'Nove meses e ainda mama?' 40 graus de febre e o melhor remédio sempre pronto. FOTO: A Família Numerosa |
O senhor Murphy, todos nós o conhecemos de ginjeira: ele
anda sempre à espreita, ao virar da esquina, sorrateiro, coladinho ao nosso
ombro, praticamente invisível e, no entanto, sempre preparado para fazer uma
entrada triunfal e espalhafatosa, coisa digna de registo para a posteridade.
Verdade verdadinha é que o talentoso senhor Murphy vive para
nos tirar o tapete por debaixo dos pezitos, sem aviso ou contemplações. E mesmo
que tenhamos esbarrado com ele vezes sem conta, em encontros indesejados e
forçados por uma estranha atracção cósmica, continuamos a ter a mesma reacção
de surpresa e espanto: ‘Senhor Murphy, por aqui?”
Diz a lei do dito senhor que: “Qualquer coisa que possa
correr mal correrá mal, no pior momento possível.”
Pois é.
A grande pergunta é: Como é que – mais uma vez – eu não o vi,
ou ouvi a chegar?
Estava a escassas horas de regressar ao trabalho, depois de
mais uma deliciosa pausa de maternidade – esta sim, a mais velha profissão do
mundo, e unanimemente considerado o melhor posto de trabalhos forçados da Humanidade
–, e o Senhor Murphy escancara-me a porta, e deita-se no berço, ao lado da
querida bebé Isaura. Três dias de febre sem explicação, um coração de mãe
estilhaçado, por largar a cria doente em casa, aos cuidados de seu pai
(coitado, que já tinha os outros três a cargo enquanto as aulas nunca mais
começam), e adiando o fatídico primeiro dia na creche em uma semana. Foi o
resultado da visitinha de ‘médico’ do meu grande amigo Murphy.
As manas, um pai sem cabeça, e uma patinha da gata Farrusca. Foto: Mónica Leitão |
Depois, o regresso ao trabalho. Ao mundo corporate. Aos novos desafios e aos
clientes de sempre (que já fazem parte de quem eu sou). Os braços abertos dos
meus colegas, dos meus chefes, as gargalhadas, o colo e o mimo com que me
receberam neste regressam à loucura dos dias que voam, entre telefonemas,
jornalistas, press releases,
reuniões, propostas, press kits e conferências
de imprensa.
Tocar muitos instrumentos ao mesmo tempo, fazer piscinas sem
parar e sem perder o fôlego, dentro de um vórtice, de uma espiral hipnótica de
afazeres e deveres. Assistir ao milagre da multiplicação das horas e dos
minutos. Mudar de máscara depressa e bem, sem perder a compostura, como num
desfile de alta-costura. Encarar problemas e preocupações com um sorriso – é meio
caminho andado para encontrar o caminho para fora do labirinto. Não ter medo de
pedir ajuda, não ter vergonha de admitir o cansaço.
E ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, voltarei a
dizer: ‘Mr. Murphy, I presume…”
Texto espetacular
ResponderEliminarBom regresso. E cuidado com esse sorrateiro que virou lei.
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