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terça-feira, 17 de março de 2015

O Professor de Marketing -- isto não é um post comercial (mas estou babada com o convite da La Redoute)

Qual o segredo para ter uma família feliz? Andamos há muito a dizer que não há segredos ou fórmulas mágicas. Um dia de cada vez, bondade, sensatez e sermos fiéis a nós próprios. Coisas boas acontecerão. FOTO: A Família Numerosa.

Na minha primeira aula da faculdade, o adorável professor de Marketing (cujo nome não me recordo, que vergonha!) deu início às hostilidades, perguntando a cada um dos cerca de cem alunos que ali estavam alinhados cheios de sonhos e expectativas, bichos-carpinteiros e nervoso miudinho pela grande jornada que estava prestes a começar, por que raio ali estavam todos, com vista para a segunda circular, com ganas de aprender aquele ofício oculto da Publicidade e do Marketing.


Foi uma espécie de quebrar de gelo, de momento zero da vida académica depois das estúpidas praxes em que não pus os pés. Entre o terror, a timidez, a nervoseira, a gabarolice, os erros de casting e a total indiferença, um a um os companheiros daquela viagem, por enquanto perfeitos desconhecidos, mas cheios de boas intenções, simpatia e cadernos a cheirar a novo, revelaram-se o melhor que podiam ou sabiam ao responder àquela pergunta tão simples. E entre as frases feitas que o adorável professor de Marketing adorava (e usava amiúde como muletas do seu eloquente discurso aos pupilos), estava aquela de que só se tem uma tentativa para criar uma boa primeira impressão.

Alguns não tinham simplesmente o condão da oratória, outros responderam por monossílabos entredentes, um grupo de alunos foi politicamente correcto, houve naturalmente uma percentagem de lunáticos inconsequentes, coisa própria da idade, houve uns parvinhos, e dois ou três arrepiaram-nos e sacaram até palmas dos seus pares. Montou-se um circo. Ou uma feira de vaidades.

Sei que fiz uma espécie de brilharete quando chegou a minha vez, mesmo que tenha a perfeita noção, desde sempre, que sou muito melhor a escrever do que a falar, mesmo que a escrever pareça que estou a falar (confuso, não é?). Não consigo replicar o que debitei muito articuladamente, mas foi qualquer coisa assim, ou pelo menos assim o gravei efabulado na memória:

Eu fui para Publicidade e Marketing porque era o compromisso entre ter uma profissão e ser artista – e ter uma profissão era condição obrigatória para os filhos do artista boémio, que pelo seu (mau) exemplo destruiu qualquer hipótese de a sua descendência seguir as passadas de génio vagabundo do seu progenitor sem arriscar o degredo da desilusão de uma família inteira por mais um talento desperdiçado.

Fui para Publicidade e Marketing porque podia fazer uma série de outras coisas - e em todas seria boa, razoável, ou pelo menos acima da linha do sofrível –, mas escolhi a Publicidade porque gosto de fazer coisas bonitas, porque sou filha de um pintor e sei fazer bonecos, porque sonhava escrever poesia num slogan, mudar a vida de alguém com um copy bem esgalhado. Fui para Publicidade porque sou vaidosa, centrada e megalómana e é claro que fantasiava com a minha obra espalhada na rua, num outdoor que provocasse epifanias a condutores bloqueados no inferno do pára-arranca do trânsito, ou entrando em casa de todos, sem pedir licença, à hora do jantar, no bloco publicitário do telejornal ou da novela.

Fui para Publicidade e Marketing porque me atraía, sempre me atraiu, entender a psique dos consumidores naquele instante quase inconsciente que é o processo de decisão de uma compra – eu sempre quis ser mosca, entender o mundo todo a toda a hora.

Fui para Publicidade e Marketing também porque há marcas que trespassam a minha vida toda – mesmo antes de chegar à adolescência e morrer de desgosto por a minha mãe se recusar a comprar-me uns All Stars ou umas calças de ganga da Chevignon.

A La Redoute é uma dessas marcas: uma marca que entra cá em casa há quase três décadas, quando a venda por catálogo era vista com desconfiança e estava reservada a uma espécie de sociedade secreta, uma elite de destemidos que preferia arriscar uma troca ou devolução a uma procissão de lojas para a menina, para o menino, para o bebé, para a mãe, pai e avós. Nessa altura também não havia Internet e os computadores – por acaso havia um lá em casa, mas sei que éramos caso raro – tinham floppy disks e MS-DOS, pelo que compras à distância de um clique era apenas uma miragem, tipo ficção científica.

A chegada de um catálogo da LaRedoute a nossa casa era (é ainda) uma emoção descontrolada. Estranhamente, o meu avô Ralha era talvez o maior entusiasta, organizando a encomenda (creio que pagando-a também) e instigando os fervores consumistas da sua tribo e com uma especial predilecção por adquirir sapateiras para o seu roupeiro.

Sentávamo-nos à mesa redonda com o calhamaço (os primeiros catálogos para o mercado português eram pequenitos, como um teste de mercado), dobravam-se os cantinhos das páginas onde tínhamos morrido de amores por uma peça de roupa ou uma qualquer utilidade para o lar, e anotavam-se com muito cuidado as referências e preços na folha enviada para o efeito. Depois metia-se tudo no envelope RSF e vinha finalmente a espera e o crescendo de antecipação até à visita do carteiro que nunca bateu duas vezes, nem tão-pouco chegou entre as nove as dez cá no bairro de Alvalade.

Esta família era (e é) tão boa cliente da marca francesa que se instalou em Portugal, na cidade em que D. Dinis mandou plantar um pinhal, que até nos faziam chegar a casa os catálogos franceses, uma montra de produtos extraordinários e exclusivos à nossa disposição. Aí o ritual da compra incluía ver o câmbio do franco e treinar a matemática. A entrega era, naturalmente, um pouco mais demorada, mas valia a pena.

Devo à La Redoute o meu primeiro Babyliss e a loucura de uma pequenina máquina de costura que coseu grande parte dos retalhos da minha infância. O primeiro power suit que comprei, já estagiária jornalista, curiosamente a escrever sobre Publicidade e Marketing também veio do mítico catálogo. Entrevistei Luciano Benetton com ele no Chiado há tantos anos que até me dá vergonha de dizer. Há também umas sandálias que bateram muita manifestação da CGTP, quando o meu percurso de jornalista derivou para o jornalismo económico, e que morreram depois de uma greve geral algures no Chiado. E podia continuar, com a roupa de grávida, os conjuntos de recém-nascido do enxoval de cada um dos meus filhos, ou o carrinho das compras de oito rodas que galga escadas e buracos da calçada, e que a minha mãe utiliza de há uns vinte anos a esta parte…

É por isso quase comovente receber neste blogue um email da La Redoute a apresentar-me a sua nova colecção de Primavera para os miúdos. O Professor de Marketing se me visse hoje caía-lhe o queixo de espanto; soubesse ele o que eu já andei a fazer neste mundo das marcas, apesar de nunca ter feito aquele anúncio imaginado, que arrebataria todos os rugidos dos Leões em Cannes.

Somos velhas amigas, apetece-me isso à La Redoute, imaginando-lhe o sotaque parisiense: crescemos juntas, do envelope RSF para o número azul do call center, da operadora de telemarketing para a loja online, do catálogo em papel que adoro e vou sempre adorar para o prático window shopping no monitor do meu PC.

Fui para Publicidade e Marketing também por causa de marcas assim, que me lembram pessoas simpáticas, que evoluem e crescem comigo, e que sinto que vão estar sempre por aqui por este estranho mundo sempre em mudança.
Por isso, tirem o cavalinho da chuva se pensam que este é um post comercial. É o meu destino de marqueteira a cumprir-se. É um louvor público a uma marca que faz parte da história que vou contando por aqui e por ali.

Talvez seja também a minha primeira tentativa de ser um blogue de moda. Vamos ver se me safo.
Vou vestir os meus filhos de Primavera – e escolhi o dia perfeito. Talvez se opere um milagre tipo ‘dança da chuva’ ao contrário, e o astro-rei volte às nossas vidas, levando para longe o frio e a chuva.

Escolhi quatro looks da colecção da La Redoute, que até ao final do mês de Março oferece com descontos até aos 40 por cento e a preços muito simpáticos. 

Ora vejam lá se as manas quase-gémeas-com-19-meses-de-diferença, Aurora e Isaura, vão ficar de se comer, em pendant, com este conjunto intemporal de três peças (€29,99) :



A Carolina proibiu-me de comprar rendas e folhos, mas já estou a vê-la a ensaiar, no espelho da casa de banho, muitos milhares de selfies com beicinho bico de pato, com este vestido (€12,99), e em biquinhos dos pés com estas sabrinas de diva popstar (€13,99).
   

E porque o rapaz cá de casa provoca gargalhadas onde quer que vá, com a sua personalidade doce de doidivanas, a minha escolha para o António está nos antípodas das pirosas.Optei por umas vibrantes bermudas de muchacho louco (€14,99), que vou (des)combinar de forma feérica com tee-shirt de canídeo bem-posto (€7,49). Priceless!



Enquanto espero o carteiro e visualizo a sessão fotográfica que vou fazer, num relvado pontilhado de papoilas, margaças e pascoinhas (as imagens, essas privilegiadas, que nasceram em berço de ouro e valem mais do que mil palavras), vou continuar a pensar no professor de Marketing, para onde a vida ainda me há-de levar, e agradecer à La Redoute por ler este blog, por nos acarinhar e, sobretudo por ajudar a chamar a Primavera.

NR: O nome do professor era Madeira Correia. Como me pude esquecer? Dêem-me desconto (na roupa e não só): são quatro epidurais e muitos anos sem dormir as horas que devia. Obrigada, Professor!

3 comentários:

  1. Tanta boa história do Madeira Correia :D
    E parabens Dia, não fazia ideia que a seguir à Aurora já tinha chegado mas outra princesa.
    Beijinhos!

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  2. Querida Cláudia, também tu andaste na ESCS? (e por aqui te encontro???? Que maravilha!!!) Obrigada por me lembrares do nome do Professor. Dizem-me noutra janela que se reformou. Um fantástico Professor mesmo!!! PS - tu também já és numerosa, certo? :D Beijos nossos!!!!

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  3. Madeira Correia, Madeira Correia!
    Já vou atrasada.
    ehehehehe

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