ainda pensei pedir o famoso e encantatório prato da 'Família Feliz', que desde a minha infância me delicia e povoa a imaginação com imagens idílicas, mas a família feliz estava à minha frente, e o prato, que mistura todas as proteínas e hidratos de carbono possíveis, é uma grande salganhada e posso deixar de o pedir por teimosia e sublimação<br />
<br />
A miúda cresceu e no final da tarde arriscou até confessar-me que já lhe começaram as dores de crescimento: 'Pela primeira vez na vida, não estou a achar muita piada fazer anos - é uma seca crescer!"<br />
<br />
Tem uma bicicleta linda, e os tios e os avós começaram este ano a dar-lhe dinheiro, porque se sentem perdidos, sem saber quem ela é, em quem se vai transformar.<br />
<br />
Esqueci-me do bolo, fui a correr ao supermercado comprar um, e o António conseguiu partir o único dente definitivo que tinha, numa brincadeira parva.<br />
<br />
Nem tudo foi mau: já de dente partido, tirámos as rodinhas auxiliares da bicicleta do António -- eventualmente poderia partir também uma perna, mas as probabilidades já eram menores e nós gostamos de arriscar o destino.<br />
<br />
E ele começou instantaneamente a andar pelo empredado, onde também eu aprendi a andar em duas rodas há uns trinta anos, sem qualquer ajuda, num equilíbrio automático. Detém o recorde do Guiness de aprender a andar de bicicleta: foram cinco segundos. Um empurrão e nunca mais o vamos apanhar.<br />
<br />
Com tantas falhas, foi um dia bom.<br />
Há poucas coisas no mundo melhores do que andar de bicicleta.<br />
<br />
É incrível ver como eles crescem sem podermos fazer nada para o impedir.<br />
Não é uma seca crescer, filha. É duro, mas olha o caminho que já fizeste.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4QRr8t3Tf5Ss2jCbghKLM9aqr8zB2ZkesZU3m38SJ4qfma-muPAbcnrtxT0itc1p3IQXuJ9TzHZnxlcV8OeiK0ILVi9GcPWTiJILQuLr6QibCACtRL_VNl9HYCLpiebNbY7kffDSgMEcm/s1600/2003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4QRr8t3Tf5Ss2jCbghKLM9aqr8zB2ZkesZU3m38SJ4qfma-muPAbcnrtxT0itc1p3IQXuJ9TzHZnxlcV8OeiK0ILVi9GcPWTiJILQuLr6QibCACtRL_VNl9HYCLpiebNbY7kffDSgMEcm/s640/2003.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Verão de 2014, na nossa primeira casa de bonecas, na Av. EUA</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZPw1g5QltcnfungGCjetBcW8aG7VRHHgTfSUrFGo5BirU3fvcTa1aqP7hQ1TUSYS5WJHEIB_rR8mH-bcWNKmoBQc8BwLEO946eFtVNgZjKt0-vRXVAjwT2AGLcGLz2pXcN4nIyKVX2MiM/s1600/2004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZPw1g5QltcnfungGCjetBcW8aG7VRHHgTfSUrFGo5BirU3fvcTa1aqP7hQ1TUSYS5WJHEIB_rR8mH-bcWNKmoBQc8BwLEO946eFtVNgZjKt0-vRXVAjwT2AGLcGLz2pXcN4nIyKVX2MiM/s640/2004.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Natal 2014, na nossa casa de Santa Marta</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRrioBOVpXttknltokGlHfBSC8eMbSZ202itaH_Vucamm5-3rGMMkU-P_7_6MoypCP6fTd3wL0oPpmO6J0u-04dMJHqK_PQPZdTq7LxfjoG9sEA-ebFrvYDGw0tpK017c6OIXksjkaoP8D/s1600/2005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRrioBOVpXttknltokGlHfBSC8eMbSZ202itaH_Vucamm5-3rGMMkU-P_7_6MoypCP6fTd3wL0oPpmO6J0u-04dMJHqK_PQPZdTq7LxfjoG9sEA-ebFrvYDGw0tpK017c6OIXksjkaoP8D/s640/2005.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Páscoa de 2005 - a destruir à socapa uma paleta de maquilhagem</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdrFEFNuX8pe7juYcz7CNdrRnHiJ6coPxWLPwizDAHg5kfSDd6_7DRr3BIJwapOUOqy3Pp6zc4drSgDMpbkrEKOvmUQqInkDImIepMAhAWE1e8YdgPeI0_0j3CR5yoH4j62Cz5MhaSulUt/s1600/2006.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdrFEFNuX8pe7juYcz7CNdrRnHiJ6coPxWLPwizDAHg5kfSDd6_7DRr3BIJwapOUOqy3Pp6zc4drSgDMpbkrEKOvmUQqInkDImIepMAhAWE1e8YdgPeI0_0j3CR5yoH4j62Cz5MhaSulUt/s640/2006.JPG" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Natal de 2006 - em Santa Marta e uma boina de artista</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSUmzmF4QXb73Y8BwiCj0B2Dcz-8oTG9j-6q4CsGKrdGLg461JRkqPbZLfYaA00ygm3stQHtU3xaWzRqBGF41zavjYgxWwiI_MuO6A-F3NxhibfKzn-sZ7fhjLbkFGIx7YD_gqnBEAWL5q/s1600/2007.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSUmzmF4QXb73Y8BwiCj0B2Dcz-8oTG9j-6q4CsGKrdGLg461JRkqPbZLfYaA00ygm3stQHtU3xaWzRqBGF41zavjYgxWwiI_MuO6A-F3NxhibfKzn-sZ7fhjLbkFGIx7YD_gqnBEAWL5q/s640/2007.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">8 de Dezembro de 2007 - no café da D. Beatriz, em Santa Marta, com o nosso Idea já escavacado lá atrás</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK-EC-jfrH7ihm1QUtIallLtLUrE_7gPoWaUh8BcKquKrjkav7i2Gmwm68_WhAXyTfR2brloIfyF1f9DhoDM5hiVrEory0UiFnRCN7Jl3G4ibPytrRodjwWFBjRhmqaSvebKehwlu10G1d/s1600/2008.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK-EC-jfrH7ihm1QUtIallLtLUrE_7gPoWaUh8BcKquKrjkav7i2Gmwm68_WhAXyTfR2brloIfyF1f9DhoDM5hiVrEory0UiFnRCN7Jl3G4ibPytrRodjwWFBjRhmqaSvebKehwlu10G1d/s640/2008.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Natal de 2008 - à espera do António e com o mural das fadas que eu lhe estava a pintar no quarto da casa nova da Almirante Reis</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ0p6bmgfDPpgxO61faGm3j3597h1o4l0h0_tncfO6JHW88agzMsvXQtZj461E1CDvjSSyMBxF1ZcR97mY15a3CknZhMQXn3y_zvsDOhDN4RZqcGyWP1jfNnpI3Ejuj0rFwq6nFdMfry9I/s1600/2009.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ0p6bmgfDPpgxO61faGm3j3597h1o4l0h0_tncfO6JHW88agzMsvXQtZj461E1CDvjSSyMBxF1ZcR97mY15a3CknZhMQXn3y_zvsDOhDN4RZqcGyWP1jfNnpI3Ejuj0rFwq6nFdMfry9I/s640/2009.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Agosto de 2009, em Évora, o primeiro Verão do António (na camisola lia-se 'Eu sou a irmã mais velha')</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxnugNsa0qWOFoGGyfGVemYr_ecDzdTfMKw-lGssggHR56e5i6S_EQcNfUeC7WfDhPQfR6dKj6flZ68BIf5ICMvNXPKT2uEMQHSSYEUFqrr5d_UYigL1jmltAAvwBD9vvsacZJbw9JD4b2/s1600/2010.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxnugNsa0qWOFoGGyfGVemYr_ecDzdTfMKw-lGssggHR56e5i6S_EQcNfUeC7WfDhPQfR6dKj6flZ68BIf5ICMvNXPKT2uEMQHSSYEUFqrr5d_UYigL1jmltAAvwBD9vvsacZJbw9JD4b2/s640/2010.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Agosto de 2010, no Parque Terra Nostra, nas Furnas</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimfIKNDjQZDNojMKIPQIB1T0BsAr8CQt-YBLY-C5uB4bdG0iGQYPuIZinqNhf9ZGTBAUDkpzC20WOhpb-aLQ4XJI5Ky9VjrDoteJWNvi2Fuy2VNJ7YjoLvAAMD0lsfjEWQALohpeHnj8wW/s1600/2011.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimfIKNDjQZDNojMKIPQIB1T0BsAr8CQt-YBLY-C5uB4bdG0iGQYPuIZinqNhf9ZGTBAUDkpzC20WOhpb-aLQ4XJI5Ky9VjrDoteJWNvi2Fuy2VNJ7YjoLvAAMD0lsfjEWQALohpeHnj8wW/s640/2011.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Agosto de 2011 - em Óbidos, com o Avô Tójão</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyxW-Mbra5xDRUqREPJ_kzUAJ8PitzCZ1O4WXkT_IU5qATZ0QZyUYzz4ntwL8dxfg4uIUhTMIQbRNxyMu33NgPQ3EQFZBVv6oalNTUrFRE_wqHPofgg-xY56eBCwBOFgTu5AM_a3H6Ti9W/s1600/2012.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyxW-Mbra5xDRUqREPJ_kzUAJ8PitzCZ1O4WXkT_IU5qATZ0QZyUYzz4ntwL8dxfg4uIUhTMIQbRNxyMu33NgPQ3EQFZBVv6oalNTUrFRE_wqHPofgg-xY56eBCwBOFgTu5AM_a3H6Ti9W/s640/2012.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Outubro de 2012 - Na Mata de Alvalade<br />
<br />
<br /></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk5dkjKShonJlECcbbDoB45JHviMrtUUpmUAGAY_ugAlqE9BVJDBibyq0U5sI_VKaLfqGCHHQnE3RaVp_h3VPbpBNttNKticwxnkvnBJ6vO1LnNIh7_hKwOtyIBxZQoW0PF9VpNOphue79/s1600/2013.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk5dkjKShonJlECcbbDoB45JHviMrtUUpmUAGAY_ugAlqE9BVJDBibyq0U5sI_VKaLfqGCHHQnE3RaVp_h3VPbpBNttNKticwxnkvnBJ6vO1LnNIh7_hKwOtyIBxZQoW0PF9VpNOphue79/s640/2013.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dezembro de 2013 - A brincar com as folhas de Gingko no Jardim da Estrela</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOiHWpCPLj2GtaTdbH63H9sKMtXoNur3xOrRoV6Nov4lwzHU5JvMC1ia7117-0llgkaTRQVEZd3pEn_H5FxRi9BMdzJchd_RW2yGE4DJAnx0DZOxEanY8MzqEB-jgQREhG0fU13oVzBiBP/s1600/1009674_10201004312563568_1289672604_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOiHWpCPLj2GtaTdbH63H9sKMtXoNur3xOrRoV6Nov4lwzHU5JvMC1ia7117-0llgkaTRQVEZd3pEn_H5FxRi9BMdzJchd_RW2yGE4DJAnx0DZOxEanY8MzqEB-jgQREhG0fU13oVzBiBP/s640/1009674_10201004312563568_1289672604_o.jpg" width="426" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Verão de 2014</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrjgTUo4J2BMFIoxW1TiYFpO-Jf-Q-KbFUd35UaG13vp4LY1_CaiHw_0r7KF_pja31dkO5pwwLP5waoerarkqUnS-m-qrbDxuq4C4CCg1mbrzYzXH4GPTQpFe-LD3R1VBOHAXebs9Ly3DV/s1600/736332_4706067443199_398926086_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrjgTUo4J2BMFIoxW1TiYFpO-Jf-Q-KbFUd35UaG13vp4LY1_CaiHw_0r7KF_pja31dkO5pwwLP5waoerarkqUnS-m-qrbDxuq4C4CCg1mbrzYzXH4GPTQpFe-LD3R1VBOHAXebs9Ly3DV/s640/736332_4706067443199_398926086_o.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Inverno de 2014, com uma das criações feitas pela sua mãe</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgroJC0Y5BlgXs1FG6Ck8imXm99cA85584RJ1IlX5MCtyhg-F2p7nRDUM5_1SFJGzUVhC_LjvN8fASq1oAspsweaYsJ8j_B26o2qFJEPQFxCcs5zRoMCLF48y99moPWxZsR6t1xjJNau8ja/s1600/WP_20150419_029+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgroJC0Y5BlgXs1FG6Ck8imXm99cA85584RJ1IlX5MCtyhg-F2p7nRDUM5_1SFJGzUVhC_LjvN8fASq1oAspsweaYsJ8j_B26o2qFJEPQFxCcs5zRoMCLF48y99moPWxZsR6t1xjJNau8ja/s640/WP_20150419_029+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Primavera 2015 - com humores e fazendo bocas.</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifARIJDbVD45OC40yREykLccx6XcDrtU_gd0XFfFty04bQKAinJ5wL3wNBj5MbURt-7HQu0VyB0GH85L-OEGIMCzNYj6oOds1TqpLNMT5RXs7QDTdqmR7-llejDj50gR-MK41fYJtmGC1d/s1600/WP_20150920_037.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifARIJDbVD45OC40yREykLccx6XcDrtU_gd0XFfFty04bQKAinJ5wL3wNBj5MbURt-7HQu0VyB0GH85L-OEGIMCzNYj6oOds1TqpLNMT5RXs7QDTdqmR7-llejDj50gR-MK41fYJtmGC1d/s640/WP_20150920_037.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O cabelo encolheu e ela cresceu sem parar. Setembro de 2015 com o emplastro.</td></tr>
</tbody></table>
<br />zotohttp://www.blogger.com/profile/09292743968162887765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-65184870655379201642015-12-01T14:02:00.001+00:002016-02-14T20:35:46.472+00:00Zázá [ou o difícil ofício de ser feliz]<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "" , "arial" , "" , serif; font-size: 11pt;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ_0CsJeObcjrTawmW7qm5sORRQcag4Pa_74r0hXjKXVPIG3bEWuglYl53uRfINesqcxb501dw_0bsoX6Xd1oF-BtS-9BGWsKeVsSwx9brc_TSN65TXdQfZ0J6n37gmNqqE0IKOLZ8hera/s1600/WP_20151201_017+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ_0CsJeObcjrTawmW7qm5sORRQcag4Pa_74r0hXjKXVPIG3bEWuglYl53uRfINesqcxb501dw_0bsoX6Xd1oF-BtS-9BGWsKeVsSwx9brc_TSN65TXdQfZ0J6n37gmNqqE0IKOLZ8hera/s640/WP_20151201_017+%25282%2529.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Hoje é dia de festa e só tenho direito a uma foto manhosa, de esguelha, e ainda por cima despenteada?<br />
FOTO: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 11pt;">Zázá,</span><span style="font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 11pt;">Rebobino
365 dias, e ando aqui às voltas, um pouco perdida, um pouco zonza, numa
contabilidade absurda que não encontra meios para medir - nem tem pouco
palavras para traduzir - esta coisa mágica e relativa que é o tempo.</span><b><span style="font-size: 18pt;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Estou
cansada de verdades, de certezas. Já não arrisco absolutos, filha. Disse tantos
disparates na minha vida; coro de vergonha com tanta fanfarronice. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Imagina
que, há 12 anos, quando vi a tua irmã Carolina pela primeira vez, de raspão,
estava a tua avó ao meu lado e em meu socorro sem saber para onde se virar -
para a filha ou para a neta, ambas em perigo -, e soltou-se-me o absurdo pela
boca fora: eu disse que nunca amaria um filho como aquele pequeno ser azulado,
que acabara mudar toda a minha vida, elevando-me a esse estado sobrenatural e
de consciência alterada, que é ser mãe, a toda a hora, e para todo o sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Não
é verdade, bem-amada, minha querida Zázá.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">É
possível amar todos, às golfadas, e na mesmíssima proporção (a tua irmã
Carolina dirá que o António é o favorito e, mais cedo ou mais tarde, também
há-de vir marrar contigo, que és pequenina e terás sempre essa aura a
perseguir-te).<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Também,
tal e qual como me avisaram que aconteceria - e eu descrente, num espectáculo
de abelha-mestra com um xaile de fado, obstinada na minha certeza que o meu
palácio de cristal era afinal um castelo de cartas e que tudo se ia desmoronar
-, a tua irmã Aurora não tem cicatrizes e traumas permanentes (claro que sofreu
nas primeiras semanas) e vocês são, realmente, as melhores amigas (o meu
coração por vezes não aguenta, tenho a certeza absoluta que às vezes pára de
bater quando secretamente vos espio, na vossa cumplicidade). <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Tu,
Zázá, és a bênção inesperada: és o ponto de viragem nas nossas vidas - creio
que atingi a idade adulta quando soube que vinhas, aliás, quando aceitei que
vinhas, e me rendi sem condições à evidência que não posso controlar tudo, a
toda a hora.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Hoje,
eu e o teu pai (que não é dado a estas coisas das cartas de amor públicas - mas
não duvides nunca do seu amor) sabemos da infalibilidade de todas certezas, da
fragilidade da vida e dos imperativos categóricos que trazemos entranhados no
código genético. Estamos lúcidos como nunca estivemos, com os pés bem agarrados
à terra e a cabeça sempre na lua, bem lá do alto, a vigiar os teus sonhos e os
dos teus irmãos, a sondar (em vão) perigos que estão sempre à espreita.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;"><br />
Hoje, eu e o teu pai somos felizes como nunca previmos. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Essa
é a lei mais universal de todas: o curso dos acontecimentos segue implacável,
de mãos dadas com o tempo, desatinados, às vezes voam outras vezes destroem
tudo e todos à sua passagem, outras vezes arrastam-se, preguiçosos, e,
ocasionalmente, acontece o extraordinário e conseguimos pará-los, abruptamente,
interrompemos a sua correria e ficamos deslumbrados com os fragmentos destes
dias felizes.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;">Andámos
a trilhar o difícil caminho da felicidade, Zázá. Foi isso que andámos a fazer
contigo nestes 365 dias. Parabéns, filha.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 11pt;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4cyv2l96kOWnhY-4Liv6RiA-XTBsRp8QUOsoUNd-s-VpBxlnDmopIj_NnnLtTAdzWcl8AHF9_9yvujIKne2smkbX5_GPqtnx6whhIk20IRauWIOMIhU7w4GXMxtw5c3i-ezV6bgU9dtee/s1600/12307349_10207068454003314_2373457286495847317_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4cyv2l96kOWnhY-4Liv6RiA-XTBsRp8QUOsoUNd-s-VpBxlnDmopIj_NnnLtTAdzWcl8AHF9_9yvujIKne2smkbX5_GPqtnx6whhIk20IRauWIOMIhU7w4GXMxtw5c3i-ezV6bgU9dtee/s640/12307349_10207068454003314_2373457286495847317_o.jpg" width="424" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;">1/12/2014 -- 08h30 - Também ponho uma foto-baleia.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Foto: A Família Numerosa</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-outline-level: 3; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt;"><span style="font-family: inherit;">[E
agora vou arrumar a culpa de estar a trabalhar neste dia, de te ter levado para
a creche, sem um bolo, de não te ter comprado um presente, e de, à hora em que
nasceste, estar fechada num carro, num monta-cargas, a caminho da garagem]</span><span style="font-family: , arial, , serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-37601681725396947982015-11-18T11:45:00.000+00:002015-11-18T11:45:10.128+00:00Louvor - uma espécie de bem hajaTexto originalmente publicado na <a href="http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2015-11-14-Bem-haja">Visão</a><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbRfRFDYNpoH71lrclDiVR5SU5aBC2uyaPcXGrQo15M23hw50uEAQ0_zi4Ka8Skwir252EYDXDHtYh_pNFzpwN4isMQadvvGWxVwZJCrIn4bFt1gonh8IvknCzo1MFwh3smhyphenhyphenegqqxxb1k/s1600/DSC_1591.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbRfRFDYNpoH71lrclDiVR5SU5aBC2uyaPcXGrQo15M23hw50uEAQ0_zi4Ka8Skwir252EYDXDHtYh_pNFzpwN4isMQadvvGWxVwZJCrIn4bFt1gonh8IvknCzo1MFwh3smhyphenhyphenegqqxxb1k/s640/DSC_1591.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Trio-maravilha. Foto: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38; white-space: pre-wrap;">Bem haja.</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Desde pequena que esta expressão beirã faz parte do meu dicionário genético, do meu léxico sentimental — património que espero ter passado pelo cordão umbilical aos meus quatro filhos. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quem a usava amiúde — e não ‘a miúda’, como erradamente todos cantavam na épica canção dos Xutos e Pontapés, hoje uma peça de arqueologia musical, onde ficamos a saber que, de Bragança a Lisboa, eram dez horas de distância num tempo em que Portugal não era trespassado por auto-estradas e SCUT — era o meu avô materno, nascido no virar do século passado numa aldeia longínqua de Lafões.</span></div>
<b id="docs-internal-guid-bc83ce9d-1a47-a026-2d53-e70f1b6ee9b6" style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Muitas coisas se têm vindo a perder no tempo. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Há cada vez menos bem no mundo, e talvez por isso o ‘obrigada’, uma palavra bem mais agressiva e carregada do popularizado conceito de dívida, se tenha substituído a este desejo utópico de que a bondade andasse por aí à solta, com todas as benfeitorias do mundo que os homens (também) são capazes (quando andam para aí virados).</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A palavra louvor, por exemplo, caiu em desuso. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Usamos cada vez menos palavras para nos exprimirmos e para dizermos de nossa justiça, apesar de termos quase sempre uma palavra a dizer sobre tudo e em toda a parte (olhem para mim aqui, por exemplo).</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O dizer de nossa justiça é cada vez mais um dedo apontado, os pratos da balança num equilíbrio instável e volúvel: os livros de reclamações são sempre demasiado pequenos para todo o queixume que anda afiado na ponta da língua, da caneta, ou do dedo a fazer festinhas nos cristais líquidos de um ecrã sensível do nosso telefone, e as caixas de comentários dos blogues e do Facebook acumulam todo o fel e a face mais badalhoca da humanidade. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Agora, quantos de nós se dedicaram nos últimos tempos à prática do louvor? Quantos de nós deixaram um elogio escrito num livro impresso e encadernado para o efeito que não sai da gaveta ou da prateleira, ou mesmo tímida e anonimamente, algures, por aí, na grande e vasta rede, onde neste momento se cruzaram com este texto?</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Bem haja, dizia o meu avô. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É uma maneira de estar e de ser. Que anda de braços dados com o louvor, com o reconhecimento. Anda pelas ruas da amargura, e eu estou longe de os praticar com a dose diária recomendada para a qual a OMS devia alertar, deixando as salsichas em paz.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É impressionante como é tão fácil demolir e tão difícil elogiar: sobe uma timidez grotesca para assumir frontal e inequivocamente o que está bem sem um rubor nas maçãs do rosto, ou um desconforto titubeante que nos dá vontade de fugir ou escondermo-nos atrás de algo a roer uma unha. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E, depois, ainda vem o passo a seguir, a tarefa ainda mais difícil: retribuir ao próximo — que até pode ser o mesmo — na mesma conta, peso e medida. Com um bem-haja, com um louvor público afixado na parede.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pediram-me para ser especialista de assuntos de ‘Família’ e na minha família usamos palavras e expressões esquisitas, que caíram em desuso, como o bem-haja. E cada vez mais usamos a prática do louvor. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdMcRilNe3Y7ln_cPSvXVNE8utVyCWDiL8Ly965DTtadGAR2Hq-oohSb0K-XasG_RdJo8bEWGSEPeDyh-CjYHB9UnOw30dWD-MUJ_ajOkrMxadwW2A4GrAKrhCYoaD3ylwgK64YykaonZH/s1600/DSC_1597.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdMcRilNe3Y7ln_cPSvXVNE8utVyCWDiL8Ly965DTtadGAR2Hq-oohSb0K-XasG_RdJo8bEWGSEPeDyh-CjYHB9UnOw30dWD-MUJ_ajOkrMxadwW2A4GrAKrhCYoaD3ylwgK64YykaonZH/s640/DSC_1597.jpg" width="424" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vocês são maravilhosos, filhos! Desculpem os vossos pais que não vos dizem isso todos os dias. Foto: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Temos muito que dar graças. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Vamos a isso:</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na apresentação aos pais e encarregados de educação no início do ano lectivo, o director de turma da minha filha mais velha, um aparentemente indiferenciado professor da temível disciplina de Físico-Química, leccionada numa escola pública do centro de Lisboa com nome de rainha inglesa com vários milhões de intervenção de uma coisa duvidosa chamada Parque Escolar, desarmou-nos a todos, praticando essa coisa estranha do louvor.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Os vossos filhos são espectaculares”, disse. “Nunca apanhei na minha vida uma turma tão excepcional”, acrescentou. E nós, pais e mães, claro, desconfortáveis na nossa pele, uma espécie de urticária a alastrar, entre o ardor e a comichão insuportável; uma espécie de culpa, uma espécie de descrença.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas então não são umas pestes? Uns mal-educados? Uns pré-adolescentes insuportáveis que ninguém consegue controlar e ter mão? Uma geração de arrogantes autocentrados?</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E o professor de Fisico-Química, recém-colocado num concurso que, neste ano de eleições, não deu barraca, continuou com a sua lenga-lenga do bem, com um sorriso franco e aberto, deambulando pelas filas de carteiras da sala de aula, esbracejando: “Que miúdos fantásticos! Vocês, pais, estão de parabéns.”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Desde quando nos esquecemos disto? </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Qual foi o momento em que passámos do oito para o oitenta? Desde quando é que deixámos de nos maravilhar com toda e qualquer gracinha dos nossos filhos, que durante um enorme período de estado de graça foram sempre os mais lindos, os mais talentosos, os mais precoces e os mais especiais? Por que raio deixamos nós, pais, de nos deslumbrar com os filhos a certa altura da sua infância, e lhes passamos a cobrar uma perfeição absurda, à prova de erro, negando-lhes parte da sua humanidade e, ainda mais triste, amputando-lhes parte da sua infância?</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Qual é a maior façanha do professor de Fisico-Química?</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A mim fez-me corar de vergonha, revolver em fracções de segundo a minha consciência, que ficou subitamente pesada por todas as vezes em que cuspi, sem hesitar, “És sempre a mesma coisa” à mínima falha, e nos momentos em que ela foi sublime (e, caramba, já o foi vezes sem conta nos doze anos de vida que vai completar daqui a um par de semanas) ter raras vezes disparado com a mesma força: “Carolina, tu és uma miúda espectacular; és a melhor filha do mundo.”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas o maior contributo do professor de Físico-Química não é para os pais — e temo até que alguns, perdidos na sua vidinha, nem tenham ouvido o alarme que ele subtilmente fez soar em surdina. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Este professor vai mudar o curso de muitas vidas; e vê-se que já o fez antes, que já leva um certo jeitinho, que se revela pelo brilho nos olhos e os braços agitados por estar a mudar a ordem pré-estabelecida da história das vidas nos nossos filhos, que ainda não estão contaminados pelo culto do bota-abaixo — as suas defesas ainda são altas; têm um escudo fortíssimo. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eis que, de repente, os miúdos estão sentados nas carteiras, numa disciplina nova e com fama de diabólica quando, de repente, um professor indiferenciado lhes diz, sem rodeios, e com toda a lata do mundo, o que é óbvio, e que nós todos nos esquecemos — por pudor, por cansaço, por uma ditadura das notas e dos rankings, por mero descuido — de repetir todos os dias: “Vocês são uns miúdos fantásticos!” </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Desde quando nos esquecemos que isso basta para mudar a maneira como eles encaram o mundo e como se encaram a si próprios?</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A turma da minha filha mais velha — tenho a certeza — vai ter resultados extraordinários este ano. Vão ser miúdos incrivelmente mais felizes e muito mais seguros de si. E isso vai reflectir-se nas pautas.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E é tudo por causa do professor de Físico-Química, que se chama José Andrade.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Este é o meu louvor público. O meu bem-haja.</span></div>
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-50727941303765465182015-11-11T13:24:00.006+00:002015-11-11T13:24:59.456+00:00O Feminismo Tramou as Mulheres (Mas eu não me posso queixar)(Obrigada ao Sapo 24, que novamente me deixou dizer de minha justiça)<br />
Artigo originalmente publicado <a href="http://24.sapo.pt/article/sapo24-blogs-sapo-pt_2015_11_03_1168826648_o-feminismo-tramou-as-mulheres">AQUI</a><br />
<br />
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
Ouvi isto, desde sempre, fulgurosamente apregoado pela minha mãe, que decidiu estar desconfortavelmente inquieta nos antípodas da sua beleza renascentista, esculpida a cinzel em porcelana fina. Ela queimou <em style="box-sizing: border-box;">soutiens</em>, cobriu as suas longas pernas com roupas que transformavam instantaneamente qualquer saco de batata em alta costura, renunciou ao <em style="box-sizing: border-box;">rouge</em> e ao <em style="box-sizing: border-box;">baton,</em> prendeu as madeixas de ouro do cabelo num carrapito de velha. Libertou-se das cintas e dos espartilhos, mas enclausurou na solitária qualquer vestígio da sua feminilidade. Mais do que exigir igualdade, lutou pelo respeito que lhe era devido. Que é devido a todos os seres humanos, independentemente da raça, do credo e do sexo com que nasceram.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Foi feminista fervilhante no tempo da antiga senhora. Não foi fácil. Nunca o é para as mulheres. Muito menos para as incrivelmente bonitas. Mas depois o feminismo tramou-a, saiu-lhe o tiro pela culatra.</span></h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;"><br /></span>Nunca a minha mãe se serviu da sua beleza botticelliana.<br />Desprezou-a, viu-a sempre como um defeito, pior: uma deficiência, uma maldição que perseguia sempre, e que lhe dificultava o já de si árduo caminho de ser levada a sério.<br />Por mérito braçal, de jornadas de trabalho intermináveis em África — reza a lenda que Hergé se cruzou com o meu avô Manga-Manga no Congo e assim nasceu o imortal ‘Oliveira da Figueira’ —, a minha mãe cresceu numa gigantesca casa em Viseu no seu Rossio, com cortinas de brocado, móveis de madeiras perfumadas, cheios de torcidos, rococós e embutidos, tapetes da Pérsia e de Arraiolos, pratas e mármores, e um reboliço de criadas que se viam aflitas para lidar com os pioneiros electrodomésticos que vieram revolucionar a vida como hoje a conhecemos: frigoríficos, rádios e televisões.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />A minha mãe tocava piano e falava francês. Na parte mais infeliz da sua vida, foi sendo expulsa de vários colégios católicos. Era uma miúda de África: apanhava cobras e largava-as aos pés das freiras, levando-as à loucura, e suportando depois castigos medievais que se seguiam com a coragem de um soldado.<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Enquanto fazia todos os possíveis para ser excomungada (ou pelo menos regada em água benta), a minha mãe privou com a ‘fina flor do entulho’ da sociedade portuguesa.</span> Sem brasões, sem linhagens reais, ou apelidos difíceis de pronunciar, a minha mãe estava a ser educada para cumprir a santíssima trindade: esposa exemplar, exímia dona-de-casa, excelsa figura maternal.<br />Mas não era esse o seu destino.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />Teve sorte em ter um pai velho, um homem do início do século, mas mais jovem do que muitos que para aí andam no século XXI, na sua compreensão e humanismo. O meu avô foi pai pela primeira vez aos 48 anos — esteve ocupado a construir um império nas décadas anteriores —, e julgara ter estado a fazer o melhor pelo futuro da adorada primogénita, entregando a sua educação aos melhores e mais caros colégios da altura.<br /><img src="http://thumbs.web.sapo.io/?W=960&epic=V2%3ANTRhYTNhYWRlYTViMzYyYebqOanoBzG0LZndR7z4r0Fx%2BRyuLA79SuYUcm2AUT2%2F1j4jP5IS%2FRTWX4OfP3quJ4QDb72U4ILW%2BpLIuwj9t4xC9Ci%2FMAuIB201pD%2FXTSfW" style="border: 0px; box-sizing: border-box; height: auto !important; margin-bottom: 1em; max-height: none !important; max-width: 100%; min-height: 0px !important; min-width: 0px !important; vertical-align: top; width: auto !important;" /><br />Rapidamente concedeu que a fibra da filha era outra, e que o mundo era composto de mudança: se ela queria fazer diferente, tentar outro papel, restava-lhe a ele apoiar a sua marcha solitária, tratá-la exactamente da mesma forma que aos dois filhos homens.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Ser uma grande mulher não tem a ver com carreiras brilhantes, e feitos que mudam o curso do mundo.</span>No decurso desta história, a feminista desiludida de que vos falo, e que é por acaso minha mãe, deixou dois cursos superiores de Medicina e Farmácia a meio, para cuidar dos filhos. Não foi a mulher-bibelô que podia ter sido: era tão linda, que podia ter ‘casado bem’ (expressão que hoje ainda se usa tanto por aí). Rebelde com causas, casou com um artista, o meu pai, uma alma livre e por demais desprendida destas coisas de que se faz o dia-a-dia, como pagar contas e ter comida no prato e roupa lavada. A minha mãe foi, por isso, obrigada a mutar-se em mulher-amazona, criando dois filhos totalmente sozinha.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />Fez um brilhante trabalho: devemos-lhe tudo o que somos, e a nossa fibra é a dela, corre-nos no sangue. Esta é a grandeza dessa mulher a que chamo mãe, que nunca se arrependeu da escolha que foi obrigada a fazer. Por amor. Pôs o feminismo na gaveta. Haverá alguma coisa mais poderosa do que uma escolha de amor?</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />Eu, desde pequena, que digo que quero ser mãe e dona-de-casa.<br />Digo isto e todos acham que estou a gozar.<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">A minha mãe tem razão: o feminismo lixou as mulheres, incluindo aquelas que, como eu, queriam ser mães e donas-de-casa, e que renunciariam sem hesitações ao seu lugar no exigente e canibal mercado de trabalho. O feminismo também devia ser isso.</span><img src="http://thumbs.web.sapo.io/?W=960&epic=V2%3AODcwZWVhNTE4ZDY4ZTA2MxBfX25I7t%2BtyxbpEOjRC0g6SnMzyoHBbf9vWzgJWIfunEhzNxaz7VeGlOFYMOEtD6rtOL88tfEodXLZuFl%2F%2BRCFK0oAM9dRnGuDlJkLHI8l" style="border: 0px; box-sizing: border-box; height: auto !important; margin-bottom: 1em; max-height: none !important; max-width: 100%; min-height: 0px !important; min-width: 0px !important; vertical-align: top; width: auto !important;" /><br />A minha mãe soube-me sempre capaz de feitos incríveis (todos nós somos: basta termos quem acredite e nos garanta que sim), confiou na (sua) genética e na força do cromossoma xis. Dobrou quase totalmente o meu âmago astrológico de caranguejo, de querer viver todos os segundos da minha vida para a família e para a construção e desconstrução de um ninho, desistiu a certa altura de tentar impedir-me de me embonecar toda, usar saltos altos e decotes grandes (e não nasci esculpida pelo mesmo mestre que ela),mas ainda trago algum ressentimento e muita incompreensão pela sua recusa em comprar-me uma máquina de costura quando era miúda e desejava a Singer mais do que a Barbie, e de ter esperado até aos meus 30 anos para me ensinar a fazer crochet (o meu e seu poderoso e altamente adictivo ansiolítico natural).</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />Fez tudo para matar a Fada do Lar que há em mim. Não conseguiu totalmente, mas o feminismo também já me lixou a mim também.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />O destino trocou-me as voltas. Parece que corre na família este desaire.<br />É certo que ao menos vivo o sonho de ser mãe — e tenho o privilégio de ser mãe a multiplicar por quatro (muito perto daquele sonho de infância cor-de-rosa). Só que trabalho que me desunho (e por acaso desunho mesmo; parti há instantes uma unha a escrever este texto, que já vai longuíssimo), dentro e fora de casa, e às vezes não há como evitar: falto às reuniões da escola (nem sequer sou a encarregada de educação, já para reduzir as minhas falhas e ansiedade a níveis suportáveis), e já houve dias da Mãe e festas de Natal em que não apareci. Quase nunca fico com as crianças em casa quando têm febre e só querem a mãe, e por vezes chego tarde a casa, e cansada, depois de as rotinas de amor já terem sido executadas magistralmente sem eu lá estar para, pelo menos, assistir.<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Mas já não me consumo com esta inevitabilidade de não conseguir estar em dois sítios ao mesmo tempo e de grande parte das vezes ter de fazer a escolha errada: a escolha do trabalho em vez da família.</span> Sinto uma picada de dor fininha, mas já não me flagelo pelas minhas ausências, que tento que sejam as mínimas e as indispensáveis.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />Tenho uma família muito grande para os parâmetros actuais, e não quero que nada lhes falte. Por isso não paro, estou sempre inquieta, ou não fosse, ao que dizem, neta do ‘Oliveira da Figueira’ do Tintim.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />A minha mãe fez de mim uma líder.<br />Estou (por agora) incansável. Atrevo-me até a dizer invencível.<br />Mas tenho um trunfo que a minha mãe não teve: eu não faço esta viagem sozinha, não travo esta batalha de ser uma mulher e ter sucesso sozinha.<br />Ao meu lado (e não atrás, não é uma mera inversão do género do provérbio tristonho do ‘Atrás de um grande homem está uma grande mulher’) tenho um homem que não ‘ajuda lá em casa’ (outra frase feita do feminismo que entalou a grande maioria das mulheres).<br />Tenho ao meu lado um marido esculpido a cinzel (tem o nariz mais perfeito do mundo — quem dera que os nossos filhos tenham o teu nariz) que faz, que faz inclusive mais do que eu, que ando sempre de um lado para o outro a sirigaitar em tantos palcos, arenas e ringues.<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Sou uma grande mulher por causa deste grande homem, que me facilita tudo, e nada me cobra.</span> Construo com ele a família numerosa com que sempre sonhei (até tenho dois filhos loiros e uma tem olhos azuis; é tudo como nas revistas), e que me elevou ao ponto alto de onde escrevo estas linhas. Ele fica na sombra porque quer — não gosta mesmo de holofotes.<br />Para mim ele é uma sombra fresca, é a minha sombra, inseparável, é o meu refúgio de paz. Este homem que tive a sorte de encontrar é único no mundo; é a generosidade revestida de pele e ossos. Eu tenho um homem que me deixa ser uma mulher de sucesso, sem culpas, sem acertos de contas, sem se sentir emasculado ou diminuído.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Vivo com um feminista ferrenho. Este é o homem que casou comigo e que, para espanto de todos, adoptou o meu último apelido no seu nome</span>, em último lugar, e depois fez aplicar a mesma regra no nome dos nossos filhos, na simples constatação de que as mulheres também podem passar o seu nome pelas gerações; não é território só dos homens.<br />Não minto também se vos disser que não sei há quanto tempo não ponho roupa a lavar, ou no estendal, que há anos que não tenho nada a ver com o caixote dos gatos, e que o cão também nem se lembra do que é ir comigo à rua, ou que mesmo as minhas adoradas orquídeas, aquelas que coleccionava mesmo antes de ser mãe, é ele quem cuida delas (deixo-o ser desarrumado à vontade, acho que já não refilo tanto com a bagunça: pelo menos faço um esforço para não me tirar do sério). Nunca me falou com maus modos (e todos temos dias maus — eu não posso dizer o mesmo, infelizmente já fui parva com quem só me fez bem ao longo de quase dez anos) e só muito de vez em quando os nossos quatro filhos o tiram do sério.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br />Sei que não inverteremos nunca os papéis. Ele é das pessoas mais brilhantes e inteligentes que conheço, mas não tem absolutamente nada a provar a ninguém e o feminismo não o pôs entre a espada e a parede. Eu visto as calças (na verdade esta também é uma imagem parva porque eu quase nunca visto calças) e ele, que também trabalha que se farta a partir de casa, na profissão mais solitária do mundo, a de tradutor e revisor, cuida da família, esse território outrora exclusivo das mulheres.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Sejamos justos: o feminismo afinal não me tramou assim tanto.</span>Agora tenho duas gigantescas missões — garantir que as minhas três filhas se sentem, como eu, capazes de ser e fazer o que bem lhes passar pela moleirinha, mas, mais importante ainda, educar o meu filho a ser tão feminista quanto o pai.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br /></h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 26.1px; margin-bottom: 1.01529em;">
<br /><span style="box-sizing: border-box; font-weight: 700;">Nota final muito importante</span>: Na empresa onde trabalho no ofício cada vez mais difícil da comunicação e da assessoria de imprensa, há quatro colaboradores com quatro filhos. Há pelo menos um com três, e dezenas com o casalinho ‘piroso’. Neste momento estão três bebés para nascer até ao final do ano: um verdadeiro <em style="box-sizing: border-box;">baby boom</em>. Somos uma empresa líder de mercado, posição que conquistámos e garantimos, pela excelência dos serviços prestados pelos melhores profissionais. Eu e os meus colegas temos um dos trabalhos mais exigentes e stressantes à face da terra, e ainda assim esta empresa regista uma taxa de natalidade muitíssimo superior à da média nacional. Alguma coisa corre verdadeiramente bem por aqui. O que é essencial quando falamos de igualdade e oportunidades. Devo também ao meu patrão e à segurança social portuguesa a possibilidade de, por duas vezes, ter podido tirar oito meses de licença de maternidade, uma pausa longa e importante no ritmo frenético, e que me permitiu ter a certeza que nasci mesmo para ser mãe e dona-de-casa.</h3>
<div style="height: 0px;">
x</div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-52562641886290263292015-10-30T13:40:00.003+00:002015-10-30T13:40:40.640+00:00Dia das Bruxas<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjn8VrYJDZAr3nGAZtjiAkqLJasG92P-zv2LFVmKqlKoDlW8yChXjEmY25lE90-j6Vs_3GycQBpyObUV_pzp5I57B3djZRqoe3JwihzpmPw61Akf_wHCatPKhI3r-XSfWn1rSMU7Jo2Fvz/s1600/WP_20151030_002+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjn8VrYJDZAr3nGAZtjiAkqLJasG92P-zv2LFVmKqlKoDlW8yChXjEmY25lE90-j6Vs_3GycQBpyObUV_pzp5I57B3djZRqoe3JwihzpmPw61Akf_wHCatPKhI3r-XSfWn1rSMU7Jo2Fvz/s640/WP_20151030_002+%25282%2529.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Bruxa Pré-adolescente fez sozinha esta grande e maléfica produção. Porque a mãe este ano não foi capaz.<br />FOTO: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Assim mesmo, em Português.<br />
A língua inglesa cai sempre bem, mas eu sou pelo Dia das Bruxas e não pelo Halloween.<br />
<br />
Outubro acaba amanhã e estes têm sido dias incrivelmente duros.<br />
<br />
Faço de tudo um pouco para não admitir que a vida, por uns tempos, não vai ser igual ao que era.<br />
A minha mãe recupera, mas as limitações são evidentes e as dificuldades gigantescas. É uma luta constante, há melhoras num dia, e recuos brutais no outro. Ela sofre e todos nós sofremos porque depois de sobreviver vem o trabalho mais difícil. E também mais demorado.<br />
<br />
Nos primeiros dias, flutamos na bolha poderosa da adrenalina da sobrevivência . Queremos dar graças por tudo, a sensibilidade está à flor da pele - dizemos a toda a hora 'amo-te tanto', 'és tão importante', 'não posso viver sem ti', 'luta por mim', 'vais conseguir', 'vais melhorar', 'não tarda vais para casa'. Olhamos para o céu e ele está cinzento, mas preferimos deter-nos no bando de papagaios loucos, que são verdes, como a esperança, e que andam por ali a fazer razias aos carros, nos parques de estacionamento do Santa Maria.<br />
E depois essa adrenalina esbate-se, fica em lume brando, e o cansaço, pela primeira vez em muitos meses, põe um pezinho fora de casa, e começa a fazer das suas, devagar, devagarinho, vai soltando as gânfeas.<br />
<br />
As bebés, que lindas, têm um sexto sentido, anteninhas sensitivas. Que crescidas e responsáveis.<br />
De um momento para o outro, a Isaurinha, que nunca dormira mais do que três horas seguidas, e todas elas ao meu lado, na minha cama, passou a repousar entre oito a onze horas por noite, no seu quarto, dentro do seu berço novo, quase a estrear. Já a Aurorinha decidiu que não quer usar fraldas e, também de um momento para o outro, sem qualquer intervenção parental, decidiu que o controlo dos esfíncteres era prioritário e banal.<br />
<br />
Filhinhas queridas, também elas souberam que tinham que dar um pequenino contributo para que estes dias estranhos e difíceis, em que vimos a vida toda revirada, passem depressa para que tudo volte em breve a uma nova normalidade.<br />
<br />
A Família está ainda em modo de emergência: dividimos tarefas, revezamo-nos nas responsabilidades acrescidas que agora temos.<br />
Há quase um mês que não vamos todos nadar, uma das nossas rotinas quase diárias de prazer.<br />
Este ano não fiz uma mega-produção de Dia das Bruxas (apenas a Carolina, que já tem idade para se desenvencilhar fez esta produção maléfica).<br />
Isto não é um queixume. É um pedido às bruxas e a todos os Santos que se seguem, e também ao São Martinho, para que nos traga rápido o seu Verão.<br />
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-67063382329494656082015-10-27T17:45:00.002+00:002015-10-27T17:45:41.148+00:00Mais Serviço Público - A melhor babysitter do mundo é minha irmã<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="text-align: justify;">Passei toda a minha infância rodeada e acompanhada de homens: irmãos homens, primos homens, e nos logradouros de Alvalade também era tudo bons rapazes... Só rapazes, bem mais velhos, e eu, uma espécie de mascote preciosa, talismã da sorte, a protegida.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Os homens da minha infância deixaram-me entrar no seu mundo desde tenra idade. E eu nunca mais de lá saí. Faço parte de uma irmandade subjacente a ter um penduricalho entre as pernas. Não tenho um, mas deixaram-me lá ficar; era pequenina, inofensiva. Com isso ganhei um vocabulário de carroceiro, fui usada como isco e distracção para roubarem Ginas, chocolates e pastilhas e outras pilantragens. Mas protegeram-me sempre. A verdade é que a rapaziada me passou regras de amizade e camardagem bem simples, que poucas mulheres entendem. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Jamais, e em tempo algum, fui Maria-Rapaz, mas os rapazes incutiram-me o código da rua proibe todas as calúnias menos chamar nomes às mães (tão simples quanto isso). </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
São os meus melhores amigos. Ainda hoje lido muito melhor com o universo masculino, e sinto-me muito homem (apesar das mamocas generosas que quatro gravidezes me deram como recompensa). </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Devo muito aos homens da minha infância (incluindo o meu irmão mais velho) e depois aos homens da minha idade adulta, mas acalentei sempre o sonho de ter uma irmã, alguém com quem dividir o quarto, paixões assolapadas, dramas existenciais, e a gilette das pernas.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Ganhei três irmãs quando casei com o João. Duas ruivas uma morena. A Joana é a mais nova - mana linda-amuleto da sorte, que me deu o sobrinho mais delicioso do mundo que, aos cinco anos, passa horas ao telefone, contando-me todas as suas tagarelices da semana (vai ser jornalista ou assessor de imprensa como a tia). </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
A Joana é a mana que eu sempre pedi.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Ela acabou agora o curso de Educadora de Infância e luta por uma oportunidade de trabalho. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Tem já um currículo e experiência invejáveis: criou duas gémeas desde a nascença (até ingressarem no jardim de infância), enquanto tirava o curso superior, tem experiência em ATL e campos de férias. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Enquanto (ainda por pouco tempo) continua a engrossar as estatísticas do IEFP e do INE, decidiu oferecer os seus serviços de babysitter.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
E é uma honra para mim poder ser a primeira a falar dos serviços da Joana e a recomendá-los: foi a esta menina que entreguei e confiei os meus filhos, pela primeira vez na vida, durante a semana inteira que estive, este Verão, na Noruega. Os miúdos até ficaram tristes quando regressámos.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Aqui fica o serviço público. Usem e abusem, pais. É à garantia.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-ihgQwJMoefS3f-ANAm9bcEX6g1UpiEfPFQZRnJgcIceBucFwsSaG7BIFHVx8a4p7HzrIfgpdzpcPcQfn3sH8uhR_GvjuR6-Vv706Jh5VTsS62LePCQyq8y668ScOREe_MxrosGI5QKTw/s1600/12194173_943383885709978_765973638_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="580" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-ihgQwJMoefS3f-ANAm9bcEX6g1UpiEfPFQZRnJgcIceBucFwsSaG7BIFHVx8a4p7HzrIfgpdzpcPcQfn3sH8uhR_GvjuR6-Vv706Jh5VTsS62LePCQyq8y668ScOREe_MxrosGI5QKTw/s640/12194173_943383885709978_765973638_o.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-90695644904447839402015-10-26T13:11:00.003+00:002015-10-26T19:46:58.126+00:00Sobre Viver (um post com serviço público lá para o último parágrafo)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_SXw_mnVabKsG4bj6daot1491jREb09s-E79dppThvZXDOGWgdEs6aBFuVK5vAW_haQeTX8yEZ4BRs3fm4wMVq_IW_HMvGtHbkq6s68rxlSLdThGX6gWenHIu9WDqms2JUjztwSkxbL04/s1600/DSC_0315+%25281%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_SXw_mnVabKsG4bj6daot1491jREb09s-E79dppThvZXDOGWgdEs6aBFuVK5vAW_haQeTX8yEZ4BRs3fm4wMVq_IW_HMvGtHbkq6s68rxlSLdThGX6gWenHIu9WDqms2JUjztwSkxbL04/s640/DSC_0315+%25281%2529.JPG" width="418" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Os anjos não têm costas. <br />
Esta semana o bebé aprendeu a levantar-se. Não tarda nada caem-lhe as asinhas e começa a andar. <br />
Foto: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Ao longo da vida vamos engolindo muitas verdades que tínhamos como absolutas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Esqueçam sapos que viram príncipes - engolimos sapos, não os andamos para aí a beijar.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A digestão dessas verdades que o deixaram de ser vai-se tornando cada vez mais fácil e menos peçonhenta, porque aprendemos muito com o desconforto da azia que sobe até às bochechas por termos feito figura de parvos, e a vergonha do descaramento e arrogância que tivemos ao achar que tudo sabíamos, do alto do pedestal do nosso ego.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Crescemos, envelhecemos e, à partida, se tudo estiver a correr pelo melhor, vamos ficando mais sensatos e com menos sangue na guelra. Ficamos mais abertos a ouvir o outro, os seus argumentos e, quem sabe, a mudar a nossa opinião sem vir mal ao mundo, sem trairmos os seres únicos e imperfeitos que somos, ou a desviarmo-nos da essência e do projecto em construção que vamos levando por esta existência fora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Claro está, e daí a ressalva, esta é ordem natural das coisas, quando tudo está bem e encaminhado.<br />
<br />
Vivemos e aprendemos. Mas nem sempre assim é. Não há nada mais tóxico do que apanhar com a amargura requintada e requentada da velhice, e ainda ontem tive que levar com a má onda pestilenta de uma velha bruxa, na minha aula semanal de hidroginástica, permanentemente zangada com a alegria contagiante da professora. 'A menina é jovem e não percebe como é que esta gritaria toda me perturba'. Tudo perturbava o raio da velha e dei por mim a desejar que ela tivesse uma caibra para não contaminar a água toda com aquele amargor.<br />
<br />
Tentarei ser magnânima para a próxima. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Durante muito tempo não estive tão aberta à mudança e à certeza de que posso sempre aprender alguma coisa com o próximo. Sempre me senti um extraterrestre em grande parte dos meios onde tive que me adaptar para sobreviver, e usei amiúde a soberba de uma pretensa superioridade intelectual para camuflar algumas das minhas fragilidades e fraquezas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sou perfeita, estou muito longe disso, tenho é um caso severo e galopante de perfeccionismo, que não é bem a mesma coisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não me esqueço nunca o desdém de dondoca afectada com que recebi, certo dia, a sugestão e ajuda que uma simpática cabeleireira me ofereceu para arranjar uma vaga numa creche para a Carolina. Mas a creche era no Intendente. E eu, feita parva, nariz empinado e emproado: «Ó Mila, mas eu tenho cara de quem põe os filhos numa escola no Intendente?»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que grande idiota.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pouco mais de ano separa esta cena que aqui conto em jeito de acto de contricção e o soluço monumental que a vida deu. Eu e o João encontrámos a casa mais bela de todas onde já deixámos um rasto da nossa história.<br />
E era onde? No Intendente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Carolina e o António entravam também na melhor escola do mundo: a Associação Pro-Infância Santo António de Lisboa (APISAL), a quem agora confio também a Aurora e a Isaura.<br />
A tal escola que a Mila me falava depois de me cortar uma franja ridícula que me fazia parecer uma menina doce. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(Arroto, que tonta, que verdade absurda tão bem engolida)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No primeiro dia de escola, a Carolina tornou-se a rainha do primeiro ciclo - e eu recebi logo propostas indecentes dos catraios: 'Ela é tão linda!', disse-me um ao fim da tarde, pedindo-me permissão para namorar. Do lado oposto, na creche, entreguei o bebé gordo, anafado e mimado que era o António a uma mulher negra, de sorriso gigante e coração resplandecente, que se chama Abi.<br />
Ela abraçou-me e secou-me as lágrimas da separação, garantiu-me que não o deixaria chorar. E não deixou mesmo. Algum tempo depois soube que adormecia o seu 'Antoine' ao colo, às escondidas, no seu colo fofo.<br />
É um privilégio ter uma ajuda destas, uma verdadeira escola dos afectos, ali no mal-amado Intendente.</div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ZGjSuCSPqpf5SgATSJ5fKG-21HhnCYu6OxYMQp4ojoBSqaEZQ5p80X_Jo8SShIovKdW54RgeTQFrW2_HyPMSEOmJWubYmnsxi4sypwhqvB-mn6yE_VBAJVUWCl1a2hWNSirptD9Y9YgS/s1600/IMG_0606.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ZGjSuCSPqpf5SgATSJ5fKG-21HhnCYu6OxYMQp4ojoBSqaEZQ5p80X_Jo8SShIovKdW54RgeTQFrW2_HyPMSEOmJWubYmnsxi4sypwhqvB-mn6yE_VBAJVUWCl1a2hWNSirptD9Y9YgS/s640/IMG_0606.JPG" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A Isaura com a boneca Abi. Foto: APISAL.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Muitas, tantas outras vezes estive errada nas minhas bujardas e sentenças, e preciso ainda de confessar esta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando estava grávida do António lembro-me da perplexidade inflamada que exprimia pela opção da minha vizinha Helena, tão jovem, tão trabalhadora, e a caminho do seu sexto filho. Agora sou eu que tenho quatro e atinjo que não é nenhum bicho de sete cabeças. Frases-feitas como 'eu não tenho capacidade para ter mais do que dois filhos', ou 'os miúdos pequenos dão cabo do casamento e do romance', entre outras pérolas, são redutoras, vazias de significado. Para mim, que me vi confrontada com este fabuloso destino, deixaram de fazer qualquer sentido: não me revejo e não me venham dizer que tenho super-poderes, porque não tenho. E as certezas inabaláveis sobre aquilo que vai ser o meu futuro e a minha vida não as tenho.<br />
De repente, tudo muda. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Haja o que houver tento ter mais tento na língua. Ainda não cheguei ao ponto em que escuto mais do que falo, mas para lá caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É fácil cagar sentenças, alimentar o monstro do preconceito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
«Devem ser do Opus Dei», «Então mas não sabem o que é a pílula?», «Onde é que arranjam o dinheiro para alimentar aquela gente toda?»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando a família atinge as (modestas) proporções da nossa, temos constantemente um elefante na sala. E esse elefante grita-nos que temos que ir comprar leite, pão, fraldas, arroz, massas, carne, peixe... Iogurtes (meu Deus, tantos iogurtes!).<br />
<br />
Também temos que vestir as criancinhas, que não aguentam a roupa de uma estação para a outra e, bolas, procriámos cedo de mais e ninguém raramente tem nada para nos passar; nós é que passamos tudo para os primos e amigos! Como já ninguém tem sótãos ou arrecadações - pelo menos quem decidiu ficar por Lisboa sem as comodidades da construção nova do subúrbio -, o exercício de guardar de uns para os outros é cada vez mais difícil (lá está, sobretudo quando já se teve que improvisar um quarto onde existia uma sala, porque houve uma filha linda que decidiu aparecer sem avisar os pais). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É um constante malabarismo.<br />
E o elefante sempre a chicotar-nos com a tromba para nos mantermos na linha e tocarmos a sineta para recebermos a recompensa pelo trabalho bem feito!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ter uma família numerosa exige alguma organização e planeamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não somos neuróticos com essa necessidade de planificar tudo ao detalhe - ninguém faz grandes listas, nem menus semanais (tenho um sonho de planificar refeições, confesso), não temos as roupas alinhadas por cores ou tamanhos (apesar de eu já ter tentado quando era solteira e boa rapariga), e também não organizámos a cozinha de uma forma muito lógica, e vemos isso pela inabilidade de a empregada que está connosco há uns cinco anos em dominar o mapa das canecas, pratos, copos ou os <i>tupperwares</i>.<br />
Fazemos deliberadamente uns apontamentos de loucura e arbitrariedade à nossa vida e à organização do lar, porque, caramba, de outra forma, tudo certinho, seria uma monotonia em tons de cinza.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No nosso âmago, eu e o João somos uns despassarados com a cabeça no ar. Somos da matéria que se fazem os sonhadores. Mas vimo-nos obrigados a atinar para levarmos este empreendimento avante. Dominamos todas as burocracias com as Finanças e Segurança Social como ninguém. Vencemos esse labirinto e somos uma espécie de guru para os nossos amigos, que nos vêem como especialistas a vencer a turtuosa máquina do Estado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As compras para a casa são uma dor de cabeça, mas temos um ritual, com o qual me tento divertir, como num jogo de telemóvel de encaixar as pecinhas todas umas nas outras, ordenando o caos e ganhando pontos extra. Tiro mesmo grande prazer numa pechincha. Mais do que aquele que retiro ao comer um chocolate.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca há monotonia no momento de encher a despensa e, com dois bebés a gastar fraldas, a escolha do supermercado passa simplesmente por apurar onde existem Dodot Activity com 50% de desconto. Não compro por menos de 50%, ou seja 9,99 euros. São as melhores fraldas do mercado, absorvem como nenhumas outras, e acumulo-as sempre que as encontro em promoção, até porque a pilha enorme de pacotes desaparece quase por artes mágicas (o provérbio 'Parece manteiga em nariz de cão' aqui seria 'parece fraldas em rabo de filhas'). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este fim-de-semana fomos ao Jumbo. Há duas semanas tinha sido no Lidl. (Abençoados sejam os grupos de Mães do Facebook e a solidariedade entre mulheres - Love you, <a href="http://www.facebook.com/groups/just4ourmoms/">For Moms!!!</a>)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi uma decisão difícil e penosa, mas desistimos das compras <i>online. </i>Recorrentemente os artigos em promoção entram em ruptura de <i>stock </i>e não são entregues. Quando uma família baseia o seu carrinho de compras em promoções, deixaram de estar reunidas as condições para esta ajuda enorme que era fazer as compras pelo computador, pela madrugada fora se necessário fosse e sem crianças descontroladas a exigirem açúcar e <i>snacks</i> cheios de gordura e sal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro dia o <a href="http://www.continente.pt/">Continente</a> deu-se conta que deixámos de gastar milhares de euros por ano no seu serviço <i>online</i> e, viajando perfeitamente na maionese, contactou-me telefonicamente pedindo-me para que perdesse uma tarde da minha vida para um <i>focus group</i> onde pudesse expor e avaliar o que tinha corrido mal!!!!<br />
«Mas não podemos fazer isso por telefone? E por Skype? Não? Opá, vocês são engraçados: então acham que alguém vos vai aí dizer seja o que for??? Está a ver: as pessoas que fazem compras <i>online</i> não têm tempo para ir aos supermercados! Muito menos para estar enfiados em estudos de mercado!».<br />
Enfim, CRM para loucos! Incompreensível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O meu desencanto com a grande distribuição portuguesa e a Internet na era das promoções bombásticas sai-me do pelo. Obriga-me a perder parte da manhã de um Sábado ou de um Domingo nas grandes compras da semana (e são sempre grandes, mesmo que depois avie os frescos, a carne e o peixe na Praça ou nas mercearias / frutarias de bairro). Vou para arena do hipermercado com quatro crianças atreladas, duas em carrinho de bebé. É pior pesadelo para um jovem casal de pais já muito cansados da semana infindável de trabalho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas tudo se faz. </div>
<div style="text-align: justify;">
E no final do dia há uma sensação de superação e vitória que penso ser idêntica à de um atleta de alta competição.</div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinLKk6bfsYxueWGzrUo81ksKPNGt_HWUAn_1IoVMmA1kLAscfUFQhdq7yhyfgWXXKg8vmR1JNOmxz2tH1Vdpv7KuHcE0DW1GoPYj3yJbnGau2JWTbJygrQQugMgARLGks3Hyx6nyQlRVGx/s1600/WP_20151018_003+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinLKk6bfsYxueWGzrUo81ksKPNGt_HWUAn_1IoVMmA1kLAscfUFQhdq7yhyfgWXXKg8vmR1JNOmxz2tH1Vdpv7KuHcE0DW1GoPYj3yJbnGau2JWTbJygrQQugMgARLGks3Hyx6nyQlRVGx/s640/WP_20151018_003+%25282%2529.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ao fim-de-semana os pais também têm trabalhos de casa: vassouras de Halloween pirosas!<br />
O António sobrevive à bebedeira do cor-de-rosa... FOTO: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Nas roupas, quem me conhece, sabe o meu histórico de pirosa em estado terminal. Não sou uma mãe que vive para os lacinhos do cabelo das filhas, ou para as carneiras dos filhos, mas gosto de brincar às princesas - e, minha gente, tenho três miúdas cá em casa: é a mesma coisa que pôr um drogado na Colômbia!<br />
<br />
Quando tive a Carolina e a redacção do Público foi muitas das vezes o seu jardim-de-infância, a editora de Política dizia-me sempre, em jeito de gozo e provocação: «Mas porque é que tens que vestir a miúda de reposteiro?»<br />
O tempo passa mas continuo a vestir as minhas filhas de reposteiro.<br />
Não há cá <i>leggings</i>, nem gangas (só em último recurso), nem fatos de treino.<br />
<br />
E sabem como é possível?<br />
Porque me deixei de pudores e pruridos ao dado e ao comprado em segunda mão.<br />
Para além dos grupos de Facebook específicos (com grupetas divinas, onde já fiz belos negócios e boas amigas), há uma coisa extraordinária que bate tudo, chamada <a href="http://www.facebook.com/portugalhumana">Humana For People</a> (tem quatro lojas no eixo da Avenida Almirante Reis - desde o Areeiro, passando pelo Chile, em frente à Portugália, e acabando no Intendente).<br />
<br />
Passo agora para a parte deste texto de serviço público: esta semana a Humana está a despachar duas peças de criança (quaisquer que sejam as peças - casacões de Inverno incluídos) a 2 euros. Ou seja, cada peça custa uma moeda de eurito - nem um queque se compra por um euro hoje em dia.<br />
<br />
Minha gente, a renovação de Outono da Isaura e da Aurora custou seis euros.<br />
<br />
Olha eu a fingir que sou um blog de moda, a preços da uva mijona!<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9OEj2IH7MK8ADoF6y2zfpZkwNn40FJeH3Tuhx6ZrrCq-10ckm93Q4dTHzzUrhT99WOCRNIWJyufQOl7XBKQ31xvRMSk2M9PVR1hAy6JR5FdaX5NZSoCh0U0zUsK7po6Kbk4pfFl2OPUQx/s1600/WP_20151025_009+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9OEj2IH7MK8ADoF6y2zfpZkwNn40FJeH3Tuhx6ZrrCq-10ckm93Q4dTHzzUrhT99WOCRNIWJyufQOl7XBKQ31xvRMSk2M9PVR1hAy6JR5FdaX5NZSoCh0U0zUsK7po6Kbk4pfFl2OPUQx/s640/WP_20151025_009+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quatro vestidos de boas marcas e duas malhas: meia dúzia de euros. Imbatível. A Farrusca não está à venda. Foto: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
Isto é não é sobreviver; é sobre viver. É saber viver.<br />
<br />
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-41925945653547171092015-10-23T11:32:00.004+01:002015-10-23T11:38:05.446+01:00Ocaso - A Odisseia<div dir="ltr" id="docs-internal-guid-5c12261a-9193-ed15-4a8d-f1b3960934c7" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Ulisses virava muitas vezes a cabeça para o sol que tudo ilumina, desejoso de ver o ocaso: pois só pensava no regresso</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: x-small; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Homero, Odisseia, trad. Frederico Lourenço, XII, vv.28-30.</span></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMlZ1ol-pULKK2sDi47ES35M-kylPHk0saZigdBzrQl3760ifqujzMo6W7HEXCdFwaL_QHIyKkbL1LwH6TEZqdeegbQa5ULfvKAUztAfDODLbFlDFu_KH7wfeXiL6kJPe6piW6P49S5eyw/s1600/WP_20151014_006+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMlZ1ol-pULKK2sDi47ES35M-kylPHk0saZigdBzrQl3760ifqujzMo6W7HEXCdFwaL_QHIyKkbL1LwH6TEZqdeegbQa5ULfvKAUztAfDODLbFlDFu_KH7wfeXiL6kJPe6piW6P49S5eyw/s640/WP_20151014_006+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Dia 3 da Odisseia. 53 anos separam avó e neta. Só mesmo meio século e três anos as separam: são em tudo idênticas. </td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38;">Regressar a casa.</span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Ulisses só queria voltar a casa. Esse desejo norteou-o, guiou-lhe os passos na sua incrível Odisseia. Guerras sangrentas, ciclopes, sereias, feiticeiras, a ira e a compaixão dos Deuses, profecias e prenúncios, esperança e coragem, desespero e agonia. Mas Ulisses, o herói da grande Odisseia, empreendeu toda as suas forças e engenho para voltar a casa. </span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O ocaso. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Ulisses desejava o ocaso, o dia a quedar-se no horizonte. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O dia que nasce e ilumina tudo nada encerra: traz consigo a angústia do leque aberto com todas as possibilidades. Depois h</span><span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38;">á dias para todos os gostos - há dias mornos, em que nada de extraordinário acontece, há dias de tempestades no mar e na terra, em que a força dos Deuses se faz sentir como um rugido das profundezas mais longínquas do coração da terra. Há dias em que sol corta como uma faca afiada, e outros há em que se limita a aquecer a alma e a guiá-la por atalhos piedosos que encurtam a viagem. </span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38;">Os dias deixam tudo em aberto. Mas o</span><span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38;"> ocaso encerra sempre um dia da jornada, u</span><span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38;">m dia a menos para o chegarmos ao sítio onde somos esperados. E somos sempre esperados algures.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Dez dias passaram desta Odisseia. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Ulisses esperou dez anos e outros dez para voltar a Ítaca.</span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Connosco os Deuses foram mais brandos.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Teria talvez a idade da minha filha mais velha quando eles, os Deuses, me acordaram com um ruído ensurdecedor que me fez expandir os pulmões em toda a sua capacidade, e abrir muitos os olhos com uma explosão de negro da pupilas, num acto de automática sobrevivência. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Uma tarde destas, uma mulher sofrida descrevia-me em detalhe o momento em que sobreviveu e, acto contínuo, renasceu, numa cama de hospital. Ouviu, segredou-me ela, o barulho das suas pestanas a baterem umas nas outras, como as asas de borboleta. Nessa manhã em que eu era menina e, que agora recordo, numa odisseia pelas minhas recordações mais profundas, cicatrizes que não podemos - espero - esquecer ou camuflar, levantei-me da cama em sobressalto e alarme, e fui atingida, à porta do meu quarto, pela primeira imagem de caos em que a vida se pode transformar, de um breve instante para o outro: </span><span style="font-family: Arial; font-size: 14.6667px; line-height: 1.38;">os gatos da minha mãe haviam tombado um frasco de vidro muito alto e estreito, recheado de berlindes e abafadores de vidro de todas as cores (os meus favoritos eram os nacarados, como as pérolas), que, libertos, rolavam, esgazeados e barulhentos, numa maré-viva descontrolada por toda as assoalhadas da nossa casa.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Os guelas andam por aí soltos há dez dias.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Era um dia de chuva, o mar estava revolto, zangado, e eu revoltada e zangada com ele, porque não era dia para maus fígados de Neptuno. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Acabara de casar a minha madrinha de casamento -- feiticeira que me ajudou a passar ilesa por mares povoados de sereias mortíferas, para poder chegar à porta de um prédio de seis andares com vista para o Jardim da Estrela --, quando o telefone tocou, e o frasco de berlindes se estilhaçou de novo aos meus pés, com um estrondo tão forte como o de um relâmpago de uma trovoada seca de Verão.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Só que agora eu não era menina, mas tinha comigo quatro meninos, que não podia assustar com o pânico que me invadia e rebentava, uma a uma, as mais automáticas funções do meu ser: falar, respirar, mexer os braços e as pernas, piscar os olhos (ouvi, porém, as minhas pestanas a bater umas nas outras, numa agitação de asas de colibri).</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Fiquei congelada, o sangue fugiu-me das bochechas, e uma tontura quis levar-me a dançar uma valsa louca. Fiquei a olhar fixamente para os olhos do João, e contei-lhe detalhadamente por telepatia o que acabara de acontecer. Fiquei à espera de uma ordem dele para começar a reagir. Rápido e coordenadamente, sem atropelos, ou pânicos.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A bebé chorou e eu dei-lhe de enfiada duas papas da Bledina. Talvez tenha batido o recorde de dar papas Bledina do mundo. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O tempo parou, ou eu parei-o para conseguir processar tudo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O espaço também se bifurcou, na sua linha contínua: noutro local, precisamente ao mesmo segundo, a minha mãe estava a ter um AVC, ia a caminho do hospital, já perdera a capacidade de falar. E nós acabáramos de casar a nossa amiga Teresa, madrinha do nosso casamento, havia pétalas de rosa e arroz no chão, frente ao mar revolto da Linha, e ela seguia tão bela e feliz para o copo de água onde eu não a poderia beijar e abraçar.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Nesse instante, o dia ainda ia a meio, o sol debaixo das nuvens carregadas, acabar de chegar ao seu ponto mais alto, mas eu passei apenas a importar-me com o ocaso, no dia que se encerra e encurta o caminho escarpado que falta trilhar.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">No primeiro pôr-do-sol pedi a cada um dos gatos da minha mãe uma vida emprestada. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Não lhes custava nada: têm tantas, e eles, obviamente, nem hesitaram, tão aterrorizados pela possibilidade da perda como eu. Acederam. Estou-lhes grata.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">E depois veio o ocaso. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Tudo passou a centrar-se no ocaso seguinte.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A noite, claro, foi dura: foi a mais dura e escura de todas as noites. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Fumei de enfiada, à janela, todos os Português Suave amarelos da minha mãe. Do alto do vertiginoso sétimo andar sobre Alvalade, piscou, pela noite fora, um clarão intermitente vindo de um candeeiro de jardim, que encadeou todos os meus sentidos, que já de si funcionavam descompensados, em modo de sobrevivência.</span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxhkCF1tCCyvxSJoqXFTjUhoPds0vOi4tQGMcFEMnqHXT104fq2hlnqyQaJNBkXgfJ-nEdnz0lch4YCvLcL' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Guio toda a minha vida por sinais, escolho o certo e o errado pela lente de uma intuição bacoca, quase infamtil. Mas a realidade é nesse dia eu que tinha os sentidos, incluindo o sexto, em curto circuito, como o candeeiro do jardim. A desesperança tomou conta da noite, quando, entre o fumo do cigarro, me deixei hipnotizar pela luz morrente do candeeiro do jardim. Assim interpretei o clarão.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Por instantes, por longos instantes, acreditei que o pior ia acontecer, e revivi o momento em que a minha mãe passou por mim e pelo meu irmão, mudos, à porta do corredor dos cuidados intensivos, com o olhar desesperado de quem está preso em si, sem se conseguir libertar, e sem ter sequer a capacidade de gritar um ai. Acreditei que o prenúncio do dia de tempestade, do ano terrível que já me levou tantas pessoas, continuaria no seu propósito devastador, imparável.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Mas não eram as intermitências da morte: li tudo mal; era um farol que a guiava pela noite mais longa de toda a sua vida.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A luz do dia seguinte, a tal que tudo ilumina, trouxe angústias, receios, dificuldades. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Chamam-lhes sequelas. </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">É esse o termo médico apropriado. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A cada ocaso uma conquista, um dia a menos para o regresso.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Sou, neste momento, uma menina-soldado, assustada e em permanente modo de luta armada.</span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Nunca estive tão frágil e vulnerável, nunca precisei de tanto da minha mãe, nem mesmo quando nasci. Enfrentei a sua mortalidade e, portanto, enfrentei também a minha própria mortalidade. Trago as lágrimas guardadas num poço sem fundo, para o dia em que, finalmente, possa libertar as represas, num alívio violento. Travo uma guerra, a minha pequena odisseia, desde a primeira hora de luz até ao próximo ocaso: o dia em que me tornei mãe da minha mãe chegou. </span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A minha mãe sobreviveu. Renasceu há dez dias e já regressou a casa.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A cada ocaso continua a sua odisseia.</span></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-91945574905045071542015-10-07T12:59:00.000+01:002015-10-07T15:11:53.770+01:00A Esquerda. A Direita. A Família Numerosa foi votar.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpxTLgOiKJs18TOMU2whCrUmQaFJKift2hs5OyuJ3gjpZLekzPdMC3ef3xp6LMwatTNCd3AHYMXsUYkTvpd5SZPiTEg_kD2FkdRTnnfTYazWEcV5t0ajIMJHci5NM7_WhJAUzSIQCs5xML/s1600/princesa+aurora.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpxTLgOiKJs18TOMU2whCrUmQaFJKift2hs5OyuJ3gjpZLekzPdMC3ef3xp6LMwatTNCd3AHYMXsUYkTvpd5SZPiTEg_kD2FkdRTnnfTYazWEcV5t0ajIMJHci5NM7_WhJAUzSIQCs5xML/s640/princesa+aurora.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">'Bom dia, República!", diz a Princesa Aurora. FOTO: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Os meus filhos são crianças com consciência política. Como todas as crianças, aliás. Não conheço nenhuma que não tenha uma consciência política inata, a revelar-se nos pequenos detalhes e desde os primeiros dias de vida. Não é precisa lupa ou faro apurado: basta estarmos atentos às pequenas nuances destes pequenos e adoráveis seres. Somos animais políticos e eles são aprendizes de feiticeiros. E eu nunca li Platão para sabê-lo.<br />
<br />
Há um déspota iluminado e um ditador sul-americano em cada um dos meus filhos.<br />
Coexistem, na verdade, vários sistemas políticos nesta família. <br />
<br />
Eu por vezes também suspendo a Democracia de manhã e instauro uma Ditadura Militar à hora de deitar.<br />
Há regimes para todas as ocasiões; é à escolha do freguês: elas são princesas e ele é o príncipe perfeito.<br />
Sem títulos, sem brasões, sem sangue real ou apelidos catitas, nós, os pais, por vezes somos do povo, aquele que trabalha o dia inteiro em troca de um salário que não cresce como com os bolos que faço na cozinha aos fins-de-semana, carregando no fermento, e que não estica, como as calças pingonas do chinês, que dão com tudo e resistem às minhas flutuações de peso entre gravidezes, amamentações, dietas loucas e outros disparates diversos.<br />
<br />
Esta vida não é uma incrível bolha mágica do País das Maravilhas o tempo todo, 24 horas por dia, e por vezes roça a escravidão.<br />
Somos escravos de muitas coisas, elementares, básicas, corriqueiras, comezinhas - somos subjugados pela roupa e loiça suja (anda para aí um anúncio de televisão a um detergente de máquina de lavar a loiça genial que fala deste ciclo interminável de sujidão), e no gigantesco mês de Setembro, o mês de todas e das mais sufocantes despesas, com quatro crianças na escola, rendemo-nos à evidência que precisávamos de uma máquina de lavar a roupa de 11 kg para deixar de fazer duas máquinas por dia. Vivemos agrilhoados aos banhos e às rotinas básicas de uma família qualquer, e que incluem o planeamento e a elaboração de refeições, e também as inesgotáveis actividades e experiências diversas - lúdicas, culturais e de toda a ordem - que os nossos amos pequeninos nos exigem. Sem chicote.<br />
<br />
Vivemos em permanente luta de classes nestas quatro paredes.<br />
E às vezes ascendemos na longa escada social e sentamos o nosso rabo burguês num sofá magenta um bocado desconfortável, e respiramos fundo, todos satisfeitos por tudo o que temos, por tudo o que alcançámos em 37 anos de vida e nove de vida em comum.<br />
Partimos com um avanço considerável e a nossa felicidade não é a mera listagem e contabilidade de tudo o que temos; a equação é mais complexa e concede maior ponderação ao que somos. E somos mais, muito mais do que a soma das partes. Essa é a magia de uma família grande.<br />
Mas é fácil, foi mais fácil para nós porque nós já nascemos burguesinhos. E os meus filhos - deixemo-nos de rodeios e de tretas; temos que ter noção da situação de privilégio e as águas calmas pelas quais navegamos sem tormentas de maior - também. <br />
<br />
Temos uma casa grande, com quatro quartos - um improvisado, mas são quatro quartos, não deixa de ser um luxo -, num bairro chique, um apartamento que não pagamos, porque nos foi oferecida, assim de mão beijada, pela minha mãe. E essa casa, cheia de coisas bonitas, algumas velhas, outras de família, e ainda uns tarecos iguais a todas as outras casas, que comprámos na loja sueca, é a base de tudo. A nossa sorte começa aqui.<br />
<br />
Depois, conduzimos dois carros muito velhos, mas que não deixam de ser dois carros, oito rodas, dois motores, com seguros, gasolinas, revisões e inspecções feitas (infelizmente ou felizmente, não temos um Volkswagen). Há quatro computadores cá em casa (dois muito velhos e dois em segunda-mão), um <i>smartphone</i> de 99 euros com o monitor todo estilhaçado e uma bateria viciada e um <i>tablet </i>Android oferecido a uma criança com seis anos.<br />
Há orçamento suficiente para uma despesa inesperada - como uma junta da cabeça do motor queimada, ou um aparelho fixo nos dentes da mais velha -, e ainda sobra qualquer coisita para um indecente rodízio de carnes sul-americanas (onde as duas mais novas não pagam e o do meio só paga metade).Depois de tantos anos juntos, até conseguimos, finalmente, fazer umas férias na Europa, e lá fomos ao sol da meia-noite da Noruega (bela pontaria para um destino tão caro quanto civilizado).<br />
<br />
Não é só o regime político e a classe social que estão em constante mudança nesta casa.<br />
O sistema económico também passa do capitalismo selvagem, do consumismo desenfreado, para a troca directa, e para o consumo responsável e sustentável, sem fundamentalismos quanto ao óleo de palma, sacos de plástico e outras maradices biológicas (tudo o que é demais é moléstia).<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM5jR4qj8mWfU-pRNaWNgikRq_RdYfCZ243kOOZDN0eXKtgQ9aHw-Lyp6AwvcUyKuteyH2f4y6a554NUNsNeh1TyQ_XWc28LHaLKklAFtS4PkKsHpdMAD7JJiNHgJAcbAvSLUip2olrS00/s1600/DSC_1299.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM5jR4qj8mWfU-pRNaWNgikRq_RdYfCZ243kOOZDN0eXKtgQ9aHw-Lyp6AwvcUyKuteyH2f4y6a554NUNsNeh1TyQ_XWc28LHaLKklAFtS4PkKsHpdMAD7JJiNHgJAcbAvSLUip2olrS00/s640/DSC_1299.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Os Manos Ralha - serão eles os próximos irmãos da Política Portuguesa? Por enquanto ficam-se pelo consenso das bolas-de-Berlim. Foto: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
E tudo isto a propósito de eleições.<br />
As voltas de sempre.<br />
<br />
Eu não estava preparada para comprar um <i>soutien</i> para a minha filha mais velha há um ano, e também não estava à espera que aos onze anos de idade ela me perguntasse:<br />
<br />
<i>'Qual é a diferença entre a esquerda e a direita?'</i><br />
<br />
Os meus filhos têm muita consciência política.<br />
A culpa é nossa. Não a praticamos em São Bento, nem nos Paços do Concelho da mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa - o que é uma pena até; não tenho a menor dúvida que seríamos inacreditáveis políticos, em bancadas opostas -, mas ambos vivemos a Política com um fervor religioso, um entusiasmo contagiante. E isso não tem nada a ver com partidos. É um estado de espírito, uma predisposição. E as crianças, adoráveis esponjinhas aparentemente desligadas da realidade dos 'adultos' percebem tudo, apanham tudo.<br />
Duplicámos o tamanho da nossa família durante a estadia da Troika neste rectângulo: a Aurora e a Isaura têm como madrinhas a tia Austeridade. Escusado será dizer que a madrinha não manda folar pela Páscoa e no Natal nem umas míseras peúgas.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoKqK86oZJtm4m6jKglkmwJnEadlcfywiDL2AzlXNEip_g8udIwEI4T6Sldqk1Ni1nuRAqHnqxJ56LFWPNRo2FzE8nSHzopE8f-LdOMMHlwAVSol_UphtuDsQFxAQcQw-4EYQXncl66LbK/s1600/princesa+cogumelo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoKqK86oZJtm4m6jKglkmwJnEadlcfywiDL2AzlXNEip_g8udIwEI4T6Sldqk1Ni1nuRAqHnqxJ56LFWPNRo2FzE8nSHzopE8f-LdOMMHlwAVSol_UphtuDsQFxAQcQw-4EYQXncl66LbK/s640/princesa+cogumelo.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Filha da Troika. Afilhada da Austeridade. Vestida para votar num dia de Outono de Outubro. Foto: A Família Numerosa.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
O António e a Carolina (sem esquecer o cão Cenoura) participaram, que me lembre, em pelo menos duas gigantescas manifestações de indignados, e sempre que passam pela Assembleia da República gritam: "Olha o Povo Unido!" (o pai faz sempre questão de os avisar que o povo já foi vencido, no picanço).<br />
Nas últimas autárquicas, fizemos, durante a licença de maternidade da Aurora e a partir da nossa casa sem água potável de São Félix, em São Pedro do Sul, o projecto <a href="http://www.facebook.com/Sexy-Aut%C3%A1rquicas">Sexy Autárquicas</a>, que saiu em todos os jornais e televisões, e concluiu, sem margem para qualquer discussão, que há uma maioria absoluta à esquerda se os programas eleitorais se resumissem à beleza, e que o PCP é uma incubadora de borrachos.<br />
Foi também nessas autárquicas que, pela primeira vez na vida, estivemos todos, sem excepção, ao lado do Partido Socialista, na candidatura do nosso gigantesco amigo-para-a-vida Pedro Coelho dos Santos à Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço (sim, aquela terra dos parques infantis e das cartas de condução duvidosas). Com comícios, arruadas e jantares-convívio incluídos. A amizade tem destas coisas, que transcendem ideais e convicções políticas.<br />
<br />
As minhas crianças percebem mesmo muito de Política.<br />
Sabem reconhecer o Passos, o Portas, o Costa, a Marilu, como carinhosamente chamamos a mulher-de-ferro das Finanças portuguesas, e têm um gigantesco núnero de professores candidatos e cabeças-de-lista pelo PAN. Ainda se lembram do Gaspar e das maldades colossais que nos fez, e nestas Legislativas passaram a reconhecer a Catarina e a saber qual a diferença entre uma sigla e um acrónimo. Aprenderam também o verbo 'concatenar' (a televisão e a campanha tem destas coisas também).<br />
<br />
<br />
Os meus filhos, os vossos filhos são o futuro deste país.<br />
Aos meus, ensino-lhes Política desde o berço, segue pela mama: rejeito a ideia de que os políticos são todos iguais e que a abstenção e o cuzinho sentado farão mais por Portugal do que os políticos possíveis neste momento. Talvez não sejam os melhores, mas são os que temos. E se a crise me ensinou algo foi que tenho que saber fazer o melhor possível com o pouco que me é apresentado. Isso abarca tudo, Política incluída.<br />
<br />
Os meus filhos serão de Direita, de Esquerda ou de Centro, Monárquicos, Anarquistas, Revolucionários. Tanto faz. Os meus, os vossos filhos serão os Políticos do futuro.<br />
Há cem anos anos as minhas três filhas não teriam direito a votar; eu e elas seríamos pessoas de segunda categoria.<br />
Há 40 não havia eleições livres no meu país.<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgTz_2tIS6XyF4k_F5J_OxyiFB_aQZH49Ii8dN2zGX1ZjlQRqH1-077ahdqREFNKD42dKGp_tCzRVGJYCw13IBRrOA9NikxLSRhri18FzH5AWPJXAKGntCoyHmzjQTYqSKFCU7ASOQhWMr/s1600/WP_20150514_023+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgTz_2tIS6XyF4k_F5J_OxyiFB_aQZH49Ii8dN2zGX1ZjlQRqH1-077ahdqREFNKD42dKGp_tCzRVGJYCw13IBRrOA9NikxLSRhri18FzH5AWPJXAKGntCoyHmzjQTYqSKFCU7ASOQhWMr/s640/WP_20150514_023+%25282%2529.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Núcleo do PAN na nossa casa. FOTO: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<i>Mamã. qual é a diferença entre a Direita e a Esquerda?</i><br />
<br />
Filha, não é simples a pergunta, e por favor a seguir não me peças para te responder se Deus existe e se há vida depois da morte.<br />
Olha, não há ninguém de Direita, como a mãe, que não acredite na esmagadora maioria dos princípios que a Esquerda defende: a liberdade, a igualdade, a justiça social, o emprego digno, os direitos básicos, o progresso colectivo. As pessoas de Direita acreditam noutras coisas, no lucro, na propriedade e iniciativa privada, e depois em algumas em que eu não acredito nada. Lembras-te do cartaz dos idiotas do PNR? Lembras-te o que a mãe te explicou, que os refugiados não são terroristas, que não nos vêm roubar nada, como tinhas ouvido? Que tudo lhes foi roubado e que nós temos que ajudar? Pois, olha, nisso a mãe não é de Direita. A mãe gosta muito de imigrantes. A nossa querida D. Nargeeza é muçulmana e achas que ela é terrorista? Quanto muita acha-vos a vocês uns talibans!<br />
O importante, filha, não é ser de Direita ou de Esquerda, de um partido ou de outro, como num clube de futebol. O importante é conhecer as propostas, ler os programas, ouvir o que esta gente tem para Portugal. O importante é votar. Sempre votar. Se calhar, umas vezes à Direita, outras à Esquerda. Saltar de um lado para o outro. Mudar de ideias. Acreditar. Desiludir. Voltar a tentar. Fazer a melhor escolha possível. Em consciência. Nunca desistir. Da Democracia. Promete-me que vais votar sempre. Que vais tentar sempre votar.<br />
<br />
E Domingo de chuva, véspera da República, lá seguimos os seis para a escola primária colada à igreja, um cavaquistão em Lisboa, e nós, à boca da urna cheios de filhos, quem nos visse não teria dúvida: 'Olha que linda família PAF!"<br />
E no entanto...<br />
Não cabemos na maioria dos carros em circulação e em nenhum esterótipo...<br />
<br />Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-62864350354907647892015-09-24T15:31:00.001+01:002015-09-24T15:31:21.887+01:00As minhas férias. Árvores e Silvas.<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKxxmHFVTy3Ptqw0eoGEuNMk8XgKJPPLQHwt_VQWzZZVzUKCXPJTnBjvxXQlGxI9zm9OgFXx56AHnA9DHdn3voS5cdy8FfrkrZTZBW74yfmVu6G_T8tIumFztba95_UeL6L65TbhAtxZ-t/s1600/WP_20150922_003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKxxmHFVTy3Ptqw0eoGEuNMk8XgKJPPLQHwt_VQWzZZVzUKCXPJTnBjvxXQlGxI9zm9OgFXx56AHnA9DHdn3voS5cdy8FfrkrZTZBW74yfmVu6G_T8tIumFztba95_UeL6L65TbhAtxZ-t/s640/WP_20150922_003.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Árvores e Silvas. </td></tr>
</tbody></table>
<br />
Tão simples. Árvores e Silvas.<br />
E o pai a regá-las com o regador e a água que não tínhamos.<br />
Filho doce. Como as amoras das silvas.Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-14419570750776602772015-09-22T12:17:00.000+01:002015-09-22T15:26:10.585+01:00A morte. Explicada às criancinhas. Ou pelas criancinhas.<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHR5ok0GUit91k4l8z51pbH4V2LVbFLWnv5ORwAfBeYT3ezktpDQxe1hq0kmPVbP4r4QCDfyxHIuaMtSkHoXCkqR5-NUXGIpmImLXx2u4NRPymX3GvQoVkAWSBRyKmPGNvILPrxuv9OHCq/s1600/WP_20150915_013.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHR5ok0GUit91k4l8z51pbH4V2LVbFLWnv5ORwAfBeYT3ezktpDQxe1hq0kmPVbP4r4QCDfyxHIuaMtSkHoXCkqR5-NUXGIpmImLXx2u4NRPymX3GvQoVkAWSBRyKmPGNvILPrxuv9OHCq/s640/WP_20150915_013.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O meu filho Bonsai e Imortal. António Peter Pan Ralha. Foto: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Já
vos contei, já não sei há quantos milhares de caracteres atrás: tenho uma preferência
genética, inata, mística, perfeitamente chalupa por números ímpares.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">É
essa tara, aprimorada por gerações e gerações de homens e mulheres resilientes,
excêntricos, brilhantes, trabalhadores incansáveis, sonhadores, lunáticos,
génios, altos, magros, gordos, morenos, loiros, com caracóis e cabelos
escorridos, num itinerário que vai de Freixo de Espada à Cinta a Vila Nova de
Mil Fontes, que passa por Arganil, Viseu e São Pedro do Sul e que chega depois
a Lisboa e por aqui fica à beira do Tejo, que me faz ter uns certos fornicoques
por ter um número certinho de filhos, divisível por dois (cinco parece-me tão
melhor que quatro; uma mão cheia de filhos parece-me cada vez mais o meu
destino). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Todo
este ritual dos ímpares não passa de um sintoma leve de um transtorno do
espectro obsessivo compulsivo. Corre na família em doses suaves e que não
exigem (para já) medicação. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Para já. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Mantenhamo-nos atentos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Mas é graças a esta superstição, a esta crença tola sem fundamentos que me assegura que os números ímpares são
melhores que os pares, que anseio sempre a chegada dos anos ímpares na minha
vida, com fé que trarão sorte, conquistas, milagres à minha vida e à vida
daqueles que me são próximos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Em 2015, o mito dos anos ímpares perfeitos, imaculados,
repletos de felicidade e alegria cai por terra. Não sei o que fazer com esta
reviravolta de eventos na minha vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Em
2015 tive que explicar aos meus filhos o que é a morte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Porque
ela nos entrou pela casa a dentro, negra, triste, devastadora. Uma e outra e
outra vez. Três vezes no total. O número perfeito. Ímpar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">E agora o que faço eu
com os ímpares? Faço figas? Com dois dedos? Dois?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgARMCNPIHOoBC_m48vGP6U6FeQ4awpqCI4KSYnV7i_sW1eT6BoEDM7PdBuw92m3kxzkUwW_OCtkK4EVVVoHLWWhZahgK_JFC7yGsPJt-nz7zmqTJq7q37vFzUWQCKFusXKncf4QBlZA-2o/s1600/WP_20150921_003+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgARMCNPIHOoBC_m48vGP6U6FeQ4awpqCI4KSYnV7i_sW1eT6BoEDM7PdBuw92m3kxzkUwW_OCtkK4EVVVoHLWWhZahgK_JFC7yGsPJt-nz7zmqTJq7q37vFzUWQCKFusXKncf4QBlZA-2o/s640/WP_20150921_003+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Eternidade. Foto: A Família Numerosa </td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Quando,
aos primeiros dias de Janeiro, o diagnóstico do cancro de pulmão em estágio IV
do meu sogro, me chegou ao telefone, pelas cunhas e amigos que
trago para a vida, estava de cuecas na casa-de-banho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A
Isaura, num coma próprio de recém-nascido, dormia serena no berço, muito
pequenina, recusando-se a crescer nas doses que os percentis do boletim do bebé
exigiam. E eu, com a bênção de uma prorrogação do prazo delicioso em que os
filhos são apenas das mães, preparava-me, em pezinhos de lã, para entrar no
duche, nessa missão quase impossível, nos primeiros dias de vida do bebé fora
do ventre da mãe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A
casa estava em silêncio absoluto: o João tinha saído muito pouco tempo antes,
para a ronda de entregas dos nossos filhos pelas escolas e creche, e a D.
Nargeeza estava num sofrimento silencioso e branco, diligente e incansável na
missão de estender roupa de um agregado de seis (outra vez um número par – sete
seria tão melhor) no estendal da varanda, sob um frio polar do Inverno rigoroso
que o ano ímpar de 2015 trouxe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Desliguei
o telefone. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Fiquei imóvel a olhar para os arabescos monocromáticos do chão dos
lavabos. Depois, baixei o tampo da sanita e fiquei ali sentada, com as mãos a
tapar os olhos muito tempo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Não chorei. Talvez fosse do frio, talvez fosse da pior
notícia possível, do prognóstico demolidor e desesperançado, talvez fosse porque senti a morte
muito perto de mim, apesar de me sentir imortal por ter acabado de parir o meu
quarto filho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Assim
que tomei consciência que estava a tapar os olhos com medo da morte, de a
enfrentar, ergui-me, e empunhei-lhe, frente a frente, a sua maior inimiga: a
vida, a vida que eu tinha gerado e que dormia na divisão contígua, com a
protecção de todos os anjos, de todos os santos, de todos os deuses, de todas
as religiões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Acto
contínuo, numa agitação que me revolvia as entranhas todas, a mandíbula a
tremer, as mãos em gelatina, dei um beijo ao anjo-da-guarda de prata por cima
da cabeceira da minha filha, pedi-lhe protecção e descernimento para o que teríamos todos que enfrentar, e voltei à casa-de-banho sem fazer qualquer barulho – nem
sequer a dobradiça da porta se atreveu a chiar. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Nem um pio, tudo mudo e em câmera lenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Abri
a torneira do duche e pus-me debaixo do chuveiro muito quente que, rapidamente,
encheu a pequena divisão de um nevoeiro denso e morno, onde, submersa, tentava desenhar um plano para dizer o indizível: </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">‘João, o teu pai está a
morrer. Vai ser muito rápido; temos muito pouco tempo.” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Não
sei bem quanto tempo estive naquilo. Debaixo da água quente chorei. Gostei
sempre de chorar dentro do duche, ou sob a chuva torrencial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Saí da banheira com a pele muito vermelha e engelhada, como uma velhinha, e tive que voltar a
sentar-me. Desta vez na borda da banheira. Senti todas as forças do meu corpo
a serem-me retiradas e tive que me sentar de novo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Quando
consegui regressar à realidade, que estava, de um momento para o outro, em pantanas, levantei-me, desembaciei
o espelho, que por pouco tempo me devolveu o meu reflexo, para voltar a ficar completamente
baço, e decidi</span><span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">, num impulso que mais pareceu um choque eléctrico, que nada
diria, que fingiria que o telefone não tinha tocado, que guardaria para mim que
o nosso pai estava a morrer e que ia ser muito rápido.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Nesse
dia, horas mais tarde, visitei o meu sogro no Hospital de Santa Marta. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A nossa primeira casa foi na Rua de Santa Marta - foi lá que vivi as dores de crescimento, sozinha, com a minha filha Carolina, e foi lá que o João me apareceu, primeiro empoleirado pela janela de um computador da maçã, e depois, largando-me um maço de cigarros à porta, de madrugada, e fugindo sem eu ter tempo para lhe agradecer, ou lhe ver o rosto. Foi lá que juntámos os trapos, sem hesitações, no próprio dia em que nos conhecemos finalmente em carne e osso, e foi por lá que começámos esta viagem juntos, até ao infinito. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Choramos também pelas casas onde deixámos pedaços de nós.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Fiquei amiga de Santa Marta, a padroeira das donas de casa, e atribuo-lhe muitas das bênçãos que a vida me concedeu naquela rua enterrada sobre o Marquês de Pombal.</span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Da minha primeira casa guardo tudo entalhado na escultura da memória: uma casa muito velha, pequenina, que tinha uma sala laranja, uma cozinha vermelho sangue, um quarto cor-de-rosa com gatinhos, e o chão de todas as assoalhadas inclinado, como que tombando de cansaço, para gáudio dos gatos, que tinham sempre diversão garantida, pois era raro uma bola manter-se imóvel no mesmo sítio. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Voltei a Santa Marta pelas piores razões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">E supliquei-lhe tempo, apenas mais tempo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Demorei-me na visita.</span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Peguei-lhe na mão e ouvi tudo com paciência. Comecei a
memorizar todas as sardas do seu rosto e dos braços muito magros, os sulcos
fundos de todas as rugas, todos os trejeitos e expressões catitas que usava.
Disse mil disparates, quando estou nervosa falo pelos cotovelos e por todas as outras arestas corporais. Fi-lo rir o tempo todo, com tanta fanfarronice nervosa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Saí destroçada, e à saída, tive
um número exacto de passos, a percorrer pelos corredores, até à saída, para me
recompor. O segredo era meu. Só meu. Um dia que fosse que eu o pudesse guardá-lo só para
mim, seria um dia um pouco melhor para todos nós.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqwIQxEg2cDxHtJ7rbts154cNDH83ME6So75GvNd_9_PyBbjPfgry_hmaxQOpXk2Wkh2CFcINT63wZP8Ov6_P44bArpjBiRMKDIhWCee9tnS4a6YyLOcgFj91hlHzICgpP3Uzeu-Za9fBg/s1600/WP_20150616_001+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqwIQxEg2cDxHtJ7rbts154cNDH83ME6So75GvNd_9_PyBbjPfgry_hmaxQOpXk2Wkh2CFcINT63wZP8Ov6_P44bArpjBiRMKDIhWCee9tnS4a6YyLOcgFj91hlHzICgpP3Uzeu-Za9fBg/s640/WP_20150616_001+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"As pessoas crescidas têm sempre necessidades de explicações... Nunca compreendem nada sozinha". O Principezinho pelo António.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Envelheci.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Ou
talvez tenha crescido.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Fui
egoísta também. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Todas
as mães são egoístas de vez em quando: pensei no meu clã e quis proteger acima
de tudo e todos o meu clã, as minhas pessoas. E por isso mantive o segredo. Engoli-o por amor e
cobardia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Sofri
por saber, por ser a primeira a saber que a minha bebé, tão pequenina, acabada de nascer, não iria conhecer o seu avô, que a Aurora
não teria qualquer recordação e que a Carolina e o António perderiam cedo demais os mimos que só um avô pode e sabe dar. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Precisávamos todos de mais tempo. E o meu sogro lutou com todas as suas forças por mais tempo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Aguentei-me
firme no meu voto de silêncio durante algumas semanas, mesmo quando era por
demais visível que o relógio não parava, que não cedia às nossas preces, e que o
sofrimento era já demasiado para suportar e ignorar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Voltei
ao egoísmo: quis estar no maior número de momentos possível ao seu lado. Fomos
juntos comprar caril, paparis e água de coco ao Martim Moniz, e também fizemos
uma viagem insana, em caravana familiar, para comer um bitoque às Caldas da
Rainha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Em
casa, já muito próximo do fim, tentei estar sempre lá, segura, forte, doce,
quis mostrar-lhe o quanto estava grata por ter sido responsável por ter trazido ao mundo o meu melhor amigo, o meu
companheiro de vida. Devo-lhe isso. Devo toda a minha família ao patriarca Leiria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Pouco
tempo depois, do topo do Miradouro do Centro Comercial Martim Moniz, com a
Praça decorada para receber o Ano Novo Chinês, dragões e lanternas, olhei para um
céu azul de Fevereiro, e aceitei esta verdade: aquele podia ser um bom dia para
morrer. A morte vinha em ambiente de festa e trazia um raro dia quente de um Inverno rigoroso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Pudemos
despedir-nos nesse dia do Dragão; ele deu-nos mais umas horas poucas.Tivemos
mais esse dia e apenas esse. No último momento, na última madrugada, respondi às duas mensagens que me enviou, e disse-lhe apenas que o
amávamos, que a Isaura estava a dormir ao meu colo, e que o amava também, que
estaríamos todos consigo à primeira hora da visita. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Não
faltei à promessa. Mas ele já partira e estava em paz.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">As
crianças têm um faro específico, um radar que capta que algo está errado, e foi em Janeiro deste ano que eu
emancipei a minha filha Carolina, porque não fazia qualquer sentido esconder o
que até uma criança de onze anos conseguia ver, sem margem para
dúvidas ou milagres. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Uma
tarde muito fria, em que a deixei especada à minha espera, à porta da escola,
porque um tratamento de radioterapia do avô se tinha atrasado, respondi directamente à pergunta ‘O avô vai morrer?” </span><span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Saía
fumo da boca no momento em que eu lhe disse, pigarreando, para aclarar a voz, que
me tremia pela brutalidade que iria dali a instantes proferir: ‘Filha, sim, não te vou mentir. O avô está a morrer." </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">E continuei, sem dó: "Tens que ser muito forte, pelo avô, e tens que me ajudar. Temos
muito pouco tempo. Tens que dizer-lhe que gostas muito dele todas a vezes
que estivermos juntos, e vamos proteger o António, porque ele não percebe
que o avô está a morrer; ele não sabe ainda o que é a morte.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">No
habitáculo do nosso velhinho Fiat chorámos. Senti-me quase a desabar pelo que
acabara de fazer à minha filha mais velha, mas não nos demos ao luxo de perder muito
tempo em lamúrias: o avô sofria e tínhamos o dever de nos manter fortes por ele. O tempo corria contra nós e ainda não baixáramos os braços e
continuávamos a dar luta. Teríamos muito tempo para fazer luto e pouco tempo para celebrar a vida junto do avô. Fizemos as opções. Engolimos juntas a dor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Liguei
a ignição e seguimos viagem para visitá-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
António agarrou-se à Playstation, a Aurora brincou com a prima Alice e a
Carolina ficou comigo, junto ao avô Tójão, a segurar-lhe a mão. Sem lhe tremer
a voz, sem os olhos brilhantes, esteve ali, frente a frente com a certeza absoluta da morte. O amor pode tudo e foi nesse momento que a minha frágil e doce filha Carolina
revelou ser já a mulher que eu sempre soube que seria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Foi
bem cedo pela manhã que soube que o Tójão partira. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Mais uma vez o telefone, a dar-me murros no peito. M</span><span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">ais
uma vez, o João a distribuir filhos pelas respectivas escolas, no eixo
Avenida EUA, Avenida de Roma e Avenida Almirante Reis e, mais uma vez, eu ali, sozinha em
casa, em silêncio, com a bebé embalada por uma chucha encharcada em Aero Om.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Chovia.
Choveu o tempo todo nesse dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
João chegou e nem sei como lhe dei a notícia. Também não sei como dei a notícia
ao António e à Carolina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Com
a Isaura colada a mim, arranjei forças e presença de espírito para vasculhar os arquivos de um disco rígido a rebentar de ficheiros JPEG, escolher e revelar fotografias de
dias felizes do meu sogro ao lado dos seus cinco filhos, ao lado dos seus queridos
netos. Comprei molduras e cestos de flores com cores alegres. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Espalhei fotos,
flores e velas, no altar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Gostava
que alguém tivesse feito isto por mim quando o meu pai morreu. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Foi o meu
tributo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Contra
todas as minhas ideias pré-concebidas e convicções inabaláveis sobre parentalidade e o tipo de mãe que quero ser, os meus filhos estiveram
presentes no velório do seu avô. Estiveram no velório a celebrar a sua vida. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Nunca digas nunca na
tua vida. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Acontecerão coisas extremas que nos obrigarão a reagir no momento.
Não há certos nem errados; as coisas são o que são: todos tentamos fazer o
melhor: às vezes acerta-se e outras vezes acerta-se ao lado. Mas acerta-se
sempre em algum lado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Levei os meus filhos para o velório do avô. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Todos
juntos, os meus filhos e os meus sobrinhos, quiseram estar uma última vez com o avô. Todos lhe levaram um desenho. Todos lhe quiseram beijar o rosto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 18px; line-height: 20.7px;">Não aceitaram um não como resposta – quiseram, exigiram estar presentes naquela despedida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 18px; line-height: 20.7px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 20.7px;">Lá chegados choraram, riram, jogaram às apanhadas aos pés das santas, dos anjos e do morto. Guardarei para sempre a imagem do António a jogar Playstation às voltas do caixão e, subitamente a parar, por breves instantes, para afagar os cabelos ruivos grisalhos do seu avô, voltando de seguida às teias do Spiderman e a outra dimensão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 20.7px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 20.7px;">Sem pesadelos. Sem traumas. Com tristeza natural encararam a morte, despediram-se do avô e arrumaram o assunto muito bem arrumadinho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Deram-nos
uma lição de vida. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">As criancinhas explicaram aos adultos o que é isto da morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Há
duas semanas o telefone tocou pela hora do jantar, e o meu irmão Leonardo deu-me
a triste e incompreensível notícia que um bom amigo e um homem bom acabara de morrer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
que se faz quando um amigo que nunca vimos a fazer nada mais do que sorrir
morre? (de que se ri tanto o gajo, porra, lembro-me de pensar quando o conheci
há 18 anos) </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Rimos? </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Fazemos das tripas coração para sorrir?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Fui
esconder-me para a cozinha, sem saber o que fazer, sem descortinar como poderia reagir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A
Carolina ouviu-me a chorar, sentada de costas para a porta, em cima de um banco de
madeira, o pensamento perdido nos labirínticos
favos da arquitectura modernista da varanda, e a pensar que 2015 nunca mais acaba - que o quero enterrar também.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A minha filha mais velha foi à casa de banho, tirou a escova da gaveta, regressou à cozinha sem dizer palavra, e pôs-se a pentear-me o
cabelo. Eu continuei de costas voltadas com as lágrimas a correrem sem tino. Depois de muito escovar, agarrou num elástico e entrançou todo o meu enorme cabelo com paciência e mestria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Eu
mantive-me em silêncio. Ela também. Ocasionalmente dizia: 'Já passou, não fiques assim".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Assim que me atou o desgosto em forma de trança, preparou-me </span><span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">uma chávena de leite com groselha e preparou pratinho com um pão barrado com Nutella e polvilhado de
confettis de muitas cores.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">'É
para te sentires melhor, mamã.'<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Quando
eu recebi o telefonema a anunciar-me que 2015 me roubava mais uma pessoa, a
terceira, estava a arrumar papéis com purpurinas: piroseiras das meninas lá de casa. Tinha
as mãos cheias de brilhos e quando comecei a chorar esfreguei a cara e todo o
meu rosto se iluminou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Quando
me levantei do banco da cozinha, tinha um copo de leite cor-de-rosa na mão, um pão
barrado com nutella e confettis, e o meu rosto cintilava. Eu estava viva. Tudo pulsava dentro da mim e dentro da minha casa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Quando
me consegui levantar do banco de madeira da cozinha estava mais pobre. </span><br />
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Mas também estava mais rica: uma
vez mais, os meus filhos deram-me uma lição de vida. Sobre a morte.</span></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-31366019606621891312015-09-14T13:32:00.002+01:002015-09-14T13:32:22.323+01:00Mr. Murphy, I presume... Breve relato de uma mãe sugada por um vórtice<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlPkOmt8E_9l6lDRkS50HnRd1arHXWM-XP02F2-yXzp0orT9be-lPzqA9ejN14uz7x8bIh9FHJiPNVJJYJimyntCe3MuD83nXsdPvJ40xbOiXeINL-6n_cgO9GkWGb2NlKVZEPvAnOtNlj/s1600/InstagramCapture_857515f9-79b5-43c7-a1d5-3ae281a71d34.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlPkOmt8E_9l6lDRkS50HnRd1arHXWM-XP02F2-yXzp0orT9be-lPzqA9ejN14uz7x8bIh9FHJiPNVJJYJimyntCe3MuD83nXsdPvJ40xbOiXeINL-6n_cgO9GkWGb2NlKVZEPvAnOtNlj/s640/InstagramCapture_857515f9-79b5-43c7-a1d5-3ae281a71d34.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">'Nove meses e ainda mama?' 40 graus de febre e o melhor remédio sempre pronto. FOTO: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O senhor Murphy, todos nós o conhecemos de ginjeira: ele
anda sempre à espreita, ao virar da esquina, sorrateiro, coladinho ao nosso
ombro, praticamente invisível e, no entanto, sempre preparado para fazer uma
entrada triunfal e espalhafatosa, coisa digna de registo para a posteridade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Verdade verdadinha é que o talentoso senhor Murphy vive para
nos tirar o tapete por debaixo dos pezitos, sem aviso ou contemplações. E mesmo
que tenhamos esbarrado com ele vezes sem conta, em encontros indesejados e
forçados por uma estranha atracção cósmica, continuamos a ter a mesma reacção
de surpresa e espanto: ‘Senhor Murphy, por aqui?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Diz a lei do dito senhor que: “Qualquer coisa que possa
correr mal correrá mal, no pior momento possível.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pois é. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A grande pergunta é: Como é que – mais uma vez – eu não o vi,
ou ouvi a chegar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estava a escassas horas de regressar ao trabalho, depois de
mais uma deliciosa pausa de maternidade – esta sim, a mais velha profissão do
mundo, e unanimemente considerado o melhor posto de trabalhos forçados da Humanidade
–, e o Senhor Murphy escancara-me a porta, e deita-se no berço, ao lado da
querida bebé Isaura. Três dias de febre sem explicação, um coração de mãe
estilhaçado, por largar a cria doente em casa, aos cuidados de seu pai
(coitado, que já tinha os outros três a cargo enquanto as aulas nunca mais
começam), e adiando o fatídico primeiro dia na creche em uma semana. Foi o
resultado da visitinha de ‘médico’ do meu grande amigo Murphy.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwLa149d07q5HVuT0l7HVebYJMQtc8-yTGziPgrzbcLZmhev2bmnSTgqKuOB1AvaQPklWYYMsbhxV9_fIq7On6J__bMYpI556tdX-bxVI4hZmFkvOlJ0p_iW5uOHhR1457aIQZ7huVknL4/s1600/635778140798267346.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwLa149d07q5HVuT0l7HVebYJMQtc8-yTGziPgrzbcLZmhev2bmnSTgqKuOB1AvaQPklWYYMsbhxV9_fIq7On6J__bMYpI556tdX-bxVI4hZmFkvOlJ0p_iW5uOHhR1457aIQZ7huVknL4/s640/635778140798267346.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">As manas, um pai sem cabeça, e uma patinha da gata Farrusca. Foto: Mónica Leitão</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois, o regresso ao trabalho. Ao mundo <i>corporate</i>. Aos novos desafios e aos
clientes de sempre (que já fazem parte de quem eu sou). Os braços abertos dos
meus colegas, dos meus chefes, as gargalhadas, o colo e o mimo com que me
receberam neste regressam à loucura dos dias que voam, entre telefonemas,
jornalistas, <i>press releases</i>,
reuniões, propostas, <i>press kits e </i>conferências
de imprensa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tocar muitos instrumentos ao mesmo tempo, fazer piscinas sem
parar e sem perder o fôlego, dentro de um vórtice, de uma espiral hipnótica de
afazeres e deveres. Assistir ao milagre da multiplicação das horas e dos
minutos. Mudar de máscara depressa e bem, sem perder a compostura, como num
desfile de alta-costura. Encarar problemas e preocupações com um sorriso – é meio
caminho andado para encontrar o caminho para fora do labirinto. Não ter medo de
pedir ajuda, não ter vergonha de admitir o cansaço. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, voltarei a
dizer: ‘Mr. Murphy, I presume…”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-3230576937223530702015-09-01T11:44:00.002+01:002015-09-01T11:44:31.669+01:00Nove meses . A prova dos nove.<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_y8jLJB4LSLNRbvDgJDl4TfXySlmRugl2sqmK1dy09IR-k6iXBeNE76Lf1ilh-NAXL1Z_vR7is39FWzKsPNTY7cZDvMFv3NrDx18VvYMypVTfHj4UJXZL9dt5ZNme4FQ2tuaLfSYMg6As/s1600/WP_20150901_001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_y8jLJB4LSLNRbvDgJDl4TfXySlmRugl2sqmK1dy09IR-k6iXBeNE76Lf1ilh-NAXL1Z_vR7is39FWzKsPNTY7cZDvMFv3NrDx18VvYMypVTfHj4UJXZL9dt5ZNme4FQ2tuaLfSYMg6As/s640/WP_20150901_001.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Um, dois, três, vou nascer outra vez. Esta manhã, ao sair de casa para o trabalho. Os meus amores. Foto: A Família Numerosa<br /></td></tr>
</tbody></table>
Nove meses. Nove luas. Uma gestação deliciosa, os dias tão felizes a seis, contigo já cá fora, a crescer ainda agarrada a mim, por um cordão invisível, uma teia, ou um casulo tecido de ternura e amor. Foi um privilégio, é um privilégio ter-te como filha, Isaura, minha doce e pequenina Isaura. Enfrentámos um Inverno rigoroso sempre juntas e as orquídeas não floriram esta Primavera, mas, para dizer a verdade, eu nem reparei: foi tempo pousio. O Verão foi perfeito e eu não trocava estes nove meses, 273 dias, por nenhum outro enredo ou aventura,<br />
<br />
A prova dos nove é hoje também. Hoje regresso à 'escola', ao trabalho, aos dias ainda mais frenéticos, e de cada vez maior malabarismo. Sempre em equilibrismo, mas mantendo o equilíbrio. A minha base é muito sólida, tenho quatro pilares pequeninos, mas indestrutíveis - dois loiros, dois morenos - e uma trave-mestra, com quem divido e multiplico esta vida.<br />
<br />
(Por agora vamos esquecer a parte em que na sexta-feira vais para a creche. Vamos também saltar o febrão que decidiste ter no meu regresso à lufa-lufa do trabalho)Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-91826737989817813392015-08-19T12:31:00.001+01:002015-08-19T12:31:36.282+01:00Raízes - A História de um Verão no Manga-Manga<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjddkWfNAzCfEdc8LBZGKlaF7z-UbDsTLQCwZ7yJNsx4bFBhKD1k-iVL0N0u_AjFgP6ad_JV4zzprxNggM1aR7oOGh6qWlI4zi860jtdNSB05xpVR1jSn8CMc2V-9sbFPMGf0ziDulD7FmE/s1600/DSC_0884.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjddkWfNAzCfEdc8LBZGKlaF7z-UbDsTLQCwZ7yJNsx4bFBhKD1k-iVL0N0u_AjFgP6ad_JV4zzprxNggM1aR7oOGh6qWlI4zi860jtdNSB05xpVR1jSn8CMc2V-9sbFPMGf0ziDulD7FmE/s640/DSC_0884.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">6,7 km de caminho pedonal ao lado do Vouga. Lodo, silvas, rãs e libelinhas em quase três horas de caminho. O trilho começava a escassos cinco metros do posto do Turismo de São Pedro do Sul. A senhora que lá ao serviço está nunca o fez e disse-nos que podíamos levar as bebés nos carrinhos. Valeu a pena todas as bolhas nos calcanharese resmungos dos mais velhos.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A nossa família tem nome de árvore, uma das mais importantes
de todas, que alimenta e alumia e que, também por isso, é das mais banais de
todas. Escrevo estas linhas numa casa que também ela tem nome de fruto, de uma
árvore mais exótica, sobretudo nos anos 40, quando, numa aldeia junto às Caldas
de São Pedro do Sul, nasceu uma quinta com vista para as serras da Arada e do São
Macário, com o nome de ‘Manga-Manga’. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aqui na aldeia sou a neta do ‘tio’ Oliveira, o ‘Manga-Manga’.
Batem-me à porta, metem conversa sem pudores no café, como se me conhecessem
desde sempre, baralham-se no meu nome, confundem-me com a minha mãe e também
com a minha avó, fazem contas de cabeça aos anos que se passaram, às décadas em
que a casa ficou em suspenso, adormecida e à deriva à nossa espera, do pesar
que todos sentiram por esse luto prolongado, ficam de queixo escancarado pelas
semelhanças da minha filha mais velha com a sua avó, a minha mãe, relembra-se a
beleza do jardim de dálias, hortênsias e noveleiros, desfiam-se novelos de
histórias à desgarrada, por vezes emaranhados pela neblina da memória, ou
remendados ao sabor da inevitabilidade de quem conta um conto poder acrescentar
sempre um ponto sobre a personagem quase lendária que foi o meu avô. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aquele foi o tempo dos grandes homens. O virar do século, as
suas revoluções, a queda dos reis e a ascensão de homens que se fizeram apenas
às suas custas. Foram incríveis odisseias, com todos os ingredientes da receita
dos imortais: a dureza dos campos, a solidão das cidades, as peregrinações para
novos mundos, um rol apaixonante de incríveis feitos e insólitas peripécias que
tantos romances e filmes de Hollywood inspiraram. Mas aqui a aldeia é pequena e
há uma muralha de serras e uma teia de rios a guardar esta história. Tudo ficou
encerrado numa casa abandonada, cujos portões estamos a abrir, de mansinho, com
um gangue de filhos atrás.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O meu avô nasceu um desgraçado. Algures nos registos da
igreja estará o seu assento de nascimento, com a sentença mais triste que
alguém pode ter: filho de pai incógnito. O pai não era incógnito, na verdade
era um patife endinheirado que, do alto do seu cavalo e do seu poder quase
feudal, se forçava junto das raparigas nas lides do campo. A minha bisavó,
contam-me os antigos, nunca mais foi a mesma desde que o bandido Marcelino a
apanhou a caminho do moinho e lhe fez um filho. Morreu cinco anos mais tarde,
com a pneumónica, mas todos me contam que morreu antes, no dia em que o meu avô
foi concebido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A nossa família tem nome de árvore por obra e caridade de um
padre da aldeia que lhe juntou o apelido ao nome de Manuel. Nasceu simplesmente
Manuel. O padre vaticinou que seria Oliveira. A escolha revelou-se acertada. Se
há árvore mais próxima da imortalidade é ela, a Oliveira. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Seguiram-se as terríveis provações e a fome. E os
volte-faces do destino. A história de um miúdo franzino destemido de uma aldeia
perdida em Lafões, que estudou e trabalhou sem descanso, que se fez ao caminho,
por um itinerário sinuoso e por vezes labiríntico dos seus grandiosos e quase
desmedidos sonhos. Há breve passagem por Viseu, seguida por uma viagem de
barco, o sonho americano nunca cumprido acomodado na bagagem do porão. Chega-se
a um porto gigantesco em África numa cidade que conhecemos apenas de
fotografias a preto-e-branco. E é lá que a vida e a fortuna do destino se
cumpre, décadas de trabalho e a construção de um pequeno império de
estabelecimentos comerciais, nos quais o meu avô com nome de árvore plantava
sempre duas mangueiras como um totem ou amuleto de sorte. Assim nasceu o
‘Manga-Manga’. Assim foi exportado para a aldeia de São Félix em São Pedro do
Sul, muitas décadas mais tarde, para uma pequena quintinha de pedra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu sou a que já nasceu num berço de metal precioso. Mas sou aquela
que veio com um bando de catraios agarrados às minhas saias resgatar do
esquecimento a casa do ‘Manga-Manga’. Sou a neta pródiga da cidade que voltou à
procura das suas raízes, a que revolve a terra, a que a semeia e aguarda sem
pressas para colher os frutos. Ao sabor das férias do Verão. Na casa velha da
aldeia onde tudo começou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj-IIuRtyUUJzHVf3ULDk7ov5mEdu9tPDw45LsOKssg8cRM-kEdTKOg0byU6e2VAV-nTraSLm7XrCTHe3MPVkGt-1yi7COH1PjvFFJvQv9zsaOmQWqL0TImkGqw3UB9iqw5NGFUN1611kq/s1600/DSC_1216.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj-IIuRtyUUJzHVf3ULDk7ov5mEdu9tPDw45LsOKssg8cRM-kEdTKOg0byU6e2VAV-nTraSLm7XrCTHe3MPVkGt-1yi7COH1PjvFFJvQv9zsaOmQWqL0TImkGqw3UB9iqw5NGFUN1611kq/s640/DSC_1216.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Socorro! A terra é conhecida por águas milagrosas mas vai ser preciso um milagre para deixarmos de usar água do velho poço!</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para o casal de trintões que nós já somos, este é o paraíso.
Meio hectare de terra. Um pomar de laranjeiras histéricas de felicidade, que brotam
frutos suculentos desde a Primavera sem quaisquer sinais de cansaço, e uma
pereira centenária muito curvada e paciente que todas as manhãs solta peras
farinhentas para o chão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quatro filhos soltos por aí, uma família numerosa que
duplicou o seu tamanho sem aviso há um par de anos, crianças soltas com as
pernas esfoladas, os braços arranhados pelas silvas, as mãos tingidas de roxo
das amoras silvestres, os pés negros do pó. Uma casinha pequenina que se
desdobra miraculosamente e recebe amigos e família. “A casa não se quere grande
para ser igual a um ninho. O amor, na casa pequena, anda mais conchegadinho.”
Está escrito num azulejo velho, embutido na parede da entrada. Era o mantra do
meu avô. Passou também a ser o meu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcweheXcV13Izixqgd_7yHYgLfAo2dGOcyfB1iClJcOxcLt3TPR7-Tzmd3fKEJHnzyKGDM6JySzZ25n8XG72D2nqDfaV-octCheOY0b8vXcGOmN1tXBrDhyphenhyphenCD6jQCF65-5KgO6h8G2Hgl8/s1600/11897111_10206412912815194_829556798_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcweheXcV13Izixqgd_7yHYgLfAo2dGOcyfB1iClJcOxcLt3TPR7-Tzmd3fKEJHnzyKGDM6JySzZ25n8XG72D2nqDfaV-octCheOY0b8vXcGOmN1tXBrDhyphenhyphenCD6jQCF65-5KgO6h8G2Hgl8/s640/11897111_10206412912815194_829556798_n.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">As voltas que a vida dá. Do campo para a cidade e da cidade para o campo. Quase consigo sentir o orgulho dos meus avós nesta fotografia.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A nossa aventura rural, de regresso ao passado e construção
de pontes do futuro junto às milenares Termas de São Pedro do Sul, começou há
um par de anos. Ainda éramos só quatro, um jovem casal e o seu casalinho de
filhos loiros. Tudo se tem feito com amor – não há outra forma de fazer bem as
coisas – e bem devagar. Electrificou-se a casa. Fez-se luz, mas,
inexplicavelmente, mudámos de século, e estamos na terra das águas com poderes
curativos que os Romanos descobriram, mas não há água canalizada nem saneamento
básico.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Racionamos recursos: há banhos rápidos e viagens à fonte mais
próxima para matar a sede com água potável. Ensinamos aos nossos quatro filhos
que a água não vem miraculosamente da torneira, tal como os ovos não nascem do
supermercado. Não trazemos televisão, nem acesso à Internet – e os miúdos
ressentem-se de saudades dessas coisas modernas que dão como adquiridas desde
que nasceram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Escutamos a natureza: avançamos teorias e hipóteses sobre a
forma de reprodução dos caracóis, que têm um ninho junto ao poço, tememos, mas
ficamos deslumbrados pelos voos rasantes sobre as nossas cabeças das vespas
gigantes da terra, às quais chamam abigoiros. Analisamos girinos e ninfas de
libelinhas coloridas. Cavamos buracos e plantamos árvores e arbustos, à espera
que cresçam e envelheçam connosco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXEmJG0aRbRc_sJ_BDT4_Du1fIXRzWPXUKAruSi1xhv0k7PxBmDtF36thos41RgzWgCZe5KN2K1YO_0K5tf1lTOfXa6NjBpiRRUASDmS4Pza_xDYmfeXwhTDD-xcdPtY5TWQP-oTCRrtYo/s1600/DSC_1063.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXEmJG0aRbRc_sJ_BDT4_Du1fIXRzWPXUKAruSi1xhv0k7PxBmDtF36thos41RgzWgCZe5KN2K1YO_0K5tf1lTOfXa6NjBpiRRUASDmS4Pza_xDYmfeXwhTDD-xcdPtY5TWQP-oTCRrtYo/s640/DSC_1063.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Olha quem veio ajudar a estender a roupa na corda.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghtGCQGwBifPdqdCkTyHhwRJOkqhuk3PJGENLaQB5jQcjaf-FIT9_HvjKkDEAdt4uJhrOFLj2AhNyHCw_fRUMGKS5aqnlOl5pSew2WI49qity44UeKOaaYw5c_oTb-NTmrIAfvltjeOuGY/s1600/DSC_1443.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghtGCQGwBifPdqdCkTyHhwRJOkqhuk3PJGENLaQB5jQcjaf-FIT9_HvjKkDEAdt4uJhrOFLj2AhNyHCw_fRUMGKS5aqnlOl5pSew2WI49qity44UeKOaaYw5c_oTb-NTmrIAfvltjeOuGY/s640/DSC_1443.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Esta foi a última ceia desta libelinha. Poisou em todos nós, muito cansada, com as asas quase desfeitas. Depois poisou e pousou na cabeça de uma sardinha assada.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os dias passam devagar com as montanhas mágicas imóveis à
nossa frente, num quadro com uma moldura dourada imaginada de lembranças que
vamos construindo sob um sol escaldante de Verão. Cada folha do calendário é
uma aventura, uma descoberta. Esqueçam os postos do turismo, que nada sabem das
riquezas que a terra tem, e que encaminham os turistas e os emigrantes que
regressam à terra em Agosto para as modernas e indiferenciadas infra-estruturas,
para onde os fundos estruturais comunitários foram canalizados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A terra tem rotundas e circulares absurdas, tem quatro
cadeias de supermercados, mas não tem água canalizada e saneamento. No Verão há
festas todos os dias e todas as noites, é um desfile de estrelas dos tops de
venda da indústria musical nacional, está marcada uma sunset party com a
presença badalada da rádio mais ouvida do país, e ainda há festas com estrelas
da música pimba que se atropelam umas às outras numa rivalidade de aldeias
vizinhas e de santos padroeiros. Mas quase ninguém sabe o que é e onde fica
Nodar. Ou que beleza esconde o Poço Negro ou Cabaços. O Vouga, o Sul, o Paiva, o
Paivô, o Zela – corremos atrás destes rios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O itinerário das nossas férias faz-se dessa riqueza natural
única de Lafões. Faz-se de boca-a-boca, é esquadrinhado meticulosamente pelas
recordações das gentes da terra e por guias turísticos amarelecidos e não
reeditados. Vamos com calma e cuidado, mas sem medo: desbravamos locais onde a
natureza está praticamente intacta, chegamos a aldeias-fantasma de pedra, que
ali estão à espera para nos dar as boas-vindas. Assim se abrem paisagens e
territórios incríveis, para onde levamos atrelados quatro filhos, dois dos
quais bebés de colo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5ImcZ2GvX61nQVEHfmwK_TiJvkkdyADVtEiucdSlDo-w7hU2FcZ7IV8bky0DiFhBf3WeL2hv7tidU81jxQ9gQ4MHW01v5CQryX1TXQEwebC_kQessEi-anSkLsz56XlrKJmhjVaieYo7f/s1600/11857698_10206412905495011_398863668_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5ImcZ2GvX61nQVEHfmwK_TiJvkkdyADVtEiucdSlDo-w7hU2FcZ7IV8bky0DiFhBf3WeL2hv7tidU81jxQ9gQ4MHW01v5CQryX1TXQEwebC_kQessEi-anSkLsz56XlrKJmhjVaieYo7f/s640/11857698_10206412905495011_398863668_n.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">De saída. Somos muitos e é uma logística lixada. Mas nunca paramos quietos.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os putos mais velhos resmungam, têm saudades da Playstation,
do Cartoon Network e do Panda. A mais velha, a entrar precocemente naquela que
adivinho que vá ser uma longa adolescência, telefona para os amigos para saber
quem foi expulso do concurso de talentos, e saca as novidades dos últimos
episódios da trama da novela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas quero acreditar que estas serão as melhores férias de
Verão das suas vidas, aquelas que recordarão para sempre com saudade e
nostalgia, de coração cheio. Acredito que, no futuro, contarão a história do trisavô
‘Manga-Manga’ aos seus filhos, enquanto os empurram no baloiço que pendurámos no
ramo da laranjeira. Imagino-os a contar a história do gigantesco caramanchão de
glicínias que trouxeram ao colo num Verão e que plantaram com as suas mãos.
Vejo-os a regressar a Nodar, ao Poço Negro e ao Poço Azul, a Meitriz, a Pouves
e a Cabaços.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A minha família tem nome de árvore. E estas são as nossas
raízes. E estas são as nossas flores e os nossos frutos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Obrigada ao Sapo, que me deu a possibilidade de escrever este conto de Verão. <a href="http://sapo24.blogs.sapo.pt/manga-manga-ou-a-historia-de-um-4218">Aqui.</a></b></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-55970709048049466262015-07-16T18:12:00.001+01:002015-07-16T18:12:47.215+01:00As manas*<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Af8czVOaddpYt6qMNKk_uEKOAs6fUZVgMML_kwyv2hLva6TjHK6FneV-Gu62_dzeYN3dLLFV4xLk3o7jpNGWgr2s78LIXgrZ3totuJQpEBfmiEdNnpyvLUye1U8f6sRqYBm46cr_ZP6o/s1600/DSC_0922.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Af8czVOaddpYt6qMNKk_uEKOAs6fUZVgMML_kwyv2hLva6TjHK6FneV-Gu62_dzeYN3dLLFV4xLk3o7jpNGWgr2s78LIXgrZ3totuJQpEBfmiEdNnpyvLUye1U8f6sRqYBm46cr_ZP6o/s640/DSC_0922.JPG" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Aurora dá um 'quixixão' à Isaura nas Termas de São Pedro do Sul Foto: A Família Numerosa</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">Uma das maiores estupidezes que me passou pela cabeça quando, há pouco mais de um ano, soube que estava grávida foi que a Aurora odiaria este bebé, porque a sua vinda lhe viria roubar a mãe, o colo e o mimo que era todo seu por direito, durante muitos e bons anos.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
No auge do meu pânico e delírio imaginei a nossa vida toda em pantanas, do avesso e também de pernas para o ar, por causa deste anjo, cujo único pecado foi chegar-nos de surpresa e sem aviso (como chegam a maioria das coisas boas, aliás...)</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Mas, na altura, senti o chão a fugir-me debaixo dos pés. E dramatizei. Muito. </div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Na bola de cristal do futuro a seis, vi filhos traumatizados pela confusão e a refugiarem-se, mais tarde, na adolescência, nas drogas e más companhias. Vaticinei misérias várias, como desemprego, filhos escanzelados e cheios de fome (e ranhosos também), e montanhas de contas em atraso por pagar. Suei as estopinhas a visualizar o meu corpo (de top model aahahah) todo disforme e rebentado com esta quarta gravidez e ainda previ meu casamento destruído por causa deste bebé-milagre.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Depois houve um momento de epifania, a estalada que alguém precisava de me dar para eu sair daquele transe maléfico (que, só quem teve a vida baralhada de um momento para o outro, pode entender o quão paralisante pode ser este turbilhão). <span style="line-height: 19.3199996948242px;">Há neste livro aberto, nesta história interminável, uma pessoa anónima, que teve uma intervenção central e quase divina na minha, melhor: na nossa vida.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Vi-a uma única vez, e ela obrigou-me a gravar o seu número de telefone, acaso eu vacilasse de novo para dentro do vórtice de loucura.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Não mais a contactei. Temo até que, se a vir na rua, não a reconhecerei. </div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">No dia em que a Isaura nasceu, e apenas nesse dia e nunca mais, enviei-lhe uma mensagem a agradecer-lhe tudo o que fez por nós. Ela respondeu a dizer que se lembra muito da conversa que tivemos, combinada pelo destino.</span><span style="line-height: 19.3199996948242px;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">Pois bem, eu todos os dias me lembro dela.</span></div>
<br />
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Ela não fez nada de especial. Simplesmente apareceu no momento certo e no sítio certo. Ouviu-me, calada, a mil lamúrios, a um quinhão sem fim de preocupações.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Eu sempre guiei a minha vida por sinais, como quem vê o Norte num céu estrelado, em pistas espalhadas por Deus (ou pelo destino). Tenho esta pessoa, a sua aparição do nada, numa improvável sequência de acontecimentos, como a da queda de um anjo na minha vida.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
(e foi a segunda vez que isto me aconteceu, mas eu casei com o anjo, que posso garantir que tem sexo, porque já fez três filhos!!!)</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Ela também falou, para além de ouvir com uma paciência infinita: disse-me duas ou três coisas certeiras que eu precisava de escutar para me (re)organizar.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
E, se calhar, tinha que as ouvir de um estranho para acreditar que era possível criar quatro filhos, dois dos quais seguidos, sem comprometer a felicidade da nossa família, bem pelo contrário: amplificando-a ainda mais, levando-a aos quatro cantos, como o estou para aqui a fazer com a ajuda das minhas amigas palavras.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
(eu, que sempre dependi da bondade dos estranhos, como a Scarlett).</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Uma das coisas que eu precisava de ouvir era esta: 'Elas vão ser as melhores amigas, você nem imagina como elas vão ser amigas.'</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-top: 6px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">Tenho o meu coração cheio de gratidão pelas dádivas que já me foram dadas de bandeja na vida. Pelos meus Anjos da Guarda.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-top: 6px;">
*Post repescado no <a href="http://www.facebook.com/afamilianumerosa">Facebook d'A Família Numerosa</a></div>
</div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-16100193764725430682015-07-12T12:38:00.002+01:002015-07-12T12:38:29.602+01:00O berço (de ouro) e os lençóis (mágicos)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzadMhH2kfoiiTZHN-Kjs9pp7VpJsXUqZDRHOd5NWLc0FxbkrO1NnWJ9jHssj_y1HCB3nFgtRS9ygIeN5DL6ACEljU1B9rWWrYExVOPO4ZjhaS-qtVcRj-_LnGFGqBrEIeCAL2HGukwSPe/s1600/WP_20150712_003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzadMhH2kfoiiTZHN-Kjs9pp7VpJsXUqZDRHOd5NWLc0FxbkrO1NnWJ9jHssj_y1HCB3nFgtRS9ygIeN5DL6ACEljU1B9rWWrYExVOPO4ZjhaS-qtVcRj-_LnGFGqBrEIeCAL2HGukwSPe/s640/WP_20150712_003.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Bambi chegou ao sítio onde era esperado. Parece de propósito, mas não foi.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">Mais uma vez as voltas, melhor, as piruetas acrobáticas que a vida dá. Os caminhos que andam separados, se calhar lado-a-lado mas sem nunca se cruzarem, até que, a certa altura, chegam ao mesmo tempo ao xis do mapa do tesouro, o local onde sempre foram esperados.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Os lençóis velhos de bebé vieram de férias para a casa de campo. Fizeram 300 quilómetros à boleia de uma carrinha de sete lugares com um problema de sobreaquecimento do motor par<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">a, por milagre, se virem emparelhar-se com o berço achado no Olx.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px; text-align: justify;">
Fomos em procissão, num dia muito quente de Verão, buscar o berço para a menina Isaura, andava ela às voltas no meu ventre, pequenina, e andámos também nós em ésses à procura de uma quinta sublime, barricada por um bairro social às portas de Lisboa.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
A empregada / caseira recebeu três notas de vinte euros e deixou um lamúrio sentido na passagem de testemunho daquela peça de mobiliário, há muito esquecida no sótão: 'Criei todos os netos da senhora nesta cama... Eles já são crescidos, andam a acabar os estudos, e depois devem querer coisas novas..."</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Depois do queixume, a empregada / caseira deu a sua bênção de aprovação: "Deus abençoe a vossa menina!"</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Esta é a história de como o berço dos oito netos da senhora veio embalar os sonhos da Isaura. E como, cumprindo o seu destino, veio encontrar, numa quinta às portas de São Pedro do Sul, uns lençóis velhos que sempre lhe estiveram destinados.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
A bênção resultou.</div>
</div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-64243507936359833902015-07-08T13:21:00.002+01:002015-07-08T13:21:20.852+01:00David Clifford<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7RNug1JmZsx2B_6MP9-CFxNch9kbpfMk7H-juwVEJactXtKMkdUnls6FVVpHrcixkIE5-yCrj6l8GvOskAWuKq7QMj2t2kjNfyk-w8wUbCUguv8OU9wXdFYgFbh9v81SL0vTi-6opYKtK/s1600/10341486_10205972674409509_3635734449496351933_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="406" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7RNug1JmZsx2B_6MP9-CFxNch9kbpfMk7H-juwVEJactXtKMkdUnls6FVVpHrcixkIE5-yCrj6l8GvOskAWuKq7QMj2t2kjNfyk-w8wUbCUguv8OU9wXdFYgFbh9v81SL0vTi-6opYKtK/s640/10341486_10205972674409509_3635734449496351933_n.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A última foto publicada pelo meu amigo David Clifford. Um dia de chuva não mata a Primavera</td></tr>
</tbody></table>
<br /><div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O tema é batido, é recorrente neste diário de bordo d’A
Família Numerosa: volto uma e outra vez, tantas quanto forem necessárias, até
já perder a conta, para falar do ofício da felicidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dá tanto trabalho ser
feliz. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Gostava de conseguir desenhar num mapa, ou pelo menos num
rascunho, todo o caminho que tive que percorrer para aqui chegar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por vezes tento aceder a partes já muito longínquas da
memória para escrever numa cábula encriptada, à prova de todo o esquecimento,
todas as peripécias em que me meti, todos os atalhos que encontrei, todos os
buracos onde me enfiei e me esfolei forte e feio, todas as escapatórias impossíveis
que planeei, em desespero, e que, por acaso, tiveram sucesso. Até agora tiveram
sucesso. Tanta sorte. Tanta audácia, que anda sempre ao lado da sorte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Gostava de conseguir fazer um desenho. Com cores garridas.
Da minha pequenina Odisseia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E neste processo de andar sempre em fuga, a recusar o
caminho mais fácil, mas por vezes sem conseguir resistir-lhe, neste turbilhão
de urgência e falta de fôlego, à procura do destino que era o meu por direito,
mas cuja porta de entrada triunfal eu não conseguia encontrar, eu queria nunca
esquecer todas as ajudas que eu tive para aqui chegar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Algumas, muitas vezes, quando tudo me parecia perdido, eu
fui sempre salva. Às vezes, à última da hora, quando estava por um fio. Outras,
lentamente, com paciência. Umas vezes foi pelos amigos de sempre, aqueles,
poucos, que ficarão até à velhice. Outras, foi por amigos improváveis, efémeros,
mas eternos, personagens aparentemente secudárias e que, no entanto, mudaram o
curso dos acontecimentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Este blog é luz pura, branca, morna: é tudo o que eu nunca
supus que pudesse ser possível para esta vida. Mas como em todas as histórias que nos prendem desde o
início até ao fim, para cada herói há um vilão. Do outro lado da felicidade
está a tristeza. A escuridão é a luz virada do avesso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não há como fugir; esta é uma lei tão velha como o mundo. É
por causa dela que o mundo não pára de girar. Lado a lado com este blog tão
feliz está um outro, tão triste e negro. Esse diário dos dias tristes é, na
verdade, a ponte de cordas sobre o precipício que eu atravessei, insensata e
cheia de fé, até aqui, a este lugar tão alto, onde vejo tudo e sinto tudo à flor
da pele, com vista sob o paraíso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje, aqui neste texto para memória futura, faço a fusão dos
meus dois diários. Hoje não estou feliz, estou devastada, continuo destroçada pela notícia que me chegou há duas semanas e dois dias, pelo telefone. Mas escolho este blog cheio de luz para fazer o meu luto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Estás a conduzir? Pára o carro e liga-me.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quatro piscas, encostada à paragem do 44 na Avenida Rio de
Janeiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“O David morreu.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O meu amigo David Clifford morreu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Este blog é luz, e o outro é a ausência dela. É, quanto
muito, o diário de bordo da aventura à procura da felicidade, com uma miragem, com
um vislumbre de claridade de vez em quando, como uma estrela do Norte, que
consegue furar uma noite carregada de nuvens.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje este blog cheio de luz veste-se de preto por um
instante para vos contar a história de um personagem incrível da história da
minha vida, um homem bondoso, um ser humano extraordinário, inesquecível, que
detonou uma bomba na vida de tantos que lhe queriam bem, que o queriam tanto,
com a sua inesperada partida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se eu conseguisse desenhar um mapa, se ao menos eu
conseguisse parir um gatafunho qualquer que vos ilustrasse como este homem me empurrou
quase à força para o trilho certo desta maratona. E fê-lo a cantar. Fê-lo a
cantar ao meu lado. A cantar comigo. Fê-lo muitas vezes em inglês, a língua em
que fica sempre tudo bem, em que se evitam equívocos e mal-entendidos. A língua
que esconde menos que aquela em que tento explicar como me dói que a história
continue e que ele não volte mais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É tão raro encontrar a nossa voz-metade algures nesta vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tive uns ameaços antes. E uns falso-alarme depois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas o David era a minha voz-metade. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se eu fechar os olhos –
agarro-me a este truque várias vezes ao dia – consigo ouvi-lo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E se eu conseguisse rebobinar todos os momentos em que senti
o coração a explodir de felicidade, tipo bomba-relógio, se os passasse em <i>fast forward</i>, gostava de me demorar e de
mostrar a todo o mundo, aquele em que, um dia, cantámos uma grande canção juntos,
e acabámos os últimos compassos abraçados, como que agradecendo a eternidade
daquele momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu sempre guiei a minha vida por sinais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pode ser loucura pura, podem ser sinapses aleatórias,
infundadas em evidências científicas, clarões, tempestades na minha cabeça, peças
de um puzzle imaginado. Mas eu sempre me dei bem com esta maneira peculiar de tomar decisões importantes para a minha vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Devia ter estado mais atenta.
Que me fique essa lição, de estar sempre atenta, de nunca me distrair. Nada mas
mesmo nada acontece por acaso e eu devia saber isso melhor do que ninguém.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A música, a <i>one hit</i>
da banda <i>pop</i> gótico, que passou na
rádio. O orgulho desmedido de ouvir a minha filha mais velha a cantar para a escola toda
com voz de anjo e dizer-lhe, no final do dueto que cantou com o amigo Bernardo:
‘Filha, tens tanta sorte de teres encontrado a tua voz-metade com onze anos. Eu
só encontrei a minha já tu tinhas nascido.’<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eras tu, David. Eras tu. Era de ti que eu falava e nem disse
à Carolina o teu nome.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A mensagem que ficou perdida e sem resposta no meio de <i>spam</i>:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
‘Liga-me. Preciso do teu insight’. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A última coisa que lhe escrevi: ‘Não se esquece nunca com
quem cantámos uma grande canção. You’re my immortal friend’.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não te esqueço, David Clifford. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Essa é a minha promessa. E
fica por escrito. You’re my imortal friend. Fica em inglês também. Como tu gostavas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Perdoa-me. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vou continuar a trabalhar sem parar, sem desculpas, para nunca me desviar para
o caminho que, sem a tua ajuda, não teria encontrado. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tu és personagem principal de muitas vidas. Se alguém, com mais jeito que eu para o desenho, conseguisse fazer um mapa, veríamos como está tudo ligado, como conseguiste entrelaçar tantas coisas que estavam emaranhadas com nós cego, que ninguém tinha pachorra para desatar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Talvez tenha sido essa a tua missão, talvez seja esse o teu legado. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pelo caminho deslumbraste tudo, com o teu génio e com o teu trato irrepetível e único. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que bênção ter podido cantar contigo. Que bênção ter-te sempre na minha vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Podem conhecer o trabalho fotográfico do David Cliffford.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.flickr.com/people/roadwarrior/">Aqui</a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://instagram.com/dkoder/">Aqui</a> </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dentro em breve regressarei com mais novidades sobre o merecido tributo ao génio do meu amigo David.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3998216239790103452.post-90536547995029840642015-06-05T12:43:00.004+01:002015-06-05T12:45:49.141+01:00Só me arrependo dos filhos que não vou poder ter*<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI3YXz41ARTnqyDDvgB5N2HTK6-DAIK9qhJP4qnT5IpBKQluJQw20HAucXNvMdCd25DMpjwFN8p9cq8vZvUFwVtrOPSUKldMUPv_sk4ZE63YNDiChJfBqtCyanjsfqW_beQcl6ZKRpngcV/s1600/10498347_10205848477784671_7828473616798499835_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI3YXz41ARTnqyDDvgB5N2HTK6-DAIK9qhJP4qnT5IpBKQluJQw20HAucXNvMdCd25DMpjwFN8p9cq8vZvUFwVtrOPSUKldMUPv_sk4ZE63YNDiChJfBqtCyanjsfqW_beQcl6ZKRpngcV/s640/10498347_10205848477784671_7828473616798499835_o.jpg" width="358" /></a></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTrmW2RpbTPGlq2M5Q2wWfWL4mZdVTKIIXx7L1LejKTiS6l-IgEZRz_eOmLE-49F5AqjYe6Zv-A91A9y5dKoNl675fg3zwzcuhProhqqMGnexH9MVy_atxt23Be_RutPAt7_NqqhHSGySF/s1600/11134105_10205848508665443_6794018888748777347_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTrmW2RpbTPGlq2M5Q2wWfWL4mZdVTKIIXx7L1LejKTiS6l-IgEZRz_eOmLE-49F5AqjYe6Zv-A91A9y5dKoNl675fg3zwzcuhProhqqMGnexH9MVy_atxt23Be_RutPAt7_NqqhHSGySF/s640/11134105_10205848508665443_6794018888748777347_o.jpg" width="358" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Antes e Depois. <br />
A Fada dos Dentes e o aumento do custo de vida: cada dente uma nota de 5 euros. Sem recibo.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
A Família Numerosa fez de mim uma Nadia Comaneci da ginástica orçamental, apesar do meu generoso perímetro abdominal e de anca poderem indiciar pouca ou nenhuma mestria para a arte. Quem vê coxas não vê encargos financeiros e, acreditem ou não, eu sempre sonhei ser como a Nadia. Venha de lá então a medalha Olímpica, o registo perfeito inscrito em todos os cartões: 10.0</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os meus filhos não reparam neste treino de alta competição diário e nem mesmo os mais velhos, que ainda viveram com vacas bem gorduchas e que, ao contrário de mim, são barras a Matemática, percebem que os pais passam a vida a fazer muitas contas à vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
E nunca são contas de somar ou as complexas multiplicações; são sempre ábacos com subtrações e muitas divisões. Mas, mesmo com o resto zero na conta, nunca passamos aos negativos. Nada mau.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi nessa qualidade, de mãe-galinha poupadinha, que ontem tive um encontro imediato com uma alma desalentada. Apetece-me até benzer-me ao recordar o episódio. Mas há-de haver, no final da história, um ensinamento, uma lição a reter. Em tudo há e, geralmente, até mais nas coisas desagradáveis do que naquelas que nos correm de feição.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Corria eu os varões de uma bendita loja de roupa em segunda mão, de onde sou <i>habitué </i>com cartão de fidelização e enorme capital de simpatia pelo enquadramento familiar insólito para os dias que correm, à procura de roupa de praia e de ginástica para a pré-adolescente a quem já empresto <i>soutiens</i>, enquanto o trio dos mais novos jogava às escondidas entre os charriots carregados de roupas de mil cores, feitios, tamanhos e marcas. A Isaura alinhava, era atirada do ovo para um lado e para o outro - a confusão habitual: chegámos e arrasámos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De repente, a mulher, nos seus cinquenta, benzoca, aprumada, excelente genética ou gentil passagem das folhas do calendário na carcaça, porém, tal como eu, a vasculhar na promoção das duas peças a cinco euros, atirou: 'São três, é?' </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E eu a preparar a resposta-bomba com o sorrisinho cínico a pôr a descoberto o meu canino afiado : 'Não, são quatro. Falta a mais velha, para quem estou à procura de roupa para a colónia de férias, porque deu um pulo e nada lhe serve'. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E eis que se segue aquilo que quase nunca acontece : 'Eu também tenho quatro...' Mas logo a seguir novo <i>twist </i>(guarda o canino no sítio dele e ampara rapidamente o queixo para ele não cair ao chão): '.... e se soubesse o que sei hoje não os teria tido!'</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tirei os olhos dos cabides para a fitar, para lhe ver bem o rosto. Acho que não cheguei a esfregá-los para aclarar a visão, mas à minha frente não estava uma bruxa com verrigas e nariz afilado. Estava uma pessoa normal, um bocado <i>madame</i>, um bocado dondoca no cenário errado, mas tinha até um ar simpático, afável, parecia até que a vida tinha sido generosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Começou o chorrilho do trabalho que eles dão, do quão mal agradecidos serão por tudo o que fizemos por eles, que depois estudam, vão para a faculdade e o país não lhes dá oportunidades, emigram, e lá fora também não há emprego, que é só chatices, preocupações, a páginas tantas desliguei e tentei imaginar-me a sentir todo aquele amargor.</div>
<div style="text-align: justify;">
E não consegui. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tentei imaginar: o que pode ter acontecido a esta mulher para ter o descaramento de me atirar uma coisa assim tão desgradável à cara?</div>
<div style="text-align: justify;">
E não consegui.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tentei rebater todo aquele desamor, todo aquele desencanto, mas não valia a pena. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não digo que a senhora fosse um caso perdido, mas o meu renovado eu não perde um segundinho da sua preciosa existência a teimar com quem tem verdades absolutas, quem diz que tudo viu, que tudo sabe. </div>
<div style="text-align: justify;">
O meu alarme de más energias soou mudo mas bem alto, como só um apito de ultrassons pode incomodar um cão, mas antes de fugir dali, com uns calções catitas da Puma a preço de contrafacção da feira debaixo do braço, disse-lhe: 'Desejo-lhe o melhor. Mas eu só me arrependo dos filhos que não vou poder ter."<br />
<br />
*Quando estava grávida da Aurora, o meu terceiro filho, um pai de quatro, o meu querido amigo António Granado, hoje avô, disse-me para não ter medo da empreitada que ali estava à beira de começar. Disse-me, e eu nunca me esqueci ou vou esquecer desta frase: 'Eu só me arrependo dos filhos que não tive".</div>
Diahttp://www.blogger.com/profile/17648462791045818444noreply@blogger.com5