Quem faz um blog fá-lo por gosto

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Livro

A Isaura ralha? Desculpa, filha, é uma tradição de família levar com essa a vida toda. Foto: A Família Numerosa

Há perguntas batidas na minha vida. E não é sequer de hoje. Tudo começou com o insólito apelido que trago no meu gigantesco nome, karma que também passei para os meus queridos filhos como uma cruz que é ao mesmo tempo um amuleto da sorte:
'E a menina ralha muito?' 'Não, geralmente sou um amor de pessoa... Só quando me perguntam isso é que me costumo passar da cabeça!', respondo eu com os olhos muito abertos, à beira de uma psicose induzida por uma pergunta que me persegue desde que me lembro de ser gente.

As pessoas não fazem por  mal, eu sei que não, é como o manual de procedimentos do empregado de café com aquelas do copo de água ou copo com água. E às vezes é até divertido. Há, por exemplo, a desconcertante resposta 'Não, é o quarto...' à inocente questão 'É o primeiro?'


Aí já sou mais condescendente e doce, acrescento até, com pena do ar de surpresa e pânico do meu interlocutor: 'Mas olhe, deixe-me que lhe diga que o quarto e último filho lembra muito o primeiro'.

A terceira pergunta mais recorrente da minha vida é: "E quando é que escreves um livro?"
Recentemente, com este blogue, aticei as feras, dizem-me, impacientes: "É desta que escreves um livro?" Não sei o que responder, como justificar esta preguiça, mas nunca me achei capaz de tamanha empreitada, nunca me propus também porque, se depois de quatro filhos, de algumas magnólias e cameleiras plantadas, se eu escrevo o livro o que é que depois me falta fazer?

Mais do que um exercício de transcendência, de como afinal é possível a felicidade produzir linhas direitinhas, cheias de alegria, de luz, este blogue tem uma única pretensão: fixar o momento para todo o sempre, deixá-lo sempre em suspenso, não é passado, não é presente, nem futuro; é uma espécie de coisa imaginada para o qual não foi criada ainda a palavra. Esta é a vida barulhenta, desarrumada, frenética e tão bonita que estamos a viver. Fora das palavras, dentro delas e também através delas. A vida que eu nem sabia, que eu nunca supus que pudesse ter.

E talvez, de certa forma, este blogue seja mais do que um livro. Ele é o registo da nossa história interminável.

Aqui, a minha querida Isaura, depois de meio ano neste mundo.




Mãe, ainda assim, vai lá preencher o meu livro do bebé, que ainda nada escreveste e eu já fiz imensas coisas nestes seis meses




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