Junho de 2013 - Aurora recém-nascida e António com as suas caretas e dentes partidos (Foto: A Família Numerosa) |
"What's in a name? That which we call a rose
By any other name would smell as sweet"
Romeu e Julieta (II, ii, 1-2) William Shakeare
Cada gravidez é uma gravidez, mas tirando a parte da supresa e do pânico iniciais, das náuseas e vómitos fora de controlo até às 16 semanas de gestação, e de pairar sempre uma sombra de um risco para a minha saúde mas, sobretudo, para a vida desta criança que tomou de empréstimo o meu corpo para dele fazer a sua primeira morada, não há como negá-lo: é a quarta vez que que passo por este turbilhão de brutais mudanças que andam num vai-vém e à velocidade da luz; são quatro vezes que passo nove meses guiados por luas e marés; são quarenta semanas (mais duas menos duas) vezes quatro.
Been there. Done that. (Este é um post bilingue)
Não é bonito de se admitir, mas não há novidades nas incontáveis sensações que podem encontrar-se descritas em qualquer exemplar dos milhões impressos d' O que se espera quando se está à espera (é a quarta vez que o leio com a avidez e a quarta vez que está à minha cabeceira, como uma Bíblia).
Trato por tu todos os desconfortos e inchaços variados com que vou tendo que lidar (o pior deles é o do nariz Savimbiano lá para o final do mês nove); conheço tim tim por tim tim diversas dores, como as lombares, azia, ciática, e as temidas contracções uterinas (que na primeira gravidez me tombaram numa cama às 24 semanas); reconheço ao mínimo sinal os super-poderes que me são atribuídos nos nove meses em que a Natureza me concede a dádiva de gerar uma vida - não tentem jamais um homem desesperado (continuo muito shakespeariana) e não se metam, muito menos, com uma mulher grávida, que é um ser assustadoramente sobrenatural -; e não me surpreendo com a intuição acutilante e certeira com que vou tomando decisões e gerindo o equilíbrio desta minha família (numerosa).
A (ben)vinda desta menina vem desequilibrar a dinâmica de género lá por casa. Até agora tínhamos filhos com géneros interpolados e geometricamente calendarizados de cinco em cinco anos: menina-menino-menina.Sabíamos que havia apenas duas hipóteses em cima da mesa, e com a mesmíssima probabilidade de poderem vir a acontecer: ou vinha o equilíbrio dos dois casalinhos de filhos pirosos, ou o mundo era mesmo das mulheres e a começar pela nossa casa.
Confirmado que não vou ter que mexer no post "E agora tu, filha', há uma carga logística mais leve pela frente - as roupinhas da Aurora estão há poucos meses lavadas, passadas e dobradas, com saquinhos de alfazema ainda fresca, em caixas de plástico bem fechadas, arrumadas na tulha do topo do roupeiro do quarto -, há a certeza também de que iremos gastar muito mais dinheiro nas próximas décadas, porque eu não vou resistir às piroseiras de vestidos, folhinhos, rendinhas, lacinhos e à tentação de vestir as mais novas de igual. Até aqui tudo bem, sem surpresas. O único problema que temos pela frente é a missão quase impossível e de gigantesca responsabilidade de escolher o nome da nossa terceira menina, do nosso quarto filho.
Não está fácil, não é mesmo nada fácil, e é uma enorme e rebuscada tarefa aquela que vamos ter pela frente, com cuidado para o cosmos se alinhar e nos revelar, em jeito de epifania, o nome próprio perfeito e a conjugação melódica com a carrada de apelidos que acoplamos sempre aos nossos filhos em memória dos seus avós.
Quando eu gosto o pai não gosta (Rosa é um nome tão bonito, porquê????); quando o pai gosta eu torço o nariz (por mais doce que seja Ângela há aquela malvada alemã fada madrasta de todos os portugueses). Quando a Carolina dá a sua opinião de primogénita eu imagino-me a viver na margem sul (Nicole não me convence de todo, lamento querida!). E quando o António, que recebeu a notícia da confirmação do sexo da irmã e ao mesmo tempo o jogo Spiderman III para a PSP com um sonoro e sentido 'Adoro Meninas!', me bate à porta do quarto, atirando o invulgar nome de Anaís ( sem eu - juro - o ter iniciado na literatura erótica), ponho-me a imaginar de sobrolho franzido a maldade dos colegas da escola e do liceu a chamarem-na de "Anais", ou mesmo da minha vizinha Anália, que o meu pai, gozão que era, passou a vida a chamar de Orália.
Na demanda shakespeariana do what's in a name descobri este blog delicioso: http://nomesportugueses.blogspot.pt/
E, de repente, tenho um post it rabiscado cheio de possibilidades e nenhuma certeza: Oriana, Anaís, Clarice, Paloma, Luzia, Lúcia, Amélia (que o pai não gosta mas eu insisto, desistindo do Rosa), Serena, Agnes, Lucinda, Melissa, Camila (e o pai a dizer que depois a chamam de 'Camela'), Ema, Cândida (e eu a tentar esquecer que é nome de fungo), Isabela, Violeta, Míriam, Carmo, Celeste, Dulce, Emília (e o Sítio do Picapau Amarelo), Glória, Hortense, Jacinta....
Que se marque o concílio para que seja revelado, com graça, delicadeza e suplèsse divina, o nome da querida Infanta.
(A Aurora tem o nome mais lindo - podem tirar-lhe o epíteto de filha mais nova, mas não lhe podem tirar isso)