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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Mr. Murphy, I presume... Breve relato de uma mãe sugada por um vórtice


'Nove meses e ainda mama?' 40 graus de febre e o melhor remédio sempre pronto. FOTO: A Família Numerosa

O senhor Murphy, todos nós o conhecemos de ginjeira: ele anda sempre à espreita, ao virar da esquina, sorrateiro, coladinho ao nosso ombro, praticamente invisível e, no entanto, sempre preparado para fazer uma entrada triunfal e espalhafatosa, coisa digna de registo para a posteridade.

Verdade verdadinha é que o talentoso senhor Murphy vive para nos tirar o tapete por debaixo dos pezitos, sem aviso ou contemplações. E mesmo que tenhamos esbarrado com ele vezes sem conta, em encontros indesejados e forçados por uma estranha atracção cósmica, continuamos a ter a mesma reacção de surpresa e espanto: ‘Senhor Murphy, por aqui?”

Diz a lei do dito senhor que: “Qualquer coisa que possa correr mal correrá mal, no pior momento possível.”

Pois é.
A grande pergunta é: Como é que – mais uma vez – eu não o vi, ou ouvi a chegar?

Estava a escassas horas de regressar ao trabalho, depois de mais uma deliciosa pausa de maternidade – esta sim, a mais velha profissão do mundo, e unanimemente considerado o melhor posto de trabalhos forçados da Humanidade –, e o Senhor Murphy escancara-me a porta, e deita-se no berço, ao lado da querida bebé Isaura. Três dias de febre sem explicação, um coração de mãe estilhaçado, por largar a cria doente em casa, aos cuidados de seu pai (coitado, que já tinha os outros três a cargo enquanto as aulas nunca mais começam), e adiando o fatídico primeiro dia na creche em uma semana. Foi o resultado da visitinha de ‘médico’ do meu grande amigo Murphy.

As manas, um pai sem cabeça, e uma patinha da gata Farrusca. Foto: Mónica Leitão

Depois, o regresso ao trabalho. Ao mundo corporate. Aos novos desafios e aos clientes de sempre (que já fazem parte de quem eu sou). Os braços abertos dos meus colegas, dos meus chefes, as gargalhadas, o colo e o mimo com que me receberam neste regressam à loucura dos dias que voam, entre telefonemas, jornalistas, press releases, reuniões, propostas, press kits e conferências de imprensa.

Tocar muitos instrumentos ao mesmo tempo, fazer piscinas sem parar e sem perder o fôlego, dentro de um vórtice, de uma espiral hipnótica de afazeres e deveres. Assistir ao milagre da multiplicação das horas e dos minutos. Mudar de máscara depressa e bem, sem perder a compostura, como num desfile de alta-costura. Encarar problemas e preocupações com um sorriso – é meio caminho andado para encontrar o caminho para fora do labirinto. Não ter medo de pedir ajuda, não ter vergonha de admitir o cansaço.

E ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, voltarei a dizer: ‘Mr. Murphy, I presume…”



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