Hoje é dia de festa e só tenho direito a uma foto manhosa, de esguelha, e ainda por cima despenteada? FOTO: A Família Numerosa. |
Zázá,
Rebobino
365 dias, e ando aqui às voltas, um pouco perdida, um pouco zonza, numa
contabilidade absurda que não encontra meios para medir - nem tem pouco
palavras para traduzir - esta coisa mágica e relativa que é o tempo.
Estou
cansada de verdades, de certezas. Já não arrisco absolutos, filha. Disse tantos
disparates na minha vida; coro de vergonha com tanta fanfarronice.
Imagina
que, há 12 anos, quando vi a tua irmã Carolina pela primeira vez, de raspão,
estava a tua avó ao meu lado e em meu socorro sem saber para onde se virar -
para a filha ou para a neta, ambas em perigo -, e soltou-se-me o absurdo pela
boca fora: eu disse que nunca amaria um filho como aquele pequeno ser azulado,
que acabara mudar toda a minha vida, elevando-me a esse estado sobrenatural e
de consciência alterada, que é ser mãe, a toda a hora, e para todo o sempre.
Não
é verdade, bem-amada, minha querida Zázá.
É
possível amar todos, às golfadas, e na mesmíssima proporção (a tua irmã
Carolina dirá que o António é o favorito e, mais cedo ou mais tarde, também
há-de vir marrar contigo, que és pequenina e terás sempre essa aura a
perseguir-te).
Também,
tal e qual como me avisaram que aconteceria - e eu descrente, num espectáculo
de abelha-mestra com um xaile de fado, obstinada na minha certeza que o meu
palácio de cristal era afinal um castelo de cartas e que tudo se ia desmoronar
-, a tua irmã Aurora não tem cicatrizes e traumas permanentes (claro que sofreu
nas primeiras semanas) e vocês são, realmente, as melhores amigas (o meu
coração por vezes não aguenta, tenho a certeza absoluta que às vezes pára de
bater quando secretamente vos espio, na vossa cumplicidade).
Tu,
Zázá, és a bênção inesperada: és o ponto de viragem nas nossas vidas - creio
que atingi a idade adulta quando soube que vinhas, aliás, quando aceitei que
vinhas, e me rendi sem condições à evidência que não posso controlar tudo, a
toda a hora.
Hoje,
eu e o teu pai (que não é dado a estas coisas das cartas de amor públicas - mas
não duvides nunca do seu amor) sabemos da infalibilidade de todas certezas, da
fragilidade da vida e dos imperativos categóricos que trazemos entranhados no
código genético. Estamos lúcidos como nunca estivemos, com os pés bem agarrados
à terra e a cabeça sempre na lua, bem lá do alto, a vigiar os teus sonhos e os
dos teus irmãos, a sondar (em vão) perigos que estão sempre à espreita.
Hoje, eu e o teu pai somos felizes como nunca previmos.
Essa
é a lei mais universal de todas: o curso dos acontecimentos segue implacável,
de mãos dadas com o tempo, desatinados, às vezes voam outras vezes destroem
tudo e todos à sua passagem, outras vezes arrastam-se, preguiçosos, e,
ocasionalmente, acontece o extraordinário e conseguimos pará-los, abruptamente,
interrompemos a sua correria e ficamos deslumbrados com os fragmentos destes
dias felizes.
Andámos
a trilhar o difícil caminho da felicidade, Zázá. Foi isso que andámos a fazer
contigo nestes 365 dias. Parabéns, filha.
1/12/2014 -- 08h30 - Também ponho uma foto-baleia. Foto: A Família Numerosa |
[E
agora vou arrumar a culpa de estar a trabalhar neste dia, de te ter levado para
a creche, sem um bolo, de não te ter comprado um presente, e de, à hora em que
nasceste, estar fechada num carro, num monta-cargas, a caminho da garagem]
Muitos parabéns, por tudo e por mais alguma coisa <3
ResponderEliminarparabéns!
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