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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Zázá [ou o difícil ofício de ser feliz]


Hoje é dia de festa e só tenho direito a uma foto manhosa, de esguelha, e ainda por cima despenteada?
FOTO: A Família Numerosa.
Zázá,

Rebobino 365 dias, e ando aqui às voltas, um pouco perdida, um pouco zonza, numa contabilidade absurda que não encontra meios para medir - nem tem pouco  palavras para traduzir - esta coisa mágica e relativa que é o tempo.

Estou cansada de verdades, de certezas. Já não arrisco absolutos, filha. Disse tantos disparates na minha vida; coro de vergonha com tanta fanfarronice. 

Imagina que, há 12 anos, quando vi a tua irmã Carolina pela primeira vez, de raspão, estava a tua avó ao meu lado e em meu socorro sem saber para onde se virar - para a filha ou para a neta, ambas em perigo -, e soltou-se-me o absurdo pela boca fora: eu disse que nunca amaria um filho como aquele pequeno ser azulado, que acabara mudar toda a minha vida, elevando-me a esse estado sobrenatural e de consciência alterada, que é ser mãe, a toda a hora, e para todo o sempre.

Não é verdade, bem-amada, minha querida Zázá.
É possível amar todos, às golfadas, e na mesmíssima proporção (a tua irmã Carolina dirá que o António é o favorito e, mais cedo ou mais tarde, também há-de vir marrar contigo, que és pequenina e terás sempre essa aura a perseguir-te).

Também, tal e qual como me avisaram que aconteceria - e eu descrente, num espectáculo de abelha-mestra com um xaile de fado, obstinada na minha certeza que o meu palácio de cristal era afinal um castelo de cartas e que tudo se ia desmoronar -, a tua irmã Aurora não tem cicatrizes e traumas permanentes (claro que sofreu nas primeiras semanas) e vocês são, realmente, as melhores amigas (o meu coração por vezes não aguenta, tenho a certeza absoluta que às vezes pára de bater quando secretamente vos espio, na vossa cumplicidade).

Tu, Zázá, és a bênção inesperada: és o ponto de viragem nas nossas vidas - creio que atingi a idade adulta quando soube que vinhas, aliás, quando aceitei que vinhas, e me rendi sem condições à evidência que não posso controlar tudo, a toda a hora.

Hoje, eu e o teu pai (que não é dado a estas coisas das cartas de amor públicas - mas não duvides nunca do seu amor) sabemos da infalibilidade de todas certezas, da fragilidade da vida e dos imperativos categóricos que trazemos entranhados no código genético. Estamos lúcidos como nunca estivemos, com os pés bem agarrados à terra e a cabeça sempre na lua, bem lá do alto, a vigiar os teus sonhos e os dos teus irmãos, a sondar (em vão) perigos que estão sempre à espreita.

Hoje, eu e o teu pai somos felizes como nunca previmos.
Essa é a lei mais universal de todas: o curso dos acontecimentos segue implacável, de mãos dadas com o tempo, desatinados, às vezes voam outras vezes destroem tudo e todos à sua passagem, outras vezes arrastam-se, preguiçosos, e, ocasionalmente, acontece o extraordinário e conseguimos pará-los, abruptamente, interrompemos a sua correria e ficamos deslumbrados com os fragmentos destes dias felizes.

Andámos a trilhar o difícil caminho da felicidade, Zázá. Foi isso que andámos a fazer contigo nestes 365 dias. Parabéns, filha.

1/12/2014 -- 08h30 - Também ponho uma foto-baleia.
Foto: A Família Numerosa


[E agora vou arrumar a culpa de estar a trabalhar neste dia, de te ter levado para a creche, sem um bolo, de não te ter comprado um presente, e de, à hora em que nasceste, estar fechada num carro, num monta-cargas, a caminho da garagem]

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